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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Está todo mundo lutando pela atenção das pessoas', diz presidente do Rio2C

Rafael Lazarini se prepara para a quinta edição do evento que reúne 1.200 palestrantes no Rio na próxima semana

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Os dois empregos de Rafael Lazarini têm títulos em inglês. Ele é "head" de desenvolvimento de negócios da Live Nation Entertainment e "CEO" do Rio2C —trocadilho em inglês que se pronuncia "Rio to see", ou "Rio para ver".

A Live Nation Entertainment é uma empresa americana, com sede em Beverly Hills, na Califórnia. Mas o Rio2C é um evento que ele mesmo criou, "o maior encontro de criatividade do hemisfério sul", como define, cuja próxima edição ocorre entre a próxima terça (11) e domingo (16).

O presidente do Rio2C, Rafael Lazarini - Marcio Mercante/Divulgação

O nome em inglês é proposital. A ambição de Rafael era, desde o começo, fazer do Rio2C um encontro internacional. Os diferentes palcos em que serão realizadas as diversas palestras na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, também têm nomes em inglês. E nem tudo é palestra, haverá também workshops, masterclasses e pitchings. Sim, tudo em inglês. "Esse anglicismo é muito comum na área da tecnologia, na computação e no showbusiness, né?", diz Rafael.

O tema desta edição, a propósito, é "soft power", ou poder suave, um termo inventado no final dos anos 1980 por um cientista político norte-americano chamado Joseph Nye, que significa a maneira que um país, uma cidade ou um estado influenciam o comportamento das pessoas.

Nas palavras do próprio criador do conceito, "poder é a capacidade de influenciar os outros para que façam o que você quer. Basicamente, há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com porretes; a segunda é recompensá-los com cenouras; e a terceira é atraí-los ou cooptá- -los para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atrair os outros, de modo que queiram o que você quer, vai ter que gastar muito menos em cenouras e porretes"

"Os Estados Unidos já entenderam essa questão do soft power há muito tempo. Não é por acaso que a indústria do entretenimento se chama ‘indústria’. E foi com Hollywood que o país espalhou a sua influência pelo mundo, muito tempo atrás. Agora, estamos vendo a Coreia e a China fazerem a mesma coisa", afirma Rafael.

"A gente tem que investir no soft power brasileiro, e o Rio tem uma vocação natural para isso, já que é a cidade onde acontecem dois grandes eventos populares, que são o Carnaval e o Réveillon. Além do Rock in Rio, claro", diz.

O evento carioca criado por Rafael é inspirado no SXSW, sigla de South by Southwest, um dos festivais mais relevantes da atualidade para as indústrias do cinema, da música e da tecnologia e que ocorre desde 1987, sempre em março, em Austin, a capital do Texas

O nome do festival americano é uma brincadeira com o título de um filme de Alfred Hitchcock, de 1959, "North by Northwest", que no Brasil foi traduzido como "Intriga Internacional"

Mas, ao contrário do Rio2C criado no Rio por Rafael Lazarini, o SXSW começou como um evento modesto criado por um jornalista, um editor e o publisher do jornal da cidade, The Austin Chronicle, junto de um músico e empresário, que pretendiam reunir pessoas interessadas em procurar novos caminhos para as artes e as novas tecnologias.

Deu tão certo que nunca mais parou de crescer e se tornou um dos polos da cultura e da tecnologia dos nossos tempos. Desde o começo deste século, artistas que se apresentaram no festival de Austin viraram sucessos instantâneos. Foi o caso das bandas The Strokes, Franz Ferdinand e The White Stripes, entre muitos outros.

Neste ano foi realizada a 37ª edição do festival americano, agora oficialmente conhecido como o maior encontro de inovação do mundo. Rafael Lazarini acompanha o SXSW há muitos anos e decidiu criar a sua versão, o Rio2C, pulando o começo da história do festival americano. Quis chegar chegando. Daí o nome em inglês.

homem branco de camiseta preta, jeans e blazer preto posa diante da Cidade das Artes
Rafael Lazarini, CEO e fundador do evento de inovação Rio2C, posa diante do espaço onde ele acontece, a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, região oeste do Rio de Janeiro - Divulgação

"A gente quer fincar nossa bandeira como um evento internacional, quer fazer parte do calendário dos encontros mundiais de inovação e criatividade. O Rio2C é um evento brasileiro, feito por brasileiros, mas com ambição internacional", diz.

