Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

Modéstia à parte, não deixo o trabalho ficar meia-bomba, diz Leticia Spiller

Atriz lança livro de poesias, diz viver 'muita inspiração' e acha que filho 'vacilou' com droga

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A atriz Leticia Spiller deitada em tablado na sala de sua casa no Rio; ela usa a peça para ensaiar
A atriz Leticia Spiller deitada em tablado na sala de sua casa no Rio; ela usa a peça para ensaiar - Ricardo Borges/Folhapress

“Uma poesia diz muito da pessoa que está escrevendo, né?”, reflete Leticia Spiller sentada à mesa de sua colorida casa, em Itanhangá, no Rio de Janeiro. “Ao mesmo tempo, acredito que a escrita é uma coisa universal. Aquilo passa a não ser mais só seu. Passa a pertencer a todo mundo.”

 

 

Ela recita “um dos primeiros poemas” que fez: “Para escrever é preciso estar tomado…” —mas interrompe. “Vou pegar só o último verso, que não estou lembrando ele inteiro [risos]”, afirma, ao que emenda: “Exposto com a ferida aberta, já não é só minha a escrita então secreta”. 

 

Essa e outras 60 poesias integram o livro“Mais de Mim”, lançado na sexta (18), em SP. A obra reúne textos escritos por ela nos últimos 18 anos. “Mostra a Leticia além de só uma imagem, de uma notícia que fala superficialmente da vida da gente”, explica a atriz.

 

Há também poemas com toques de erotismo. “Que vontade de te beijar louca que eu sinto quando você me vira as costas. Você tem razão. E eu aqui, louca de tesão”, escreveu Leticia em um dos textos, que segue: “É você que eu quero na veia. Eu também não consigo dormir. Necessito calor na minha teia. Me ateia!” 

 

É uma manhã ensolarada de sexta-feira e a atriz de 44 anos sorri entre os goles de café que deixam sua xícara manchada de batom. Com bom humor, ela fala sobre assuntos como o episódio em que seu filho, Pedro, 21, fruto de seu casamento com o ator Marcello Novaes, foi detido com duas trouxinhas de maconha em uma blitz no Rio, em abril. 

 

“Eles [seu filho e as amigas que estavam no carro] de repente esqueceram aquilo lá, não se tocaram. [Ela bate palmas, como se despertasse alguém] Tem que prestar atenção nessas coisas. Acho que o cara [Pedro], né [risos], vacilou”, brinca a atriz, que também é mãe de Stella, 7, da união com o diretor de fotografia Lucas Loureiro. 

 

Ela defende que “a quantia mínima” encontrada com seu primogênito “não foi motivo para esse escarcéu”. “Ninguém estava fazendo uso [da droga]. Foi um exagero”, diz. 

 

“Não adianta ficar explicando. Não tem nem certo nem errado nessa história. Acho que há coisas muito piores circulando por aí. Por exemplo uma garrafa de bebida, que pode ser uma arma. Eu tenho um primo que morreu alcoólatra”, argumenta a atriz, que afirma não se sentir bem se tomar mais do que duas taças de vinho. “Não acho legal perder os sentidos.”

 

“O álcool está aí para quem quiser comprar. E aí? Você me confunde assim, lei. Não acho que uma erva seja tão nociva quanto uma coisa forte como o álcool”, diz a atriz. “Acho que sou mais a favor de legalizar [a maconha] do que não. Agora, essas drogas mais sintéticas eu acho muito ruins”, afirma. “Cada um tem o direito de fazer o que quiser”, defende. “A gente vive uma falsa moral.” 

 

A atriz conta ter sofrido assédio uma vez, quando estava grávida do primeiro filho. “Ele [o assediador] devia ter uns 17. E não foi só uma passadinha de mão, né? Eu falo que teve até música. Foi ‘fuén, fuén, fuén’ [ela simula um gesto de bolinação com as mãos]. Lá dentro, sabe? Catei ele na hora. Ele estava de boné, consegui pegar pela orelha. Nunca mais ele vai fazer isso [risos]. Espero que esse aí tenha aprendido a lição.”

