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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Silvio Santos é o personagem da minha vida', diz Rodrigo Faro que interpreta o apresentador no cinema

Após 14 anos sem trabalhar como ator, apresentador do programa Hora do Faro, na Record, volta a atuar no filme 'O Sequestro'

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O apresentador Rodrigo Faro nunca foi vítima de um episódio de violência. Houve uma única tentativa de assalto, diz ele. Mas o ladrão o reconheceu, e o acontecimento acabou virando uma história engraçada. "Eu estava de carro na avenida Pacaembu [São Paulo], e o cara falou: ó Faro, 'Dança Gatinho', bateu nas minhas costas e foi embora", relembra, aos risos.

O Dança Gatinho é um dos quadros mais comentados de seu programa dominical na Record. Na atração, ele imita, de forma caricata e divertida, artistas famosos.

Algo completamente diferente do que Faro pretende mostrar no cinema, ao dar vida a Silvio Santos no que é considerado um dos episódios mais inusitados e violentos dos 91 anos de vida do apresentador: o dia 30 de agosto de 2001, quando ele foi mantido refém por sete horas, na cozinha da sua casa no Morumbi, zona oeste de São Paulo.

Cenas dos bastidores da gravação do filme "O Sequestro", em que Rodrigo Faro interpreta Silvio Santos
Cenas dos bastidores da gravação do filme "O Sequestro", em que Rodrigo Faro interpreta Silvio Santos - André Cherri/Divulgação

O sequestrador era Fernando Dutra Pinto, que tinha liderado dias antes o sequestro de Patrícia Abravanel, a filha número 4 do empresário e comunicador.

Com estreia programada para 2023, o filme "O Sequestro" parte da história real como fio condutor para relembrar a trajetória de Senor Abravanel. É como se Silvio, enquanto preso em sua própria casa, estivesse contando ao sequestrador, Fernando, o que ele viveu, explica Faro. A direção é de Marcelo Antunez ("Qualquer Gato Vira-Lata 2" e "Até que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final"), com produção da Moonshot Pictures.

Para o apresentador, é um retorno à carreira de ator após 14 anos—sua última novela foi uma participação em "Chamas da Vida" (Record, em 2008). Antes, Faro teve papéis de destaque em tramas de sucesso na Globo, como "O Cravo e a Rosa" (2000) e "O Profeta" (2006).

O apresentador Rodrigo Faro
O apresentador Rodrigo Faro - André Cherri/Divulgação

"É o personagem da minha vida. Uma intersecção do Rodrigo Faro apresentador com o Rodrigo Faro ator. Uma intersecção do Faro comunicador com o Silvio que também é comunicador", diz ele à coluna.

Foi ainda antes da pandemia que ele recebeu o convite para fazer o papel. Só aceitou depois que teve a aprovação do próprio dono do SBT.

"As pessoas que marcam a nossa vida, que marcam a história do Brasil como o Silvio marca, elas têm de ser homenageadas em vida. A gente não pode esperar essa pessoa ir embora para homenageá-la. E como ele vai ver esse filme, eu não queria fazer algo que o desagradasse nem queria que ele não gostasse que eu fizesse", justifica Faro.

Silvio deu o seu aval em dezembro de 2018. Na ocasião, disse que Faro foi bem escolhido para interpretá-lo porque também é apresentador e "tem um bom talento artístico" (o dono do SBT criticou recentemente a série "O Rei da TV", da plataforma de streaming Star+, e que também se propõe a retratar a sua vida. Segundo ele, o trabalho foi "mal feito").

Com uma carreira consolidada como comunicador, Faro afirma que muitas pessoas o questionam sobre o que o levou a se envolver nesse projeto. "Sou um cara movido a desafios", responde. "Eu estava parado há muito tempo, mas poder voltar a contracenar, a interpretar um personagem tem sido fascinante", diz.

Não que ele não tenha tido momentos de insegurança. "Várias vezes, eu cheguei para o Roberto [o produtor Roberto d'Avila] e falei: Será? Para que assumir esse desafio agora?"

Ele mesmo responde que gosta de se expor e não tem receio do ridículo. "Se eu tivesse medo, eu não tinha botado um collant e dançado 'Single Ladies' em 2008, quando ninguém fazia isso", afirma, se referindo ao início do Dança Gatinho.

"No começo do quadro rolou aquele temor: 'Meu Deus, será que isso vai dar certo?' E, de repente, deu muito certo. É um grande sucesso", acrescenta. "Eu gosto de pensar fora da caixa, fazer coisas diferentes e, por isso, aceitei esse convite."

