Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Estou feliz e um pouco louca, mas amando tudo isso', diz Wanessa Camargo

Após enfrentar crise de pânico, pausar carreira, quase entrar no Big Brother e se separar, cantora diz que está em processo de cura e satisfeita por retomar as rédeas da vida pessoal e do trabalho

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A cantora Wanessa Camargo posa para foto no restaurante Purana.Co, em São Paulo

A cantora Wanessa Camargo posa para foto no restaurante Purana.Co, em São Paulo Bruno Santos/Folhapress

Se tudo sair como planejado, o Carnaval de Wanessa Camargo, 40, será agitado. "Vou trabalhar e passear, trabalhar e passear, trabalhar e passear", diz. Pela primeira vez, a cantora terá um bloco para chamar de seu: o Xainirô, que estreia na folia paulistana já neste domingo (12).

Depois, na segunda de Carnaval (20), o bloco vai para Belo Horizonte. Wanessa terá trabalhos também no sambódromo do Anhembi, em São Paulo, na sexta (17), e em Salvador, no domingo (19). "Vou fazer tudo isso e, ao mesmo tempo, olhar os meus dois filhos. No Carnaval, eles ficaram comigo", afirma ela à coluna.

Em maio do ano passado, Wanessa anunciou o fim do casamento de 17 anos com o empresário Marcus Buaiz, com quem teve José Marcus, 11, e João Francisco, 8. Depois de um distanciamento inicial, a cantora diz que ela e o ex-marido já conseguiram retomar uma relação de amizade.

Wanessa afirma que tudo o que ela não queria era repetir com os filhos a situação que vive com os pais, o cantor Zezé Di Camargo e Zilu Godoi, que se separaram há mais de dez anos e até hoje não se falam.

A cantora diz que Marcus até já se encontrou com ela e com o ator Dado Dolabella, seu namorado atual. "Está tudo certo, ninguém se matou. O Marcus tem essa maturidade, e eu também. Nosso casamento acabou por nós dois. Foi interno, não foi [algo] de fora", afirma.

A cantora Wanessa Camargo posa para foto no restaurante Purana.Co, em São Paulo
A cantora Wanessa Camargo posa para foto no restaurante Purana.Co, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Sobre o retorno do relacionamento com Dado —eles foram namorados no início dos anos 2000—, Wanessa diz preferir não falar sobre o assunto, "porque há outras pessoas envolvidas". Mas, durante a conversa de mais de uma hora com a coluna, o nome do ator surge naturalmente. Foi por influência dele, por exemplo, que a atriz resolveu se tornar vegana. Ela também diz que eles estão "quase o tempo inteiro juntos" e que, por também ser artista, Dado entende a loucura que é a vida dela.

Durante a pandemia e após pegar Covid, Wanessa conta que teve crises de ansiedade e pânico. Em abril de 2021, o problema de saúde a paralisou. "Caí de cama", diz.

Ela já tinha enfrentado situação semelhante aos 18 anos, quando se tratou com medicamentos. Desta vez, diz ter preferido um caminho de autoconhecimento, retiros e muita terapia. No meio disso tudo, Wanessa revela que quase entrou no Big Brother Brasil (Globo) do ano passado, porque precisava de um "chacoalhão". "Eu estava me sentindo muito morta". Neste ano, não quis mais. "Perdeu o sentido".

Para abril, a cantora planeja lançar seu novo trabalho, o disco "Livre", que terá dez músicas autorais, a maioria composta por ela depois de julho do ano passado. O projeto refletirá, segundo diz, todas as transformações que têm vivido nos últimos anos.

Wanessa diz estar satisfeita com esta nova fase, em que assumiu as rédeas da carreira (antes administrada pelo ex-marido), da casa, da maternidade e da vida pessoal. "Eu estou bem, feliz, um pouco louca porque é muita coisa para fazer, mas amando tudo isso."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, realizada no restaurante Purana.Co, em São Paulo, na semana passada:

COVID

Logo depois de ter Covid [em 2020], eu fui diagnosticada com hipotireoidismo [doença autoimune que provoca cansaço e sonolência]. E aí, eu comecei a desenvolver de novo um [síndrome do] pânico, que eu tive com 18 anos. Na época, cuidei com medicação, fiquei bem, tirei os remédios e nunca mais voltou.

Agora no pós-Covid, voltaram todas essas questões de saúde. O meu avô morreu [seu Francisco, pai de Zezé Di Camargo e Luciano], e perdi também um amigo que trabalhava comigo e era meu braço direito.

Aquilo me causou um pavor. Veio o pânico e decidi não ir pela medicação, mas pelo tratamento de terapia. É um processo lindo de autoconhecimento. Eu comecei a ler e a abrir a minha mente para outras coisas. Conheci a Max Továr [xamã], que é uma pessoa maravilhosa por intermédio da Fernandinha [a atriz Fernanda Souza] e da Ludmila Dayer.

Primeiro eu fui me fortalecendo, entendendo o que eu precisava arrumar na minha vida. O que estava morto aqui dentro [aponta para o peito], o que eu precisava ressignificar, renascer, transformar. Foi todo um processo que aconteceu com a Covid. O fato de parar, de me ver doente, cercada de morte, me fez repensar muito em como eu queria viver minha vida. E passei por um aborto no final de 2020, que logicamente também mexeu muito comigo.

