Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Não faço pouco caso das pessoas', diz Regina Volpato

Apresentadora fala sobre o seu retorno ao SBT, a possibilidade de apresentar novamente o Casos de Família e sobre ter virado um hit nas redes sociais ao dar conselhos amorosos

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A apresentadora Regina Volpato Karime Xavier/Folhapress

Na primeira vez que Regina Volpato, 55, se encontrou com Silvio Santos, fazer selfies com o celular não era algo comum. "Eu fui com uma câmera fotográfica na bolsa para tirar uma foto com ele, mas saí sem fazer a imagem, porque não tive coragem. Fiquei com vergonha", diz ela, entre risos, à coluna.

O ano era 2004, e o dono do SBT faria uma proposta que mudaria a vida de Regina. Após uma série de testes que duraram meses, a jornalista tinha sido a escolhida para apresentar o novo projeto de Senor Abavanel: o programa Casos de Família.

"Ele me falou: 'Você foi aprovada para uma atração aqui na casa na qual ninguém acredita. Todo o mundo acha que vai ser um fracasso, que é uma bobagem e tal, mas eu acredito. Então, eu queria saber se você topa'", relata ela.

Regina trabalhava na época como jornalista na BandNews e teria que pedir demissão. A apresentadora relembra que Silvio Santos deixou claro que ela seria contratada como uma aposta e que, se não desse certo, a parceria profissional entre eles estaria encerrada.

"Eu fui, e o programa foi o que foi. Fiquei cinco anos", afirma. O Casos de Família se tornou um sucesso instantâneo ao promover discussões entre parentes na televisão. Mesmo após a saída de Regina, a atração seguiu no ar por mais 14 anos, com apresentação de Christina Rocha —saiu da programação no início deste ano.

Na época em que aceitou se arriscar no projeto, Regina conta que nenhum dos seus amigos apoiou a sua decisão. Pelo contrário, as críticas foram muitas, segundo ela. "Não teve uma pessoa que falou: 'Parabéns, melhor coisa que você fez'. Só ouvia coisas do tipo, 'por que você vai sair da bancada de um canal de notícias, de um telejornal, para ir para um programa de barraco no SBT à tarde? Ou 'por que você vai fazer isso? O cenário é horroroso, é tudo horroroso'."

Regina diz que "nunca deu confiança" para essas opiniões por um motivo muito simples: "Eu estava trabalhando menos e ganhando mais. Eu já estava cansada de passar Natal, Ano Novo, aniversário, Dia das Mães trabalhando", como ocorre com jornalistas de programas noticiosos.

Agora, quase 20 anos depois daquele primeiro encontro com Silvio, ela voltará ao SBT. Desta feita, não precisou fazer testes. "Pela primeira vez na minha vida profissional eu fui convidada para assumir um posto de trabalho, e não para testes", diz ela.

Outra mudança é que toda a negociação foi feita com Daniela Beyruti, filha número 3 de Silvio e que é vice-presidente da emissora. É ela que tem sido a responsável por modificar a grade de programação do SBT para o ano que vem. Além de Regina, outros nomes foram contratados pela emissora, como o humorista Tirulipa e os influenciadores Virginia Fonseca e Luccas Neto.

"Eu vejo as meninas [as filhas de Silvio] muito determinadas. Não só com a emissora, mas com todo o patrimônio construído pelo pai", opina Regina. Às vésperas de completar 93 anos no próximo dia 12, o dono do SBT está afastado das gravações na emissora há mais de um ano. Do contato próximo com Silvio, Regina diz só ter lembranças boas. "[Estar com o Silvio] É uma experiência diferente, impactante. Você fala: nunca senti isso antes, sabe? De estar com uma figura tão expressiva e, ao mesmo tempo, ele te deixar tão à vontade."

Mesmo as mudanças constantes de horário do programa —prática muito comum adotada pelo comunicador— a apresentadora afirma que nunca a incomodaram. "Não é o programa da Regina. É o meu trabalho. Se esse trabalho vai passar meio-dia, meia-noite, duas da tarde, não é da minha conta."

É com esse mesmo espírito de "funcionária do SBT" que ela retorna à emissora. "Eu estou a serviço da empresa. Vou dançar a música da emissora", afirma. A atração que vai comandar, diz ela, ainda está sendo formulada pelo canal. O que já se sabe é que, em princípio, será pela manhã, ao vivo e com duração de quatro horas. A faixa é uma das mais concorridas na TV aberta. Regina poderá bater de frente com Ana Maria Braga e Patrícia Poeta, na Globo.

A apresentadora Regina Volpato
A apresentadora Regina Volpato - Karime Xavier/Folhapress

"Não tem horário fácil", analisa ela, acrescentando que os índices de audiência serão, sim, uma preocupação sua. "Eu não acho graça nenhuma ficar fazendo alguma coisa que só tá legal pra mim. Eu estou lá pra agradar quem está em casa", diz.

Assim que o seu retorno ao canal foi anunciado, a colunista Rosana Hermann, do F5, escreveu um texto conclamando Regina a voltar a apresentar o Casos de Família e fazer um especial com a família Camargo —as brigas e polêmicas envolvendo Zezé Di Camargo, seus filhos, nora, mulher e ex-mulher dominaram os sites de celebridades nas últimas semanas. "Eu achei o máximo", comenta ela, aos risos, sobre o texto, confirmando que voltaria a fazer o Casos de Família e chamaria, sim, a família Camargo.