A dificuldade agora é outra, já que a ideia, como destaca o produtor d'Avila, é se afastar da pura imitação de Silvio Santos, como é feita por dezenas de comediantes, inclusive o próprio Faro. "O grande desafio para ele como ator e para a realização do filme como um todo, seja de direção, produção, caracterização, é não fazer a caricatura", salienta o produtor.

"Estamos fugindo disso. O meu trabalho é partir do exagero do Silvio e ir tirando, tirando, tirando, tirando até ficar só uma característica ou outra que você vai ver do Silvio, mas sem eu precisar falar: 'Ma ôe, vem pra cá, vai pra lá'", diz Faro, imitando o dono do SBT.

Mas, durante os intervalos, dá para brincar um pouco com o jeito peculiar de Senor Abravanel falar. A coluna acompanhou as gravações de duas cenas do filme, que ocorreram em um casarão no Pacaembu, em São Paulo, em julho deste ano. Muito concentrado na maior parte do tempo, quando o diretor Marcelo Antunez anuncia "corta", Faro aproveita para soltar a imitação mais caricata do personagem. Na telona do cinema, porém, o objetivo é que isso não apareça.

Antes do início das filmagens, o ator fez uma intensa preparação com sessões com uma fonoaudióloga, além de estudos de cenas e improvisações.

Embora reforce mais de uma vez que o longa é uma homenagem a um "grande ídolo" e que ele não está preocupado em fazer "polêmica ou ser controverso", Faro diz que a produção não vai se esquivar de mostrar os erros do dono do SBT.

"A gente vai mostrar o Silvio Santos humano, com suas qualidades e defeitos, acertos e erros", destaca. "Muitas vezes ele próprio já falou no ar dessas culpas", completa.

Um desses arrependimentos, afirma Faro, é ter escondido no início da carreira que era casado com Maria Aparecida Vieira, a Cidinha, e tinha duas filhas, Cintia e Silvia, para vender a imagem de "galã".

"O que me fascina é justamente buscar a personalidade desse cara: como ele é no dia a dia? Como ele vê as coisas? Como era a relação dele com a Cidinha? De que forma essa culpa de ter escondido a família o impacta como homem?"

Faro adianta que uma das cenas mais tocantes do filme é justamente a que retrata a morte de Cidinha, em 1977, decorrente de um câncer.

Outro momento de grande tensão dramática é o sequestro em si. "É uma doideira porque a gente percebeu, estudando essa cena, que o Silvio começa com uma relação de bandido com o Fernando, e acaba quase em uma relação paternal, dele cuidando e zelando pela vida daquele menino", diz Faro.

Segundo o produtor Roberto, é como se o comunicador tivesse um certo respeito com o Fernando por ele ter cumprindo a palavra de não maltratar Patrícia, que ficou sete dias como refém em um cativeiro.

Os acontecimentos reais daquele 30 de agosto de 2001 beiram ao surreal. Silvio chegou a fritar um bife para o sequestrador, como lembra Faro. Além disso, o então governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin [hoje vice-presidente eleito do Brasil], foi até a casa do apresentador para negociar a rendição de Fernando, após o próprio dono do SBT ligar para o político.

"O Silvio é aquele cara que no momento do desespero é o que consegue se controlar, levar para um outo lado. É o poder de persuasão dele. O Silvio é um cara genial", elogia Faro.

"O maior trabalho de comunicação e persuasão do Silvio Santos, na minha opinião, foi exatamente ali naquele sequestro, com um único espectador: o Fernando", diz.

Como Senor Abravanel não costuma dar entrevistas, o roteiro do filme se baseia em livros que contam a sua história e também nos depoimentos dados à polícia sobre o dia em que ele foi sequestrado.

Para chegar à sua interpretação do animador, Faro diz que também conversou com pessoas próximas ao dono do SBT, como Carlos Alberto de Nóbrega, filho do humorista e empresário Manuel da Nóbrega (1913-1976), figura central na vida de Silvio.

O apresentador Rodrigo Faro
O apresentador Rodrigo Faro - André Cherri/Divulgação

Faro, que tem 49 anos, interpreta Silvio no filme dos 40 até os 70 anos, idade que ele tinha no dia do sequestro. Outros dois atores dão vida ao dono do SBT mais jovem.

O apresentador ressalva que não tem planos de voltar a atuar de forma frequente, e muito menos fazer novela. "Só faria [outro trabalho como ator] se for algo muito diferente e que me motive, como é o caso de contar a história do Silvio Santos", diz.

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