CRISE DE ANSIEDADE

Em abril de 2021, a crise de ansiedade me paralisou, me impediu, inclusive, de cuidar dos meus filhos durante uma semana. Isso, pra mim, foi apavorante. Caí de cama. Ficava deitada e só pensando em morte o tempo inteiro. Eu não conseguia focar, não conseguia tirar a minha mente daquilo.

Mas eu me cuidei rápido. Max [Továr] me pegou pelo braço e corri para o retiro. Com muita terapia, sem nenhum remédio, com amor e carinho, consegui ir me levantando. Fui jogando para fora os fantasmas, os medos, e estou em processo de cura, porque não é fácil. Você não fala assim: "Ah, eu agora vou ficar com a cabeça perfeita". Foram 40 anos para estragar, são mais 40 anos para consertar, no mínimo [risos].

SEPARAÇÃO

Em uma relação, você vai ceder. É normal isso. Às vezes você percebe que cedeu demais e se perdeu. Isso aconteceu comigo. Eu não sentia a minha voz ali. Eu falo que era um pisar de ovos para o bem-estar de todos, e a minha voz não estava lá. Hoje, percebo que a minha voz está renascendo.

Você tomar as rédeas da sua vida é você se colocar à frente da bala mesmo. E saber aonde você quer ir. Eu acho que faltava muito isso para mim, saber aonde eu queria chegar.

Eu quero ser um instrumento de transformação, uma pessoa mais consciente, mais amorosa, ter mais compaixão pelo próximo. Quero aprender e conhecer o amor profundamente.

AMIGA DO EX

O meu maior medo quando os meus pais se separaram -e eles sabem disso- era eles não se falarem. Claro que, no começo, você fala: "Pô, quem que separou? Quem é a culpada?" Sempre busca fora. E quando você casa, você entende que não tem fora, é o dentro.

Eu e o Marcus, em um primeiro momento, a gente se distanciou. E, hoje, a gente construiu uma relação de amizade, já em menos de um ano [da separação], que é a melhor coisa para os nossos filhos.

Assim como eu, ele é filho de pais separados e foi muito parecido. Teve briga, mágoa, ressentimento. Os pais dele hoje se falam, está tudo bem. Os meus ainda não. Só quando é urgente, mas ainda assim…

Eu, por exemplo, tenho que escolher com quem eu passo o Natal, e não quero que meus filhos passem por isso. A gente fez o aniversário do José na casa do Marcus, estava toda a família do Marcus, estava a minha família. Estávamos juntos.

Outro dia, o José ficou doente e era o dia de eu entregá-lo para o pai. Eu liguei para o Marcus e falei: "Não consigo ficar longe do meu filho, ele está com febre". O Marcus respondeu: "Vem pra cá, fica com ele aqui". O José ficou todo feliz que estava com o pai e a mãe. Acho isso tão importante, tão legal.

É difícil, não é fácil. Ele teve que limpar as mágoas dele, eu tive que limpar as minhas, e a gente teve de entender que tem que ser amigo para o resto da vida, porque esses meninos precisam dos dois.

VELHO NOVO AMOR

A gente já se encontrou todo mundo junto [ela, o novo namorado, Dado Dolabella, e o ex-marido]. Está tudo certo, ninguém se matou, está tudo bem. Todo mundo respeitando, entendendo. E não tem razão de ser diferente. O Marcus tem essa maturidade, e eu também. Nosso casamento acabou por nós dois. Foi interno, não foi [algo] de fora.

Dado Dolabella e Wanessa Camargo em festival - AgNews

CORAÇÃO

Eu estou bem [abre o sorriso]. Estou feliz, um pouco louca porque é muita coisa. Foram três anos em pandemia sem trabalhar, naquele núcleo certinho. Daí, de repente, separa, a função da casa inteira ficou só na minha decisão, sem dividir, tenho as crianças para cuidar, toda a situação da separação em si. E mais o trabalho que eu resolvi retomar. Eu estou um pouco louca, nesse sentido de muita coisa para fazer. Mas estou amando ao mesmo tempo.

Estou gostando de me conhecer nesse novo lugar, de função full [total]: trabalhar, ser mãe, filha, amiga, namorada, de ser eu.

AUTOCONFIANÇA

Eu acho que me desprendi, de um último ano para cá, de muita coisa que eu precisava me desprender e isso fez com que eu me tornasse mais autoconfiante em entender que eu posso, sim, comandar minha equipe profissional, que eu posso ser líder no meu projeto de trabalho, que eu posso cuidar dos meus filhos com responsabilidade sem precisar de um staff inteiro.

BIG BROTHER BRASIL

No ano passado, eu estava louca para ir [para o reality show] porque precisava de uma mudança. Queria algo que me chacoalhasse. O BBB surgiu como essa oportunidade, porque eu estava me sentindo muito morta. Não iria por causa do prêmio nem nada disso, mas para me sentir capaz, para ver que eu estava bem tanto de saúde mental como física.

