Mônica Bergamo

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Conselho de Medicina do Pará vai apurar assédio eleitoral de médico bolsonarista em parto

Obstetra nega e afirma que vídeo foi adulterado; médico já foi candidato a deputado estadual e declarou possuir 38 armas de fogo

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O Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará abriu procedimento para apurar se um médico bolsonarista cometeu assédio eleitoral e moral durante o parto de um bebê, em Belém. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ouvir uma voz que seria a do ginecologista e obstetra Allan Rendeiro fazendo propaganda pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e constrangendo os pais da criança.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Evaristo Sá - 24.out.22/AFP

"Hello, eu sou o Gael [bebê], já nasci 22 e vou votar no Bolsonaro", diz a voz que seria de Rendeiro. Na sequência, o médico afirma que vai reclamar com o hospital por terem colocado uma roupa vermelha no pai da criança. "E o doido não veio dizer que ele vai votar no Lula, e eu digo: rapaz, tu quer que eu vá já embora e nem opere ela."

A câmera, então, filma o rosto da mãe, que segue deitada na maca. "Essa aqui é a mamãe do Gael. Dia 30, ela vota?", pergunta ele. A mãe vira o rosto e ri de forma constrangida. "22. Diga que eu vou mandar pro Bolsonaro esse vídeo, ele está agora numa live", prossegue o médico. À coluna, o médico nega a conduta e diz que o vídeo foi adulterado.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina diz que "efetivará todas as medidas legais previstas na Lei nº 3.268/57 e Resoluções do Conselho Federal de Medicina, a fim de apurar o fato."

"Ressaltamos que os procedimentos no âmbito dos conselhos de medicina tramitam sob sigilo", acrescenta a nota.

O parto aconteceu no dia 20 de outubro, na Maternidade do Povo.

O site da rádio Diário FM, ligado ao Diário do Pará, foi o primeiro a publicar o vídeo. Segundo a reportagem, foi o próprio Rendeiro que postou em seu Instagram e depois apagou.

À coluna, o médico confirma que publicou o vídeo em suas redes sociais, mas diz que ele foi adulterado e que não há menções ao presidente Bolsonaro. O pai de Gael, Fábio Henrique Almeida, também afirma que o "vídeo está fora de contexto" e teve o áudio manipulado. E acrescenta que ele e a mulher não se sentiram coagidos pelo médico.

Fábio Henrique diz também que um primo, que é advogado, está entrando em contato com todos que publicaram o vídeo pedindo que retirem as imagens do ar porque, caso contrário, serão processados.

A vereadora e deputada estadual eleita Lívia Duarte (PSOL) entrou, na segunda (24), com um pedido de investigação do caso junto ao Conselho Regional de Medicina do Pará. "Apesar de banalizados, casos de abuso, assédio ou má conduta dentro da área da saúde, envolvendo profissionais ou pacientes, não deveriam ser minimizados. A banalização leva à impunidade, e a impunidade traz o sentimento de que o ato é permitido e de que não haverá consequências práticas ou palpáveis para o agressor", diz a vereadora no ofício.

À coluna, Allan Rendeiro afirma que já realizou mais de 5.000 partos em 40 anos como médico e que costuma publicar em um Instagram de acesso fechado imagens de partos e bebês para os pais das crianças. "Tem vários vídeos [publicados]. Nunca teve esse contexto [político]."

Ele diz ainda que apoia, sim, a reeleição de Bolsonaro, mas não mistura a sua atividade profissional com política. "Todo o mundo tem direito as suas escolhas e as suas preferências", diz. No Instagram, ele se define como médico comprometido com "Deus, família e boas práticas".

Rendeiro foi candidato a deputado estadual pelo partido PHS em 2018 —sigla que foi incorporada ao Podemos. Em sua declaração eleitoral, ele citou a propriedade de quase 40 armas de fogo. No perfil atribuído a ele no Twitter, Rendeiro defende Bolsonaro e a compra de armas para formar o "maior exército do país".

Em nota, a direção da Maternidade do Povo disse não aprovar nem permitir que "qualquer um de seus colaboradores realize campanha eleitoral dentro do estabelecimento". Informa também que não houve qualquer reclamação, denúncia ou registro de ocorrência sobre o caso.

A unidade de saúde afirma ainda que Rendeiro não é empregado da maternidade nem plantonista. "Apenas atende suas pacientes na Maternidade do Povo, assim como diversos outros médicos que não possuem vínculo com o hospital, e apenas exercem o direito de praticar a medicina em qualquer nosocômio que seja escolhido por seus pacientes, como preconiza e assegura o Conselho Federal de Medicina."

A direção da instituição finaliza a nota reiterando que não tolera "qualquer conduta que consista em campanha eleitoral".

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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