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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Samantha Schmütz diz que papel do artista não é só entreter e que Juliana Paes 'delirou'

Aos 42 anos, atriz diz que trabalho do governo Bolsonaro na cultura é 'indigestão cultural' e se empolga ao contar sobre projeto musical que terá canções com citações de Marielle Franco a Elza Soares

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A atriz Samantha Schmütz na casa em que está alugando em Niterói, no Rio

A atriz Samantha Schmütz na casa que está alugando em Niterói, no Rio  Zô Guimarães/Folhapress

A atriz e comediante Samantha Schmütz,42, diz que está revoltada. Revoltada com colegas de profissão que não se posicionam politicamente nas redes sociais, com a situação do Brasil na pandemia da Covid-19 e, principalmente, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Nos últimos meses, ela despontou como voz antibolsonarista nas redes sociais. “O papel do artista é refletir sobre o que está acontecendo na sociedade, contestar. Não é só para entreter”, diz. “A gente precisa tanto do povo, das pessoas, do público, e agora é a hora de quem tem voz arregaçar as mangas e devolver um pouco. Isso é muito nítido para mim”, continua.

“Não faz sentido você ter que falar para uma pessoa que tem 30 milhões de seguidores: ‘Ajuda aí’. Para que ter tanta voz se você não quer falar? É só para vender produto mesmo? Não pode ser! Que alienação seletiva é essa? Esse tipo de comportamento se tornou inadmissível pra mim.”

Ela afirma que não é possível classificar como gestão o trabalho que o governo Bolsonaro faz na área cultural. “É indigestão cultural. É terrível, péssima, uma coisa triste, um retrocesso absurdo. Mas já sabia que isso ia acontecer, tanto que lá atrás eu estava nas manifestações ‘Ele Não’."

Ela conta que a morte do humorista Paulo Gustavo, seu grande amigo, por Covid, reforçou ainda mais a decisão de se engajar. “Sempre fui assim, mas depois que o Paulo morreu isso tomou uma proporção maior, fiquei mais revoltada. Tipo ‘agora não tenho mais nada a perder’. Paulo era uma joia na vida das pessoas que conviviam com ele.”

A atriz Samantha Schmütz na casa em que está alugando em Niterói, no Rio
A atriz Samantha Schmütz na casa que está alugando em Niterói, no Rio - Zô Guimarães/Folhapress

Sobre a perda do amigo, diz que a ferida ainda está aberta. “Quando quero chorar, choro, respeito esse processo. Cada lugar a que vou, eu me lembro de alguma história com ele. Tem vezes que passo por alguma foto dele e choro, e outras vezes, não. Ele vive em mim. É o que me resta”, continua.

Com 2,8 milhões de seguidores no Instagram e mais de 370 mil no Twitter, a atriz dá uma gargalhada ao ser questionada se tem medo de ser cancelada nas redes. “Só se for por Deus, né?”, diz. Ela tem recebido uma série de ataques virtuais —sua conta no Instagram chegou a ser desativada por um dia em junho. “Foram os robôs dos bolsominions. Os ‘robolsominions’”, diz, entre risos. “É engraçado. Quem está quieto, o povo deixa falar. Agora, quem quer falar, o povo quer deixar quieto.”

Em junho, ela foi apontada como alvo das críticas da também atriz Juliana Paes, que fez vídeo afirmando, sem citar nomes, que tinha sido agredida por uma colega com “palavras caluniosas” por não se posicionar. O vídeo teve mais de 11 milhões de visualizações.

Samantha conta que tudo começou quando ela enviou uma mensagem para Juliana após ver comentário da atriz elogiando um vídeo de uma jornalista que falava sobre o direito de ser isento. “Queria alertá-la, por ter respeito e carinho por ela. Eu falei: ‘Talvez, se você tivesse perdido alguém por Covid, como eu perdi o Paulo, você pudesse estar revoltada’. No fim, ela me expôs. Não queria ter uma conversa particular exposta. Mas ela acabou se expondo mais do que eu, porque falou besteira, delirou.”

“Aquele texto que ela gravou [no vídeo] foi a resposta que me deu no WhatsApp. Pegou, copiou, botou no teleprompter e leu para as pessoas. Não entendi nada”, segue. “Ela fala em polarização, mas tentou polarizar as pessoas contra mim. Reclama do discurso de ódio, mas está querendo provocar o ódio contra mim.”

Ela diz que desde então não falou mais com a atriz e que essa situação foi “muito chata”, mas reconhece que isso acabou gerando um debate interessante sobre o tema. “Realmente não quero apontar dedo para ninguém. Estou apontando o dedo, sim, para o papel do artista.”

