Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa
Descrição de chapéu mercado de trabalho

Brasil pode crescer mais rápido com demanda que eleve produção

Produto potencial estaria crescendo mais lentamente, e isso limita capacidade de políticas

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As expectativas mais recentes de mercado indicam crescimento de 0,5% do PIB neste ano. Como nossa população cresce aproximadamente 0,7% ao ano, a projeção média do mercado implica uma queda de 0,2% do produto por habitante em 2022.

Para piorar o quadro, caso o crescimento médio anual da população se mantenha em 0,7% e o PIB evolua de acordo com as expectativas de mercado para 2023 (1,3%) e 2024 em diante (2% por ano), só em 2030 estaremos de volta ao PIB per capita verificado em 2013.

Fila de usuários do Bom Prato, que mudam de perfil, com desemprego e pandemia
Usuários do Bom Prato mudam de perfil, com desemprego e pandemia - Rubens Cavallari - 17.fev.21/Folhapress

É possível sair do buraco mais rapidamente? Sim, mas vários colegas acham isso improvável, pois nosso produto potencial estaria crescendo mais lentamente, e isso limita capacidade de políticas de demanda em estimular a economia. Nesta coluna, abordarei a restrição de trabalho.

Por definição, o crescimento do produto é dado pelo crescimento das horas trabalhadas e da produtividade do trabalho. Para crescer mais rápido, é necessário aumentar o volume de horas trabalhadas e/ou aumentar a produtividade por hora de trabalho. Farei comentários sobre produtividade em outra coluna. Fiquemos na quantidade de trabalho para mostrar por que o Brasil pode crescer mais rápido.

A população brasileira em idade ativa está desacelerando. Se considerarmos o critério do IBGE (pessoas de 14 anos ou mais), o crescimento anual médio foi de 1,3% na década de 2011-20 e será de 0,8% na década de 2021-30.

Já se considerarmos só as pessoas com idade entre 25 e 54 anos, o que nós, economistas, chamamos de idade "nobre" ou "prime" (no sentido de mais produtiva), o crescimento médio anual cairá de 1,2%, em 2011-20, para 0,5% ao ano, para 2021-30. Por esse motivo, vários colegas são pessimistas sobre o crescimento potencial.

Não compartilho do pessimismo porque há milhões de pessoas em idade ativa, mas fora do mercado de trabalho, bem como outros milhões de pessoas desempregadas. Nesse contexto, mesmo com a desaceleração da população em idade ativa, é possível aumentar o emprego mais rapidamente via aumento da participação no mercado de trabalho e redução do desemprego.

Em números, no início deste ano havia 172,4 milhões de pessoas em idade ativa (14 anos ou mais) no Brasil, dos quais 107,5 milhões estavam na força de trabalho, 95,5 milhões empregadas e 12 milhões desempregadas. A taxa de participação foi, portanto, de 62,3%, e a de desemprego, 11,2%.Assumindo que a taxa de desemprego será de 11% neste ano, caso o desemprego caia gradualmente para 6% até 2030, o crescimento médio do emprego será 1,5% ao ano em 2023-30. Em outras palavras, mesmo com a força de trabalho desacelerando, podemos crescer mais rápido reduzindo o desemprego.

O mesmo raciocínio vale para a taxa de participação. Assumindo que 62% da população em idade ativa esteja no mercado de trabalho em 2022, uma elevação gradual desse indicador para 64% em 2030, em conjunto com a redução do desemprego para 6%, elevará a taxa de crescimento do emprego para uma média de 1,9% em 2023-30.

Sei que reduzir desemprego e aumentar taxa de participação não é fácil, mas prefiro abordar a restrição de trabalho dessa forma a me resignar a achar que o quadro atual de estagnação é irreversível.

​Mesmo diante da atual mudança demográfica, o Brasil pode crescer mais rapidamente nos próximos anos se houver expectativa de demanda que eleve a produção. O aumento da produção se encarregará de reduzir o desemprego e aumentar a taxa de participação, aliviando a restrição de trabalho, e olha que eu nem falei de produtividade endógena.

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