Regina diz, porém, ter dúvidas se a atração, nos moldes do formato que ela apresentou no início dos anos 2000, teria o mesmo impacto no mundo atual. "Muito do que funcionava eram questões que hoje você encontra nas redes sociais: a gente falava de empoderamento feminino, etarismo, racismo, homofobia, o papel do homem na família", enumera.

"Hoje você já tem isso em maior quantidade e melhor, porque a discussão se aprofundou, porque o nosso vocabulário mudou", completa. Para ela, as pessoas também estão menos espontâneas. "Você não pega mais ninguém desprevenido."

Regina saiu do SBT e do Casos de Família em 2009, quando Silvio Santos resolveu mudar a atração para um formato mais sensacionalista. Ela diz que, além de não concordar com as modificações propostas, o seu contrato com a emissora estava chegando ao fim e ela vinha se sentindo esgotada.

"Era um programa muito intenso, uma gangorra emocional. Eu gravava três edições por dia", diz. Ela enumera alguns dos temas abordados na atração, como "não superei a morte da minha mãe" e "quero que você volte a ser sexy".

No período fora do SBT, Regina apresentou outros programas em diferentes emissoras. Ficou por cinco anos à frente do Mulheres, na TV Gazeta. Pediu demissão em julho, quando o canal propôs reduzir o seu salário em 20%, e ela não aceitou. "Eu saí sem ter outro emprego em vista, com a idade que eu tenho [55 anos] e com o mercado como está", diz. "Não sabia se ia voltar para a televisão, mas também não era um medo."

Regina afirma que decidiu se jogar, apostando no caminho que já tinha trilhado. Um mês depois de deixar a Gazeta, surgiu o convite do SBT. "Parece que eu estou vivendo uma adolescência colorida, alegre, gostosa, mas com a maturidade desse meio século mais cinco anos", diz.

Da experiência no Casos de Família, a apresentadora afirma ter descoberto que era capaz de ouvir as pessoas e de entender o ponto em comum entre as histórias que apresentava e a sua própria vida. "Muda a classe social, muda o jeito de falar. Mas, se a gente for espremer, espremer, espremer, as dores são as mesmas: de ciúme, de não pertencimento, de quando alguém te despreza, de ter sido desmerecida na sua família."

Regina acabou levando essa bagagem para as redes sociais. Desde a pandemia, ela tem feito sucesso ao responder perguntas bem ao estilo Casos de Família mandadas pelos seus seguidores, que somam atualmente 1 milhão de pessoas no Instagram.

Os questionamentos são, em sua maioria, sobre relacionamentos amorosos ou familiares. Em um deles, uma mulher dizia que, depois da morte do ex-marido, ela se envolveu com o sobrinho dele para se vingar da família que "sempre me julgou". "Amiga, você está usando o sobrinho [...] Vingança não é legal, deixa essa família pra lá", aconselhou Regina.

Se as pessoas se espantam com os questionamentos que a apresentadora escolhe comentar, ela diz que o público não faz ideia do que chegam de perguntas que ela prefere não responder por serem problemas mais "íntimos e densos".

"Morro de dar risada com algumas perguntas. Outras, eu me espanto. Já algumas, eu prefiro não responder naquele momento, porque às vezes eu não tenho o que falar. Não é pra tudo que eu tenho resposta", explica. Ela também diz que não tem a "menor pretensão" de ter as respostas certas, mas sim de dar um direcionamento. "É como quando a gente conversa com uma amiga."

Regina diz acreditar que conquistou esse lugar de amiga leal por não desdenhar das pessoas. "Eu não faço pouco caso, não abuso dessa confiança. Eu não me aproveito disso para outras coisas que não o que está posto. E está posto que eu vou publicar nas minhas redes sociais e que isso vai viralizar", diz.

Mais do que ter medo de ser cancelada na internet, ela afirma ter muito cuidado para não fazer "mal a ninguém". "Porque tem mal que você faz pra uma pessoa, que pedir desculpa é pouco. Você não tem como reparar", afirma.

Curiosamente, embora tenha se tornado uma expert em conselhos amorosos, Regina nem se lembra ao certo quando foi o seu último relacionamento afetivo sério. "Há uns 10 anos?", questiona ela ao seu assessor. Ele diz que é um pouco menos.

A apresentadora foi casada uma vez com o pai de sua filha e afirma que chegou a morar com outros parceiros. Mas agora não quer mais dividir a casa com ninguém. "As pessoas me perguntam: ‘Você acha difícil ser sozinha?’ Eu falo: 'Não. Difícil é ter alguém", afirma.

"Relacionamento requer renúncia, dedicação, paciência. Não estou a fim de renunciar a nada. Não estou a fim de jantar mais tarde sendo que estou com fome agora. Não tenho essa abertura", explica. "Várias videntes já falaram: 'Não, mas vai aparecer alguém'. Se aparecer, eu não estou fechada. Mas tem que ser muito sedutora a proposta para eu rever todo esse meu conforto e sossego."

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