 

Leticia começou a fazer teatro com 12 anos. Em 1989, com 16, ela entrou no programa “Xou da Xuxa”, onde foi a paquita Pituxa Pastel até 1992. “Lá [na atração] eu pude ver o que é ‘mega’ muito cedo. Por isso acho que eu nunca estou em cima do bolo ou do salto”, afirma. “Essa experiência me ensinou a ter humildade. E a ter disciplina. A gente ensaiava muito. Era trabalho, não tinha folga”, lembra a atriz.

 

Ainda assim, ela assume ter criado desculpas para conseguir escapar do grupo e apresentar suas peças. “Eu inventava que estava doente [risos]”, diverte-se. “Era paixão pelo teatro, pela arte. Um chamado.”

 

Em 1994, Leticia interpretou Babalu na novela “Quatro por Quatro”. “Agarrei aquele trabalho com unhas e dentes. Fora que a personagem era deliciosa. Eu, que já era fã de Almodóvar, pensei: ‘Cara, isso aqui é Almodóvar na TV”, diz, referindo-se ao cineasta espanhol que retrata mulheres marcantes nos filmes. Ela é contratada da Globo desde então. 

 

Entre 2001 e 2002, ela recusou convites para integrar os elencos da série “Os Maias” e da novela “O Clone” para se dedicar à peça “O Falcão e o Imperador”, em que foi diretora, produtora e atriz —e para a qual ela raspou o cabelo. 

 

“O Jayme [Monjardim, diretor de ‘O Clone’] foi à minha casa e falou que queria me chamar para participar [do folhetim], porque a Ana Paula Arósio não podia. Falei: ‘Olha pra mim, eu estou careca! Quero muito, mas agora preciso fazer essa peça’. Foi isso.”

 

“Não foi à toa. Foi importante para mim”, acrescenta a atriz, que hoje traz o desenho de um “falcão persa” no cóccix como lembrança daquele espetáculo —a tatuagem recentemente circulou a internet em fotos de um ensaio nu de Leticia veiculadas em suas  redes sociais. 

 

“Foi legal, porque veio a Giovanna [Antonelli, que fez a protagonista Jade]. Eu dei espaço para uma outra pessoa, assim como a Adriana Esteves na época não aceitou fazer a Babalu e deu espaço para mim. Acho que tudo acontece por uma razão. Nada é por acaso”, diz. “Tenho certeza que [a Globo] ficou agradecida porque surgiu uma nova artista, também muito boa.”

 

“Na época, alguns diretores ficaram chateados comigo”, lembra Leticia. “Durante um período eu não fui chamada para fazer coisas muito interessantes, sabe? Mas eu fui fazer. E acabou ficando muito interessante. Porque, modéstia à parte [risos], eu não vou deixar ficar meia-bomba. Eu quero fazer uma coisa tendo prazer em fazer aquela coisa.”

 

A atriz considera atualmente viver “um momento de muita inspiração”. “Tudo está muito à flor da pele, artisticamente falando”, diz Leticia, que integra o grupo de dança Coletivo El Camino —que se apresenta na Virada Cultural às 10h30 deste domingo (20), na praça da República. Na sexta (25), ela fará o show InFusión, no Rio, no qual canta e dança ritmos latinos. “Estou curtindo muito estar desse lado da música”, afirma a descendente de espanhóis e austríacos que há dois anos namora o músico uruguaio Pablo Vares, 28.  

 

Ela também está produzindo dois filmes para o cinema e, na TV, está escalada para o elenco do folhetim que substituirá “Segundo Sol”, na Globo. “Eu gosto de fazer coisas diferentes”, afirma. “Amo a composição. Seja ela na televisão, no cinema, no teatro, na dança. Você poder compor, pintar, como um artista. Dar cor àquilo. Isso me encanta.” 

 

O material compilado em “Mais de Mim” faz referência a familiares de Leticia e a “momentos” que ela viveu. “Mas também tem poemas mais existenciais. Questionamentos, visões. Tem uma homenagem ao Oscar Niemeyer. É um livro diversificado, tem de tudo”, explica a atriz.

 

Leticia cogita publicar um segundo volume, com “poemas mais eróticos”. “Estou reunindo. Vamos ver se tem material para um livro”, afirma. “É muito louco”, diz sobre seu processo criativo. “Às vezes eu estou no trânsito e vem [a ideia]. Aí começo a escrever. Não fico pensando: ‘Ah, agora vou escrever isso!’ A coisa vem. Se não vier, não veio. Fico meses sem escrever nada.”

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.