Rafael começou a sua carreira de executivo do showbusiness antes mesmo de pensar se queria ser um executivo e de chamar o showbusiness de showbusiness. "Comecei fazendo festas na época do colégio. Curtia uma badalação e achava legal reunir as pessoas."

Percebeu cedo que essa vontade de juntar gente podia se transformar numa maneira divertida de ganhar dinheiro. "Abri minha primeira empresa aos 18 anos, com quatro amigos de faculdade", conta. Cursou engenharia, mas nunca trabalhou nem um dia nessa área.

No começo dos anos 2000, foi contratado pela Petrobras, na época a maior patrocinadora nacional da cultura e do esporte, como uma espécie de consultor da estatal, que queria ampliar o alcance da marca e que os patrocínios tivessem retorno, que o público lembrasse da Petrobras quando fosse a um show, a uma peça de teatro ou a um jogo de futebol.

"A experiência na Petrobras me fez enxergar a imensa oportunidade que existe no Brasil para produzir grandes eventos no ramo do entretenimento", conta Rafael, que decidiu que precisava se especializar nesse ramo e dominar o assunto completamente.

Deixou o emprego e foi fazer um mestrado em gestão de mídia e entretenimento na UCLA, a Universidade da Califórnia em Los Angeles. Emendou com um segundo mestrado em gestão de entretenimento na USC, a Universidade do Sul da Califórnia, na mesma cidade.

Foi contratado por uma empresa americana de marketing chamada Rogers and Cowan, na Califórnia, que tinha David Beckham como um de seus clientes. O jogador de futebol inglês tinha se mudado para Los Angeles para jogar num time local, o LA Galaxy, e queria fazer um projeto para divulgar o esporte nos EUA, país que sempre associou o futebol a um jogo de meninas.

"Como o assunto era futebol, eu fui chamado para o time", diz Rafael, rindo. "E sugeri que a gente replicasse um dos vários projetos de jogadores brasileiros bem-sucedidos que vieram de comunidades. Deu super certo, foi um sucesso.

Na volta ao Brasil, foi contratado por Eike Batista, na época em que era considerado um dos homens mais ricos do mundo. "Foi uma fase incrível da minha vida. Era tudo muito rápido nas empresas do Eike. Compramos os direitos do [torneio de tênis] Rio Open, 50% do Rock in Rio, fizemos uma sociedade para trazer o Cirque du Soleil para a América Latina", lembra.

Mas, aos poucos, foi ficando claro para Rafael que aquele império todo era uma ilusão, e ele aceitou um convite de Roberto Medina para levar o Rock in Rio para os Estados Unidos. "E lá fui eu de volta para a cidade em que já tinha morado, mas dessa vez com mulher e filho", conta. O Rock in Rio acabou acontecendo em Las Vegas, em 2015.

No ano seguinte, Rafael, que teve mais um filho na temporada angelena, voltou com a família para o Rio com o cargo com nome em inglês e com a missão de gerenciar a expansão da Live Nation na América Latina. A empresa americana, que já opera na Argentina, no Chile e no México, além do Brasil, é acionista da Rock World, que faz o Rock in Rio nos anos pares, e a partir deste 2023 vai inaugurar o festival The Town, nos anos ímpares, na cidade de São Paulo.

A primeira edição do The Town ocorre entre os dias 2 e 10 de setembro, no Autódromo de Interlagos, e terá nomes como Foo Fighters, Bruno Mars, Queens of the Stone Age e Garbage, entre outros. Os ingressos começam a ser vendidos no próximo dia 18.

A Live Nation, que também acaba de assumir a produção do Lollapalooza, anunciou planos de construir uma arena com capacidade para 20 mil pessoas no Anhembi.

"Está todo mundo lutando pela atenção do público, o bem mais valioso da nossa era", diz o executivo. "Estamos na era das grandes experiências. E eu quero fazer parte dessa história", afirma.

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