Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu Eleições 2018

No exterior, Bolsonaro abre novo rumo 'radical' para a região

New York Times, Financial Times, Süddeutsche, Le Monde e El País, entre outros, o descrevem como 'extrema direita'

Por jornais de âmbito global como New York Times (acima) e os econômicos Wall Street Journal e Financial Times, a vitória de Jair Bolsonaro foi anunciada com destaque para a mudança “radical” que representa para o Brasil e a América Latina.

“Depois de escolher presidentes esquerdistas em quatro eleições consecutivas, os brasileiros optaram por um novo rumo radical para a maior nação da América Latina”, noticiou o NYT, que classificou o novo presidente como “extrema direita” em seu enunciado digital, sem dedicar a ele a manchete.

Na notificação para smartphone, o jornal americano repisou que o Brasil entra agora para “as fileiras de países que se inclinam para a extrema direita”.

No concorrente Washington Post, que também tratou Bolsonaro como extrema direita e evitou dar manchete, sua eleição “marca a mudança mais dramática da América do Sul para a direita desde o fim das ditaduras militares da Guerra Fria”.

WSJ e FT, ambos também usando a expressão nos seus enunciados e também negando manchete, sublinharam respectivamente que ele deve “mudar a maior nação da AL agudamente para a direita” e estabelecer “o primeiro governo de extrema direita no maior país da AL desde o fim da ditadura militar”. (O WSJ, depois, trocou "extrema direita" por "anti-establishment" e em seguida por "conservador".)

Na chamada —sem maior destaque online— do Süddeutsche Zeitung, o principal jornal da Alemanha, “Ultradireitista Bolsonaro se torna presidente do Brasil”.

NAS MANCHETES

Na mesma linha, mas dedicando a manchete digital, o espanhol El País afirmou: “Vitória de Bolsonaro leva a extrema direita ao poder no Brasil”.

O francês Le Monde e o argentino Clarín, também eles usando a expressão, levaram às suas manchetes a promessa de Bolsonaro de “mudar o destino” do Brasil. (O Clarín, depois, trocou "extrema direita" por "direita".)

O MAIS EXTREMISTA

O NYT, em sua cobertura, destacou análises de Scott Mainwaring, professor especializado em Brasil na Escola de Governo Kennedy, da Universidade Harvard:

“Esta é uma mudança realmente radical. Não consigo pensar em um líder mais extremista na história das eleições democráticas na América Latina.”

Sobre Fernando Haddad, afirmou que a campanha "se centrou muito em Lula e pouco no futuro do país". E que “parte importante do eleitorado teria votado no PT se ele tivesse feito uma risca na areia e renunciado à corrupção do passado”.

'FASCISTA'

De Martin Wolf, o venerando colunista do FT, respondendo no próprio jornal a uma pergunta que ouviu na plataforma social Reddit:

"Bolsonaro me parece ser simplesmente um fascista. Não acredito nem por um momento que queira curar nenhum dos males do Brasil e tenho certeza de que irá piorá-lo. O Brasil pode ser substituído por uma ditadura brutal e corrupta. Isso é muito triste.”

'NAZISTA'

O semanário satírico chileno The Clinic, em sua nova edição, retratou a ascensão de Bolsonaro com uma imagem do Cristo Redentor fazendo a saudação nazista, em contraste com aquela da revista The Economist nos anos Lula, em que a estátua levantava voo.

VERDE-E-AMARELO

O Drudge Report (acima), farol noticioso da direita americana, evitou a expressão em sua manchete, “Bolsonaro ganha o Brasil”, com as letras em verde-e-amarelo, mas linkou para o despacho da agência Reuters, cujo título abre com “extrema direita”.

ESPELHO DE TRUMP

O Washington Times, jornal conservador da capital americana, publicou artigo saudando “Uma vitória contra o socialismo no Brasil”, ressaltando que a agenda de Bolsonaro “espelha” aquela de Donald Trump, em defesa da diminuição da presença do governo na economia.

E que ele quer “relações melhores com os Estados Unidos”.

VALORES

Revista dos conservadores mais tradicionais dos EUA, a American Interest publicou longo texto sobre Bolsonaro, que mostraria "o ressurgimento da direita”.

Afirma que “no coração da questão está uma reação coletiva contra as mudanças sociais que estavam substituindo valores familiares tradicionais, aos quais os latino-americanos se vinculam, e impondo secularismo, globalismo e individualismo”.

AMEAÇA

O canal Al Jazeera, do Qatar, dedicou reportagem a discutir a ameaça representada por um governo Bolsonaro à imprensa, partindo da reportagem da Folha sobre o uso da plataforma WhatspApp por sua campanha.

O canal lembrou que “o torturador homenageado” por ele, o coronel Brilhante Ustra, teve jornalistas entre as suas vítimas.

WHATSAPP LÁ

Entre outros, produziram longas reportagens em torno do impacto do WhatsApp sobre a disseminação de notícias eleitorais falsas no Brasil o WSJ, o Guardian e a Vice —esta sublinhando que a plataforma tentou monitorar a eleição sem sair da Califórnia.

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