Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Murdoch sofre derrotas em série, mas mantém influência

The Sun perde liderança histórica no Reino Unido e, na Austrália, grupo deixa de imprimir mais de cem jornais

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Na sequência de más notícias para o magnata de mídia Rupert Murdoch nas últimas semanas, a maior talvez tenha sido o fechamento de 36 jornais locais na Austrália, seu país de origem e onde comandou o primeiro diário, herdado do pai.

Outros 60 estão deixando de ser impressos, mantendo-se como sites —e somando-se a 16 que já tinham se tornado só digitais. Os três principais títulos do grupo no país, The Australian e os tabloides The Daily Telegraph e Herald Sun, também passarão por cortes.

O Australian publicou que a nova estratégia digital, no cambaleante braço local da News Corp de Murdoch, é de um jornalismo que "se faz uma vez, se faz melhor e é compartilhado em toda a empresa". Falou-se em "jornalismo de rede".

Visitante entra na sede da News Corp em Sydney, na Austrália, em 28 de maio de 2020 - AFP

Ken Doctor, analista ligado ao Nieman Journalism Lab, de Harvard, não vê perda de influência do magnata. "Através de seus principais jornais, ele vai manter seu peso político. E não tem ninguém correndo para preencher a lacuna. De maneira geral, será menos jornalismo, em menos mãos."

Menos jornalismo ou, como foi tratado na crítica australiana de mídia, a extensão crescente dos chamados desertos de notícia, regiões sem qualquer cobertura.

Doctor, especializado em imprensa regional, ganhou o apelido de "necrologista" ou autor de obituários, por escrever sobre uma área em crise, e lembra que o movimento também é substancial nos EUA, com a perda de publicidade acelerada pela pandemia.

"O impresso está morrendo ao redor do mundo", diz, citando outro jornal de Murdoch sob ameaça, o New York Post.

Depois de algumas edições sem qualquer anúncio publicitário, o tabloide cortou dezenas em maio. Já se fala que ele pode ser vendido —ou pior, segundo o analista, "assim que o pulso firme de Murdoch afrouxar, a expectativa é que ele feche".

Destino bem diverso do Wall Street Journal, também do magnata americano de 89 anos, mas que, "devido ao sucesso com assinaturas online, está fazendo a transição para a empresa majoritariamente digital que precisa ser".

O WSJ ainda é caso isolado. No Reino Unido, sua terceira base, a News Corp também anunciou cortes, duas semanas atrás.

E o choque maior veio na sexta (19) com o anúncio, pelo concorrente Daily Mail, de que havia passado a circulação impressa do The Sun em maio. Pela primeira vez em 42 anos, o tabloide que marcou a ambição global de Murdoch perdeu o posto de maior jornal britânico.

Para manter sua influência, o grupo estaria estudando mudanças como a unificação das redações de The Times e The Sunday Times, ampliando seu peso jornalístico em busca de projeção internacional —e assinantes pelo mundo, como o WSJ.

Fora dos ativos de imprensa da News Corp, nos canais de televisão que manteve depois de vender parte da empresa para a Disney no ano passado, Murdoch também começa a encarar obstáculos.

Dias atrás, grandes anunciantes deixaram ruidosamente um dos principais programas da Fox News, por exemplo, pelos ataques feitos aos protestos contra o racismo. Mas não é o primeiro boicote, e nos anteriores os anúncios acabaram voltando.

Outro problema é o surgimento de um canal de notícias concorrente, OAN, ainda mais à direita. Mas sua distribuição na TV paga americana é bem menor.

Mais desafiador é o país que pode sair das eleições de novembro. Murdoch tem falado a interlocutores, segundo Gabriel Sherman, autor da obra de referência sobre a Fox News ("The Loudest Voice in the Room", 2014), que Donald Trump vai perder.

Doctor arrisca que nada vai mudar, até porque o canal só fez crescer sob Barack Obama. "E numa América pós-Trump a Fox ainda teria uma grande população branca e mais velha que quer o que ela fornece."

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