Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Trump se submete ao Facebook; imprensa descobre que não precisa

Na Austrália, plataforma suspendeu links de jornalismo, disparando dowloads de aplicativos dos veículos

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O cancelamento de Donald Trump em mídia social, a partir da primeira semana de janeiro, sobretudo por Facebook e Instagram, foi completado por sua supressão no noticiário americano.

Trump sumiu de canais como CNN e MSNBC e até da Fox News de Rupert Murdoch, que se distanciou mais e mais. Também dos jornais.

Compreende-se assim por que mal se noticiou, nesta semana, o apelo humilde que o ex-presidente dos Estados Unidos fez à chamada “suprema corte” do Facebook, para restaurar seu acesso.

Foi preciso que o site Insider, do grupo alemão Axel Springer, destacasse o trecho de uma entrevista da presidente da “corte” ao inglês Channel 4, confirmando ter recebido o pedido do “usuário” e dizendo não ter pressa para divulgar sua recomendação, talvez em abril.

Mark Zuckerberg, dono do Facebook, decidirá então se Trump pode voltar a ter voz em suas plataformas.

Estátua de Donald Trump na Conferência de Ação Política Conservadora, em Orlando, na Flórida, em 26 de fevereiro de 2021 - REUTERS

Decisões semelhantes vêm espalhando tensão por outros países. Na quarta-feira (24), por exemplo, o Facebook decidiu derrubar todas as páginas ligadas ao novo governo de Mianmar.

No dia anterior, restaurou os links dos veículos jornalísticos australianos —que havia derrubado uma semana antes— depois de obter mudanças no projeto que regula a remuneração por uso de notícias pelas plataformas.

“O Facebook agora pode oferecer a quantia que quiser, inclusive nada, sem risco de multa”, resumiu o Nieman Lab, de Harvard.

Mas o blecaute de notícias serviu também para abrir os olhos das redações australianas e de outras pelo mundo.

Um dado chamou a atenção, de imediato: assim que os links da rede estatal de televisão ABC deixaram as plataformas, seu aplicativo disparou nas lojas de Apple e Google, tomando o primeiro lugar na Austrália.

No meio do confronto, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, ligado à agência, foi entrevistar Sinead Boucher, executiva que desde 2017 comanda o Stuff, grupo noticioso neozelandês de maior audiência. São 400 jornalistas, a maior redação da Nova Zelândia, com diversas marcas, inclusive alguns dos principais diários do país.

Diante do blecaute na vizinha Austrália, a entrevista questionou-a sobre os efeitos da decisão do Stuff, em julho do ano passado, de retirar todo o seu conteúdo do Facebook e do Instagram.

A saída, na verdade, havia começado em 2019, quando o grupo parou de gastar com publicidade nas plataformas depois do massacre de Christchurch —quando um australiano matou 51 muçulmanos em duas mesquitas, com transmissão ao vivo pelo Facebook. Aquela primeira medida, conta Boucher, já mostrou “efeito zero no nosso tráfego”.

Na segunda, de retirar todo o conteúdo, o tráfego até aumentou, em 5%, embora o dado deva ser relativizado porque foi ano de eleição e pandemia, que resultariam em crescimento maior.

“Nós achamos que podíamos ter crescido mais, mas não foi desastroso, de forma alguma”, diz Boucher. “Estávamos preparados para uma grande queda, e isso não aconteceu.”

Voltando à Austrália, uma constatação paralela, com o blecaute, foi que as plataformas se tornaram menos polarizadas, sem os comentários furiosos sobre as notícias. “Facebook não é lugar para notícias ou para organizações noticiosas” concluiu Emily Bell, da Universidade Columbia, de Nova York.

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