Por outro lado, diz que foi muito gratificante o apoio que recebeu de seguidores e de pessoas que admirava. “Recebi mensagem do padre Julio Lancellotti, foi incrível. Mostra que estou no caminho certo.”

A atriz acrescenta que não tem medo que sua carreira seja prejudicada. “Se afetar [e perder algum trabalho], vai ser um livramento. Não tenho esse medo, porque não vale a pena. Não quero agradar a todo mundo, não existe isso. Quem tudo quer, tudo perde”, continua.

A atriz conversou com a coluna por chamada de vídeo direto da casa que está alugando em Niterói, no Rio de Janeiro, onde tem passado a maior parte do tempo desde o começo da epidemia. Ela diz que está vacinada contra a Covid —recebeu as duas doses do imunizante da Pfizer. Para Samantha, é “absurdo, egoísmo e burrice” a recusa para tomar a vacina, e diz que a condução da crise sanitária pelo governo Bolsonaro é “a pior impossível”.

Samantha conta que começou a treinar triathlon com ajuda da triatleta Fernanda Keller, sua amiga. “Ela sempre me botava pilha e nunca dava tempo. Como aqui é natureza, é praia, eu nado no mar e corro na rua. É a combinação perfeita.”

A atriz diz que ainda é muito seletiva com compromissos para sair de casa e que não frequenta “reuniãozinha de amigos”. Para evitar o contato com o coronavírus, evita andar de avião —tem ido de carro três vezes por semana ao Rio para gravar a nona temporada do programa de humor “Vai que Cola”, do Multishow, que deve estrear neste mês.

Para a atriz, é importante fazer humor em meio à epidemia. “O humor é um elixir, é um medicamento. É anestesiar as pessoas e levar essa adrenalina do riso, essa endorfina, que é curativa.” Ela afirma que não acha que o politicamente correto inviabiliza o humor —muito pelo contrário. “Existem coisas que não cabem mais hoje em dia. E, sabe, vai ficar nessa facilidade de fazer humorzinho que é de bullying, que atinge as pessoas, que escrotiza?”

Samantha se empolga ao contar de seus projetos musicais que serão lançados nos próximos meses. Diz que a quarentena permitiu que ela se dedicasse mais ao seu lado musical, que havia abandonado nos últimos anos por causa do “turbilhão” de sua rotina. E conta que resgatou músicas que compôs há mais de 20 anos e estavam na gaveta, sendo uma delas a canção “Índios no Asfalto”. “Ressignifiquei ela. Agora, se chama ‘Tá Tudo Errado’.”

“Estou muito animada, porque tem tudo a ver com o que quero falar. Algumas são o meu panorama sobre o Brasil de hoje, outras são canções que têm menos compromisso, mais românticas.” Ela conta que também homenageará pessoas importantes que “precisam ser citadas” nas letras —entre elas a vereadora Marielle Franco e as cantoras Elza Soares e Alcione. “Fico feliz de poder usar nomes tão fortes. Acho importante.”

Samantha diz ainda que está preparando uma música com o cantor Rincon Sapiência, outra com o músico Lúcio Maia, do Nação Zumbi, e que tem um EP com o duo Tropkillaz quase finalizado —a ideia é lançar duas faixas do trabalho neste ano e outras duas em 2022.

Aos 42 anos de idade e mais de 20 de trajetória artística, diz que não vê problemas no avançar da idade. “Minha carreira nunca foi pautada por essa coisa do exterior. Meu trabalho é muito do que vem de dentro para fora. Não voltaria a ser a Samantha de 18 anos. Sinto que estou melhor a cada ano.”

Apesar de ser muito vocal nas redes sobre questões políticas, Samantha afirma que prefere preservar a vida pessoal. Ela é casada desde 2012 com o produtor americano Michael Cannet e diz que não descarta ter filhos no futuro —mas que, hoje, sua vontade de não ser mãe é maior do que a de encarar a maternidade. “Até tenho vontade, mas não tenho coragem de ser mãe nesse mundo de hoje. Tenho medo, sou muito preocupada, ia acabar sendo superparanóica. Não ia mais ter vida depois que a criança nascesse.”

O nome de Samantha já foi aventado por usuários nas redes como alternativa para ser vice na chapa do ex-presidente Lula (PT). Mas, pelo menos por enquanto, afirma que não tem vontade de se candidatar a cargos eletivos. “Não penso nisso agora. De repente, no futuro, uma ministra da Cultura… Não sei, quem sabe”, diz, soltando mais uma gargalhada.

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