Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Me sinto estrangeira nos EUA e no Brasil', diz atriz brasileira de Gotham e Deadpool

Vivendo no exterior há mais de 30 anos, Morena Baccarin vai estrelar sua primeira produção brasileira

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A atriz brasileira Morena Baccarin no Rio de Janeiro
A atriz brasileira Morena Baccarin no Rio de Janeiro - Ricardo Borges/Folhapress

Nascida no Rio e vivendo nos Estados Unidos desde os sete anos de idade, Morena Baccarin, 39, já estrelou séries e filmes americanos como “Homeland”, “Gotham” e “Deadpool”. Agora, participa da sua primeira produção brasileira, a série “Sessão de Terapia” —para a qual afiou o português escutando podcasts brasileiros. 

 

“Aliás, vocês não têm muitos [podcasts, como são chamados os conteúdos em áudio distribuídos em plataformas sob demanda]. Lá [nos EUA] é uma loucura”, diz. “Tive que ficar escutando umas coisas chatíssimas de política [risos].”

 

“Eu penso em inglês. O meu vocabulário é mais forte [no idioma americano]. Sempre precisa de um ajuste para lembrar palavras, conviver com o português. Só de ouvir já ajuda.” 

 

Morena veio ao Brasil em janeiro para gravar os episódios da quarta temporada da atração dirigida por Selton Mello, que estreia na Globoplay no segundo semestre. Ela falou à coluna no Rio, na terça (5). 

 

BRASILEIRA EM HOLLYWOOD

Senti pouca resistência, mas senti. Aqui no Brasil posso fazer o papel ‘lead’ [principal] sem virar tópico de conversa. Lá, se uma brasileira ou latina faz esse papel, vira assunto. 

 

Já houve papéis que não me deram por eu ser brasileira. Porque não estavam procurando o ‘look exoctic’ [visual exótico], e sim aquela menina bem americana, loira de olhos azuis. Que não sou eu. 

 

Mas acho que tive sorte, porque quando eu me graduei [na Juilliard School, em Nova York, onde ela vive atualmente], Hollywood estava mudando. Ficou mais popular ser exótica. Hoje você vê atrizes indianas fazendo papéis normais, uma mulher no FBI. Não é mais tão estranho. 

MEIO A MEIO

Me perguntam: ‘Como é ser brasileira no exterior?’. Eu sempre falo que, na verdade, me sinto mais americana. Assimilei muito cedo, eu tinha sete anos [quando se mudou para os EUA porque seu pai, o jornalista Fernando Baccarin, foi transferido para NY]. 

 

Mas eu nunca vou ser completamente americana. Tem uma parte em que não me encaixo, em termos de comportamento, de aparência. Ainda me sinto um pouco estrangeira lá. E aqui também. Agora sou estrangeira nos dois lugares.

 

No comportamento eu sou meio americana. Mais reservada, pontual. Gosto que as coisas aconteçam na hora que têm que acontecer. Comparada com a maioria dos brasileiros, eu sou menos brasileira. 
Mas lá, para os americanos, eu sou mais amorosa, carinhosa, falo com a mão. Sinto que tenho esse calor humano, um jeitinho brasileiro que lá não rola —e que sinto falta. 

VIDA PESSOAL

Gosto de manter os meus filhos, o meu marido, a minha vida, privada. Meu look, minha roupa, isso tudo é coisa pública, que eu adoro compartilhar com os fãs, com as pessoas. Mas eu sempre reservo uma parte que é só pra mim.

 

Não sou aquela pessoa que fica atrás de atenção. A única coisa que eu peço, e já pedi várias vezes, é: “Por favor, não tirem fotos dos meus filhos”. 

 

[Em 2015, Morena se separou do seu primeiro marido, o diretor Austin Chick, pai de seu filho Julius, 5. O conturbado processo de divórcio foi exposto por sites de celebridades. Hoje ela é casada com o ator Ben McKenzie, com quem tem a filha Frances, 3.] 

 

Deixa eles falarem o que querem falar. Acho melhor ficar quieta. Eu sei o que aconteceu na minha vida, sei a verdade, e isso é o que importa. [O site TMZ já noticiou que ela paga pensão para o ex-marido]. Deixa bastante informação, porque aí ninguém sabe o que é verdade [risos].

#METOO

A mulher, em geral, já teve alguma [situação em que sofreu assédio]. É muito, muito comum. Só por ser mulher. Então é bom que isso [movimento #MeToo, que revelou acusações de assédio sexual em Hollywood] esteja na mente de todo mundo. É só o início. 

 

[Hoje] eu sinto uma diferença. Você entra no set e as pessoas já não fazem mais os comentários que faziam. Não falavam [cantadas] para um homem, por que vai falar pra mulher? 

 

O problema é o poder. Uma atriz começando a carreira se sente com menos poder do que um produtor, um diretor, uma pessoa que já tem o trabalho que você quer fazer. Várias vezes eu me senti vulnerável a esse tipo de situação. 

 

Eu tenho sorte. Fui criada muito bem pelos meus pais. E tive inteligência de saber que uma pessoa que está oferecendo um trabalho assim [com segundas intenções sexuais], não é exatamente a carreira a longo termo que eu quero ter. 

 

Eu sempre confiei no meu talento, na minha inteligência. Não caí nessa. Mas várias pessoas caíram. E digo isso não no sentido de que eu fui mais inteligente, mas de que eu confiei em mim, no meu instinto. E soube lidar com a situação. Mas tem muita gente, e eu não culpo essas pessoas, que não consegue. Que não se sente no poder de dizer não. E isso é muito ruim.

GLAMOUR

Confesso que não caio muito nesse [fetiche] de Hollywood e atores. Sigo uma vida bem tranquila, em casa, com filhos, marido. Sou bem caseira. 

 

Tive a sorte de não ter esses papéis de ‘high profile’ [de grande destaque] muito cedo. Deu tempo pra ficar mais madura e certa de quem eu sou. 

QUATRO DÉCADAS

[Ela completa 40 anos em junho] Quando eu tinha 20, achava que quando você faz 40 já sabe tudo, chegou ao fim [risos]. Mas a sensação que tenho é a de que não sei nada. Eu estou me divertindo. Cada vez mais, aprendendo, curtindo os papéis que estão rolando. 

STREAMING

[Os serviços de vídeos sob demanda] oferecem mais opções, certamente. Mas tem muito mais competição. Atores que só faziam cinema, que antes achavam que TV era abaixo deles, hoje querem fazer. E as pessoas estão consumindo televisão muito rapidamente, então tem que ter sempre mais. Isso é bom. Tem muitas histórias pra contar.

OSCAR 

Quem não quer [receber a estatueta]? Seria ótimo. Quero trabalhar muito. Ter a vida que eu tenho, poder ficar com os filhos. Poder escolher o que eu quero fazer. E curtir o momento, a vida. Passa rápido.

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