Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu Eleições 2018

Mercado até 'se inquieta', mas 'só está ouvindo o que quer'

Investidores em emergentes estão desesperados por histórias positivas, diz analista do UBS ao WSJ

Sob o título “No Brasil, a República ameaçada”, o economista Thomas Piketty escreveu no fim de semana no Le Monde que Bolsonaro seria “regressão terrível para o país”, como despachou a Rádio França Internacional.

E o Le Parisien reportou que, “Grande investidora no Brasil, a França se inquieta com eleição”. Cita que Bolsonaro “parece moderar” seu programa de privatizações —e que o “guru” Paulo Guedes está “sob investigação por... fraude”.

Lista Alstom, Casino, “todas as grandes empresas CAC 40”, o índice das maiores da bolsa de Paris, como expostas ao Brasil. Nas últimas semanas, sites financeiros franceses como Bourse Direct vêm noticiando seguidos “desmentidos” do Casino de que contratou o banco Rothschild para tentar vender o Pão de Açúcar.

Já o Wall Street Journal ouviu questionamentos às apostas do mercado financeiro no Brasil, feitos por analistas como Phil Torres, da Aegon Asset Management, Alejo Czerwonko, do UBS Global Wealth Management, e Roberto Simon, diretor da Americas Society/Council of the Americas.

Pela ordem, “Pessoas tendem a gravitar em direção à história feliz, é questão comportamental que todos nós sofremos”; “Investidores dedicados a emergentes estão precisando desesperadamente de histórias idiossincráticas positivas”; e “Parte é pura euforia irracional: O mercado só está ouvindo o que quer ouvir”.

POR QUÊ?

O Süddeutsche Zeitung, sob o título “Por que os negros votam num racista”, ouve a cientista política Mariana Llanos, do Instituto Alemão de Estudos Globais, para entender o que leva não só negros, mas mulheres, indígenas e homossexuais a optar por alguém que “fala contra eles”.

Em suma: “Muitos brasileiros estão simplesmente assustados”, temem o desemprego e a violência, o “declínio social”.

Para o crítico do NYT, mostra Histórias Afro-Atlânticas, em SP, é ‘das mais fascinantes em anos’

‘THE SCUM OF HUMANITY’

O New York Times reduziu sua cobertura eleitoral, mas no fim de semana destacou longa resenha de Holland Cotter, prêmio Pulitzer de crítica, que viajou a São Paulo para a exposição Histórias Afro-Atlânticas no Masp e no Instituto Tomie Ohtake.

“Vale a pena ir longe por grandeza”, escreve ele. “É um baú de tesouro hemisférico, uma reformulação das narrativas e, peça por peça, uma das mostras mais fascinantes que eu vi em anos, com uma detonação visual atrás da outra.”

E vem na hora adequada, com Bolsonaro favorito e “vocalizando hostilidade à comunidade afro-brasileira, chamando imigrantes de Haiti e outros de ‘escória da humanidade’”.

EXÍLIO CIENTÍFICO

O Times Higher Education publica que “Não há vencedores nas universidades”, citando temores por liberdade de expressão e recursos. O maior é pelos graduandos e pós-graduandos, mas acadêmicos em geral estariam “buscando projetos de pesquisa na Europa”, com “planos de deixar o Brasil se Bolsonaro implementar seu programa”.

MEDO

Da Bloomberg à New York Review of Books, Ivo Herzog, “cujo pai jornalista, Vladimir, permanece um dos maiores símbolos da luta contra a ditadura”, foi ouvido para reportagens que questionam Bolsonaro, “ditador em potencial”, no título da NYRB.

Uma de suas declarações: “Estou com muito medo. A situação me põe sob estresse, não consigo dormir sem me medicar. Mas decidi que agora não é hora de abandonar a luta”.

DEPORTAÇÃO

Haaretz, em hebraico (abaixo) e inglês, publicou no fim de semana a longa reportagem “Israel busca deportar ao Brasil homem que viveu quase toda a vida na Cisjordânia”.

Abu Hafez, 24, nasceu no Brasil e, seguindo o pai palestino e a mãe uruguaia, está na Cisjordânia desde os 3. Só fala árabe, “não conhece ninguém no Brasil” e, destaca o jornal israelense, exemplifica problema de "dezenas de milhares de palestinos sob ameaça constante de deportação”.

No Haaretz, 'Israel busca deportar ao Brasil homem que viveu quase toda a vida na Cisjordânia' (segundo da esq. para a dir., com os irmãos)
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