Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

'Revolução' de Limbaugh, Drudge e Hannity acabou com a 'verdade'

Dois novos livros acompanham a trajetória e o impacto da mídia mais conservadora nos EUA

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Em 5 de agosto de 1987, sob pressão do presidente republicano Ronald Reagan, a agência de comunicação dos EUA (FCC) derrubou a Fairness Doctrine, doutrina de equidade, que determinava que as concessionárias de rádio e TV abrissem espaço para diferentes visões sobre temas de interesse público.

“Com as ondas do rádio desacorrentadas, o palco estava pronto para uma nova e explosiva voz: Rush Limbaugh”, escreve Matthew Lysiak no recém-lançado “The Drudge Revolution” (BenBella Books, capa abaixo).

O subtítulo toma quase toda a capa do livro: “A história não contada de como o Talk Radio, a Fox News e um balconista de loja de presentes com uma conexão de internet derrubaram a mídia mainstream” ou tradicional nos EUA.

A expressão Talk Radio é usada para radialistas de opinião como Limbaugh, populistas em geral de direita, e o balconista é Matt Drudge, que criaria em 1994 o Drudge Report, desde então o agregador de referência da direita.

Em 1988, Limbaugh deu o pontapé na “revolução” quando iniciou transmissão em rede nacional, a partir da WABC —a Jovem Pan de Nova York. Foi a WABC que revelou também Sean Hannity, hoje o âncora de maior audiência do canal Fox News e o mais próximo de Donald Trump.

A Fox News foi lançada em 1996 pelo magnata conservador Rupert Murdoch e pelo marqueteiro republicano Roger Ailes, que havia trabalhado nas campanhas presidenciais de Richard Nixon, Reagan e George Bush, pai —e que, pouco antes de morrer, atuou na campanha de Trump.

A exemplo do ex-chefe Nixon, Ailes se via “lutando contra todo o establishment da mídia, em guerra contra uma cabala liberal de redes de TV, uma elite não eleita e pequena”, como descreve Brian Stelter no também recém-lançado “Hoax” (Atria/One Signal, capa acima).

No subtítulo, “Trump, Fox News e a distorção perigosa da verdade”. Como afirmam os dois livros, mais que um ideário conservador organizado, foi esse combate à verdade estabelecida pela mídia “mainstream” que uniu Limbaugh, Drudge e Ailes.

Também aqueles que os seguiram. Lysiak relata a primeira conversa entre Drudge e Andrew Breitbart, que trabalharia por quase uma década no Drudge Report e criaria em 2005 o seu próprio e bem-sucedido Breitbart News.

Em 1995, aos 26 anos, ele ouviu do editor já influente que os EUA “anseiam por pontos de vista alternativos à mídia controlada pelo pequeno grupo de elites dispostas a moldar notícias, não reportá-las”. Drudge citou Limbaugh e as “message boards”, os fóruns que prosperavam então.

Breitbart morreu em 2012 e foi substituído no comando de seu site por Steve Bannon, que quatro anos depois chefiaria a campanha e se tornaria em seguida o principal estrategista do governo Trump, em seu primeiro ano.

Limbaugh e Drudge também se engajaram na eleição do republicano em 2016, através de suas plataformas, mas o segundo vem se afastando ao longo do último ano e meio e principalmente após o avanço da Covid-19 nos EUA.

O papel da Fox News ao minimizar a pandemia é o maior alvo de Stelter. “Hoax” ou embuste, seu título, foi a palavra usada em fevereiro por Trump e ecoada 900 vezes pelo canal, para questionar como invenções democratas os fatos sobre a doença.

“A era Trump foi a era do embuste”, escreve o jornalista, ex-New York Times, hoje na concorrente CNN. “Os espectadores da Fox saem com a impressão de que não se pode saber verdadeiramente nada.”

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