Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Etiqueta: à mesa com Rosangela Moro

Especialistas dizem o que está certo e o que está errado na mesa romântica exibida pela mulher do ministro Sergio Moro para esperar o marido para um jantar

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Em uma noite de sábado (24), a advogada Rosangela Moro, mulher do ministro Sergio Moro, da Justiça, preparava o jantar enquanto aguardava o marido chegar em casa.

 

Com tudo pronto e ainda esperando que seu cônjuge cruzasse a porta de entrada, decidiu compartilhar o momento em sua conta no Instagram.

Mesa de jantar posta pela advogada Rosangela Moro, mulher de Sergio Moro
Mesa de jantar posta pela advogada Rosangela Moro, mulher de Sergio Moro - Reprodução

“Mesa posta. Esperando o Ministro da Justiça chegar no lar! Curitiba gelada e sopinha para aquecer o corpo e coração?. Sorry feministas. Mas AMO cuidar de quem eu Amo. Eu trabalho, eu pago boletos, eu dou emprego e eu motivo, mas amo cuidar!! Bom final de semana! Beijo gelado de Curitiba”, postou.

Junto com o texto, uma foto da mesa pronta e decorada. À frente de cadeiras posicionadas uma ao lado da outra, dois jogos americanos são estendidos. 

Sobre eles, cada lugar recebe, nesta ordem, um sousplat de prata, um prato raso e outro de sopa. Deitadas sobre as louças, duas colheres são enroladas por argolas de pérolas que envolvem os guardanapos.

O post foi apagado do perfil da advogada. Mas as discussões nos comentários da publicação e a repercussão na internet já estavam estabelecidas.

Provocações à parte, a publicação gerou debates também pela disposição das louças sobre a mesa de jantar.

“Não se usa sousplat com jogo americano, sorry Rosangela”, dizia uma das seguidores da mulher de Moro. “Qualquer um com um mínimo de noção de etiqueta sabe que, ainda que o cardápio seja sopa, ninguém posiciona a colher sobre o prato, a menos que já tenha terminado a refeição”, escreveu outra. “A colher de sopa, como qualquer novo rico de meia tigela deveria saber, fica do lado direito do prato; depois vem a faca e, à esquerda, o garfo. Havendo outro prato a ser servido ou não.”

Será mesmo que estava tudo absolutamente errado? “Ela está em casa, em família, nos costumes deles. Acabou. Está feito”, diz Andrea Fasano, sócia do Buffet Fasano, em SP, e responsável por algumas das recepções mais badaladas do país. “Ficou bonito e carinhoso para ele [Moro]. Ela caprichou”, completa. O mundo está politicamente e pentelhamente correto”, diz a decoradora Alessandra Aliperti.

Ou seja, em casa, cada um faz o que quer e está valendo. Mas e se a ideia for receber alguém de fora? “Se for um jantar mais formal, em que queremos colocar a mesa de acordo com as regras, há algumas”, diz Andrea.

Fazer uma mesa demonstra carinho pelo seu convidado. E o que muda tudo é a sua vontade. Isso é que faz a diferença”, afirma Alessandra. “Você pode servir um ovo frito, mas a forma como você o apresenta muda tudo. As pessoas apreciam o que é bonito, enfeitado.”

A decoradora Paula Moroni completa: “E não precisa nem gastar! Você pode ser simples, mas fazer algo bacana sem ser cafona. Pega uma folha, corta a folha, bota para cá, bota o prato para lá”, diz ela enquanto mexe na mesa de demonstração em alta velocidade.

Tanto Paula, quanto Alessandra, ao demonstrarem como arrumar uma mesa de jantar, posicionam as cadeiras uma de frente à outra. “Lado a lado, jamais”. “É importante que as pessoas consigam conversar olhando uma para a outra”, explica Alessandra.

Paula vai além: “Às vezes, você quer encostar o pezinho no companheiro para fazer um charme, e nem isso vai conseguir”.

Andrea Fasano pensa diferente. “Não tem regra. Eu adoro sentar ao lado. Fica mais carinhoso, você pode dar a mão, abraçar, dar um beijo.” De novo: ela está falando de um jantar íntimo, a dois. “Em uma recepção formal, tem todo um cerimonial. Os casais nem se sentam juntos”, afirma.