Eu iria, mas não rolou. Ainda bem que eu não fui…[risos]. Acho que eu ia virar planta. Eu tinha a questão da crise de pânico, que tinha medo de ter lá. Morro de vergonha de ficar pelada na frente dos outros, eu não bebo… só uma cervejinha aqui, outra ali. Eu não ia ser aquelas pessoas interessantes na festa, não ia ser casal com ninguém.

Neste ano, não teria nem como ir, primeiro porque os meus filhos ainda estão no processo da separação. E como eu consegui entrar no processo de cura, não fez mais sentido ir.

DADO DOLABELLA

[Prefiro não falar] porque há outras pessoas envolvidas. Eu tenho dois filhos, tem a família que sempre vai ser a minha família, que é a do Marcus.

É uma coisa que vem com a maturidade, a gente entende que não é responsável só pela gente. Nós temos responsabilidade sobre o outro também, sobre as dores que a gente causa nos outros. Talvez, o que eu preciso dizer pode não ser legal para outra pessoa. Para quê falar, entende? Tenho um diário, escrevo ali.

Sabe o que eu aprendi? A aceitar que nem sempre você precisa ter razão, porque às vezes você tem e você quer mostrar que tem razão.

Vou dar um exemplo. Quando aconteceu a situação do divórcio dos meus pais, teve uma situação em que o advogado da minha mãe colocou que ela tinha perdido um processo por minha causa, pelo meu depoimento [ela se refere a uma briga judicial em que Zilu pedia a anulação de um acordo sobre a partilha dos bens por afirmar que tinha sido coagida a assiná-lo. Wanessa disse no processo que isso não tinha ocorrido].

Na verdade, eu não podia nem ser testemunha, estava lá só para dar um parecer. É um processo, tem provas. Nossa, que poder [o meu]. O juiz ouviu a minha fala e aí decidiu. Isso não era verdade, e eu estava muito bem resolvida com a minha mãe.

Mas todo mundo me chamou de vendida, porque eu dependo do meu pai financeiramente, o que não é verdade, porque pago as minhas contas há muitos anos.

Se tem alguém que já me ajudou financeiramente foi minha mãe, inclusive. É mãe que gosta de dar presente, que gosta de fazer essas coisas. Financeiramente, eu não devo nada ao meu pai. Mas gosto da verdade, então, me coloco com a verdade quando preciso colocar.

Aquilo me machucou muito. A minha mãe é a minha protegida, meu pai sabe disso, ele fala: "Você protege demais sua mãe". E aquilo [de me chamarem de vendida] me doeu.

A minha primeira vontade foi de ir na internet e falar um monte de coisa e contar, tintim por tintim, que aquilo não era verdade. Só que aí eu pensei: se eu falar isso, posso ferir a minha mãe ou o meu pai. Então, falei só com eles e tudo bem. Deixa o pessoal pensar que eu sou a vendida, que eu sou a filha que não sei o quê. E você aceita e está tudo bem, porque não é verdade, é uma ilusão construída.

Quando aconteceu a separação [do Marcus] e muitas inverdades foram ditas, tudo que eu falasse, às vezes, poderia afetar meus filhos ou o Marcus ou qualquer outra pessoa, então eu preferi [silenciar].

As pessoas que me conhecem e convivem [comigo] sabem da verdade, o que eu vivi. Eu não preciso ter razão. É entender o que realmente importa porque a verdade, amor, tarda, mas não falha.

VEGANA

Carne vermelha eu não como desde 2010. E, com o hipotireoidismo, eu precisava olhar para minha saúde de fato. Logicamente, eu tive influência de uma pessoa que sabe muito bem disso [Dado Dolabella], que me mostrou vídeos [de animais] que eu morri de chorar e me senti mal.

Eu falei: "Preciso olhar com mais compaixão aos meus semelhantes, olhar de igual para igual para qualquer espécie que existe". Eu olhava no olho do meu cachorro e pensava assim: um boi pode [ser alimento para as pessoas], e o cachorro não. Não fez sentido mais para mim. Estou nesse processo de me tornar vegana.

MATERNIDADE

Sou uma mãe normal, que tenta acertar errando pra caramba. Eu vi a minha mãe em mim, a minha avó, todas as mães.

É um trabalho. Eu acho que para criar uma criança precisa de uma comunidade. Duas coisas para mim são primordiais: que meus filhos saibam que são amados por mim e que eu jamais tolha as asinhas deles.

Hoje, educar um filho está mais difícil, porque você tem um Felipe Neto, tem um Luccas Neto, tem um Authentic Games [canal no YouTube] influenciando o seu filho. Ou você tira e seu filho vira um bichinho do mato ou você vai ter que dar um jeito de vigiar isso.

E as músicas? Outro dia, eles foram, todo inocentes, mostrar para mim uma playlist de funk porque gostam do ritmo, e eu falei: apaga todas agora. Olha o que está falando a música. São letras explícitas: " Senta na minha rola, senta no meu pau". Tem outras que falam de drogas, de violência. Está muito complicado. E aí, tem que ser a mãe louca que fica vigiando.

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