Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Trump levou NYT de 1 milhão para 6 milhões de assinantes digitais

Com 'Joe sonolento' na Casa Branca, jornal terá que buscar alternativas para manter crescimento

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A história da cobertura da eleição americana de 2020 ainda será revista, mas passa pelos conflitos no grupo de Rupert Murdoch.

O primeiro foi quando a Redação do Wall Street Journal derrubou a “surpresa de outubro”, os emails de Hunter, filho de Joe Biden. Eles não incriminavam o pai, mostrou o jornal, rompendo a onda que se formava a partir do New York Post, também de Murdoch.

Na outra frente, a Fox News, a partir da apuração, se contrapôs aos esforços para caracterizar o resultado como fraudado. Começou pelos repórteres e chegou aos âncoras de opinião pró-Trump.

AFP


Mas a eleição de Biden não foi vitória deste ou daquele veículo de Murdoch. É do establishment democrata, incorporado em parte no New York Times, que corre agora para firmar o controle da agenda, apresentando-se como aquele com acesso e influência.

É o momento, por exemplo, de publicar artigo defendendo a intervencionista Michèle Flournoy como chefe militar, com o argumento-título “É hora de mulher comandar o Departamento de Defesa”.

O esforço enfrenta resistência. O colunista de política externa Thomas Friedman buscou frear a decisão de Biden, já expressa por ele, de retomar o acordo com o Irã. O presidente eleito falou então com Friedman, mas não cedeu.

*

O jornal não projeta poder como antes. Questionado pela Folha, seu colunista de mídia, Ben Smith, reconheceu que a função de “gatekeeper” ou porteiro do noticiário não é mais só do jornalismo “mainstream”. É também de plataformas de mídia social como Facebook, agora pró-democrata.

Smith até prescreve o papel de cada um no controle do noticiário, como visto nos emails de Hunter Biden: para o jornalismo, “ficar em silêncio, se não tiver certeza”; para as plataformas, “limitar a disseminação, se houver dúvidas”.

Mais do que por essa divisão de poder, o NYT se vê agora ameaçado pelo fim do “Trump bump”, o solavanco na audiência. O vilão vai sair de cena, e ele foi grande parte do apelo das assinaturas digitais.

Quando ele iniciou a campanha para presidente, há cinco anos, o jornal tinha um milhão de assinantes online e hoje tem mais de seis milhões. Só no último ano, a cobertura da campanha de reeleição levou a mais dois milhões.

Agora o NYT se vê ancorado a um político que Trump chamava, não sem razão, de “Sleepy Joe”, Joe sonolento. Biden está longe de fornecer a dose diária de emoção do atual presidente, para a cobertura.

E o jornal terá em algum momento que recobrar certo equilíbrio, o que será desafiador dada a sua crescente dependência dos leitores. Segundo o Pew, 91% dos que apontam o NYT como a sua fonte de notícias se identificam como democratas.

O cofundador do BuzzFeed e do HuffPost, Jonah Peretti, afirmou ao podcast Recode que, com um modelo de negócios baseado em assinantes, o NYT nem pode mais se dizer o jornal americano de referência ou de registro, “paper of record”:

“O modelo leva a ser um jornal voltado para determinado grupo, não para o público mais amplo.”

*

Uma alternativa mais simples é trocar o inimigo interno, Trump, por um externo, Xi Jinping. O jornal já anunciou que vai se mudar da China para a Coreia do Sul, como centro de sua cobertura na Ásia, e seu tom em relação a Pequim se aproxima agora daquele usado por Trump.

Por outro lado, o “Trump bump” não foi a única circunstância a favorecer as assinaturas. Como admitiu a nova CEO do NYT, Meredith Levien, sua concorrência, tanto de sites nativos como jornais regionais, está morrendo.

Saio de férias. Até a volta.

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