É preciso ficar atento ao tamanho de enfeites como arranjo de flores, por exemplo. Os adornos não podem tapar a visão de quem está sentado em sua frente.

As três reforçam como os talheres devem ser dispostos sobre a mesa. Garfos ficam à esquerda do prato. Facas [viradas para a louça] e colheres —nesta ordem—, à direita. Talheres não ficam em cima do prato nem sobre o guardanapo, como fez Rosangela Moro. “Tradição europeia”, diz Paula. “É assim desde a época dos reis”, ensina Alessandra.

A mulher do ministro ainda envolveu a colher com uma argola. “Tem tantas maneiras bacanas de dobrar guardanapo. As pessoas inventam”, opina Paula Moroni. Alessandra corrobora. “O mundo foi encafonando e inventando mais coisas. Aí inventaram as tais das argolas. Imagina que você já tem, em volta do prato, duas taças, um arranjo de flores para enfeite, os talheres, o guardanapo. E ainda precisa arranjar espaço para argola”

“Ela optou por uma argolinha de pérola que alguns podem achar cafona —mas ficou carinhoso, romântico. Combinou com ela”, diz Andrea.

Ao dispor os pratos, a advogada seguiu a cartilha. O raso, que serve de base para o fundo, deve ser sempre apoiado sobre um sousplat [em francês, ‘abaixo do prato].

“O sousplat é usado quando vários pratos serão servidos em um jantar. Serve para não deixar o lugar vazio no momento da troca de um para o outro. É um adorno, uma peça bonita”, explica Andrea.

O sousplat pode ser de madeira, palha —no caso de prata ou vidro, é recomendável usar um paninho de renda sobre ele. “É para não fazer barulho quando o prato é colocado. Não é só para ficar bonitinho. Ele tem uma função”, segue a banqueteira. “Pode fazer ruído ou arranhar o sousplat. Por isso, o uso do pano é permitido”, diz Alessandra.

Paula discorda. “Nunca se usa paninho de renda. Não se usa na Europa, mas aqui o pessoal usa. Eu olho isso e penso: ‘Meu Deus do céu’.” 

Amigas de infância e vizinhas em SP, Alessandra e Paula discordam com frequência. “Quando você falar com a Paula, ela vai dizer tudo diferente”, alertou a primeira.

Por exemplo: Rosangela Moro colocou o sousplat sobre o jogo americano (e foi bombardeada nas redes por uma seguidora). “É claro que pode”, defende Paula.

Alessandra rebate. “Jogo americano com sousplat não existe. Só se você quiser emperiquitar. O sousplat serve para nunca deixar a mesa vazia. Para que você vai ter um sousplat com um jogo americano?”

Paula diz que a combinação é usada na Europa. “É moderno. Se cair alguma coisa, o jogo americano vai proteger a mesa.”

Ela faz uma ressalva sobre a mesa de Rosangela Moro: “Um jogo de renda é sofisticado. Então você precisa usar um prato liso, menos rústico”.

O jogo deve ser sempre colocado diretamente sobre a mesa. “Quem diz que ele pode ir sobre a toalha não quer lavar a toalha (risos)”, comenta Andrea Fasano. “Quem inventou isso queria vender toalha e jogo americano”, diz Alessandra.

Faltaram taças ou copos na mesa posta pela mulher de Moro: uma para água e outra para uma bebida —como vinho ou champanhe.

Alessandra demonstra como uma garrafa de vinho deve ser posicionada à mesa: dentro de um suporte ou envolta por um pequeno pano logo abaixo da tampa, para evitar o risco de a bebida escorrer.

“No caso de champanhe, você deve colocar uma bandeja, um balde com gelo, e colocar a garrafa ali dentro. Ninguém merece um champanhe quente”, acrescenta Paula.

Garrafa pet na mesa? Nem pensar! “Refrigerante vai em jarra de vidro. Pelo amor da santaaa!”, diz ela.

“Na regra da etiqueta, tudo tem um porquê. Nada é à toa. Isso é que é muito legal”, diz Alessandra Aliperti.

“Seja criativo. Dá para ser. A vontade é o que mais importa”, complementa Paula Moroni.

“Mas cuidado, né! Inventar muita coisa não é bacana. Às vezes, a imaginação extrapola. Então seja criativo, mas sem avacalhar”, aconselha ela.

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