Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

'China passa EUA em expectativa de vida', mas não é manchete

Causa seria a diferença dos países no combate à Covid; cobertura foi tomada pela morte da 'Rainha da Mídia'

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Horas antes de se dispararem as manchetes globais sobre a rainha da Inglaterra, um tuíte do consultor e colunista americano Ian Bremmer viralizou, com um gráfico do site Quartz (imagem abaixo). Mostrava que a "China passa Estados Unidos em expectativa de vida".

Para Bremmer, "devia ser manchete em todo jornal dos EUA". Até onde se viu, não foi em nenhum. O New York Times havia noticiado, mas sem destaque e sem mencionar a China, e outros nem isso.

No rastro do tuíte, o colunista de Washington no Financial Times, Edward Luce, questionou a "indiferença" diante da "trajetória mórbida" e da "crise da morte" do país. "Aos 76 anos [de expectativa de vida], os americanos agora vivem vidas mais curtas que seus pares na China."

Nem Luce nem Bremmer citam, mas a reportagem original do Quartz se concentrou tanto nos EUA como na China. Sobre os primeiros, ressaltou que "Covid é a principal causa da redução da expectativa de vida", respondendo por 50% do dado.

Sobre a China, destacou que a "estratégia de Covid zero evitou uma mortalidade assombrosa", sendo "motivo chave para a disparidade". Chen Weihua, correspondente do China Daily, jornal ligado ao ministério chinês do exterior, tripudiou, sobre o tuíte viral:

"Os EUA lutam por supremacia militar e domínio global, a China luta pela expectativa de vida de seu povo."

Citando Chen, a Newsweek produziu um "Fact Check: China ultrapassou EUA em expectativa de vida?". Conclui que "dados sugerem que a China realmente ultrapassou os EUA em expectativa de vida, embora haja algum debate sobre qual é a diferença atual".

Seja como for, tanto NYT como o próprio Bremmer intensificaram, após a notícia, suas críticas à estratégia de Covid zero.

‘MEDIA QUEEN’

No vácuo de crítica de mídia hoje nos EUA e na própria Inglaterra, o melhor que o NYT produziu sobre a cobertura da morte foi o vídeo "O legado de Elizabeth 2ª como Rainha da Mídia".

Em suma, desde o início ela "misturou o antigo e o moderno com a ajuda da mídia de massa", da TV às redes sociais em que a morte foi anunciada, para estabelecer sua "narrativa real". Numa de suas frases mais lembradas, "Eu tenho que ser vista para que acreditem em mim".

JORNALISMO CAÇA-CLIQUES

Também coincidindo com a orgia na cobertura da rainha da Inglaterra, o site Axios noticiou que Ben Smith, editor-chefe e colunista de mídia do Semafor, que estreia daqui a um mês, vai lançar o livro "Traffic", no início do ano que vem.

Será "uma história da cultura caça-cliques e suas consequências para a democracia" ou, ainda, o mito de origem da "Era da Desinformação", que se deu no jornalismo online, antes do Facebook.

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