Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Nós somos as vítimas do terrorismo, apesar da declaração do Brasil', diz embaixador da Palestina

Ibrahim Alzeben afirma que Israel 'está convertendo em cinzas' toda a população de Gaza

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Brasília

Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben desembarcou em sua terra natal há uma semana, acompanhado da família, para suas primeiras férias em sete anos. Dias depois, foi surpreendido com uma declaração de guerra. "Fui recebido com fúria, não com férias", afirma ele à coluna.

Em conversa por ligação telefônica desde Ramallah, na Cisjordânia, Alzeben diz torcer para que os 25 brasileiros que estão na Faixa de Gaza saiam ilesos de sua travessia até o Cairo, no Egito. E se nega a classificar como terrorismo a ofensiva empreendida pelo Hamas contra Israel no sábado (7), estopim do confronto.

O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, em seu gabinete, em Brasília - Pedro Ladeira - 1º.abr.2019/Folhapress

"O maior [ato] terrorista do mundo, para mim, agora, é a atitude do Estado de Israel, que está convertendo em cinzas todo um território com a sua gente na Faixa de Gaza", afirma o chefe da representação diplomática da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia.

"O desespero que o nosso povo tem é resultado da atitude dos sucessivos governos de Israel. Nós assinamos um acordo de paz com Israel, e esse acordo não foi respeitado", diz ainda.

Embora afirme que toda a população palestina está "condenada à morte", seja por bombardeios ou por consequência da falta de insumos básicos e de medicamentos, Alzeben defende que o povo palestino permaneça onde está e não peça refúgio a outros países.

"Não sairemos do nosso território. Não vamos sair. O Brasil é um país muito maravilhoso, mas o Brasil é para os brasileiros, e a Palestina, para os palestinos", afirma.

Neste momento, o Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada do Brasil na Palestina tentam repatriar brasileiros que se encontram na Faixa de Gaza. Como a Embaixada da Palestina no Brasil tem atuado nesses pedidos de ajuda?
Recebemos [os pedidos], só que não temos acesso [a eles]. São cerca de 30 pessoas que, se Deus quiser, em breve, obviamente com a assistência do Itamaraty e da Embaixada de Brasília aqui, irão para o Cairo.

Tomara que eles consigam, porque Gaza está sendo submetida a um ataque de 'terra queimada', praticamente. Esperamos que não aconteça nada com eles e que consigam sair ilesos, mas isso não depende de nós.

Gaza está sendo submetida a ataques por ar, por terra e por mar. É uma população que está condenada à morte, não somente pelo bombardeio. Cortaram água, luz, medicamentos e alimentos. Ou se morre por guerra, destruição e bombardeio, ou se morre por falta de água e de medicamentos. É lamentável.

Esperamos que [os brasileiros] saiam ilesos. Nós trataremos de ajudar o máximo que a gente puder.

A embaixada pretende trazer refugiados palestinos para o Brasil?
Não, não pensamos. O palestino deve ficar no seu território e não sair da Palestina. O nosso povo está decidido a ficar [mesmo que] soterrado, só que no seu território. Não sairemos do nosso território. Não vamos sair. O Brasil é um país muito maravilhoso, mas o Brasil é para os brasileiros, e a Palestina, para os palestinos.

Há uma comunidade palestina no Brasil. Eles estão pedindo algum tipo de ajuda para a embaixada?
Estamos em contato com a nossa comunidade. Eu estou na Palestina agora. O pessoal da embaixada, o encarregado de negócios e também a equipe da embaixada estão em contato com a comunidade para responder a qualquer pedido da nossa gente.

O senhor chegou quando à Palestina?
Faz uma semana que estou aqui, fui recebido com o conflito. Estou desde 2016 planejando férias, e fui recebido com fúria, não com férias.

Qual é o posicionamento da embaixada palestina em relação ao ataque feito pelo Hamas? O governo Lula os classificou como terroristas. A embaixada entende a ofensiva dessa mesma forma?
O maior [ato] terrorista do mundo, para mim, agora, é a atitude do Estado de Israel, que está convertendo em cinzas todo um território com a sua gente na Faixa de Gaza.

O desespero que o nosso povo tem é resultado da atitude dos sucessivos governos de Israel. Nós assinamos um acordo de paz com Israel, e esse acordo não foi respeitado. Faz mais de 30 anos, [foi selado em] 13 de setembro de 1993.

Simplesmente Israel prefere submeter o povo à colonização, que é quando tiram o teu povo para colocar outro. E isso, quem está fazendo, é Israel. Expulsam palestinos para trazer gente de fora.

Nós somos vítimas do terrorismo, independentemente da declaração do governo do Brasil. E os brasileiros sabem que nós somos vítimas de terrorismo.

O Hamas, na opinião do senhor, atrapalha ou ajuda a causa palestina ao fazer um ataque como esse?
Como estou dizendo, tudo o que está acontecendo é resultado de um estado de desespero e de falta de horizonte político, apesar dos acordos de paz.

O nosso povo vive um estado de desespero, batendo em todas as portas para estabelecer e recuperar os seus direitos legítimos. Todo o mundo reconhece esses direitos legítimos. Todos. Claro, ninguém nem nós aceitamos a violência como solução.

Nós lamentamos a morte de civis, seja israelense, palestino, ucraniano, russo, seja o que for. A morte não é a solução, a força não é a solução, terrorismo não é a solução.

Tomara que a paz reine para palestinos, para israelenses, para toda a região. O perigo não é somente que Gaza está praticamente desaparecendo do mapa, o perigo envolve toda a região.

É uma região inflamável, sem perspectiva.

Precisamos de perspectiva, precisamos ver uma esperança, uma luz no final do túnel. Uma luz da esperança para ter uma vida digna, todos. Sem agressões, sem ataques.

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