O narrador Luis Roberto fez o que podia com o jogo inexpressivo que abriu a Copa no Qatar, em que não cabiam seus bordões de entusiasmo. Mais que a partida, enfrentou a ausência de Galvão Bueno, identificado com o torneio na memória do espectador.
Houve alívio quando anunciou que o titular havia chegado —e, em seguida, quando o próprio surgiu num vídeo gravado às pressas, na calçada, com barulho de vento:
"Amigos da Rede Globo! Luis Roberto, meu querido Luis Roberto. Você aí, Caio, Roger. Muito sucesso, hoje, para você, Luis Roberto, sua primeira transmissão de abertura. Que seja a primeira de muitas."
Acrescentou: "Queria dizer o seguinte. Partiu Qatar. Já estou por aqui. Está ventando hoje, hein. É para comemorar a abertura. Já estou de credencial. Gente, quinta-feira estamos juntos, Brasil e Sérvia, quatro da tarde. Beijo para todo mundo".
Pouco depois, na Globo, entrou comercial do TikTok com Galvão informando ser a nova ferramenta da rede chinesa, com sua voz à disposição para falar o que o usuário quiser: "Digitou, ativou, narrou".
Em vídeos na plataforma (acima, um deles), ele já havia mostrado todo o seu esforço de recuperação, deixado conselhos sobre Covid e, ao se preparar para pegar o avião: "Partiu, Qatar".
Também o vídeo com a mensagem para Luis Roberto entrou em seu perfil. O narrador que deve substituí-lo na Globo respondeu, só na transmissão: "Xacomigo, Galvão. Garoto, bem-vindo!".
O Wall Street Journal, neste domingo, noticiou no alto que o "TikTok continua contratando enquanto concorrentes eliminam empregos" pelo mundo, do Facebook à Amazon.
CASIMIRO DANÇA
O influenciador Casimiro, também abatido pela Covid, conseguiu participar em home office da transmissão da abertura por seus canais, via Twitch, da Amazon, e YouTube, do Google, separando para o Twitter uma imagem em que dança (abaixo).
Participaram o narrador Luis Felipe Freitas, ex-TNT Sports, e o comentarista Juninho Pernambucano, ex-SporTV. Segundo o Meio&Mensagem, foram vendidas cinco cotas para as transmissões do influenciador: Brahma, Coca-Cola, McDonald's, Nubank e Vivo.
CHANCE DE RECUPERAR A CAMISA
A politização da "famosa camisa amarela" da seleção preocupou publicações como o jornal Indian Express e a revista The Spectador nos meses que precederam o torneio no Qatar.
Mas agora outros títulos, como The Observer, edição de domingo do inglês The Guardian, arriscam que a "Copa do Mundo dá aos torcedores do Brasil a chance de resgatar a camisa amarela da extrema-direita".
O Guardian entrevistou o treinador, mas "política é tópico que ele não quer discutir", registrando apenas que "Tite sabe que é uma chance de reunificar um país dividido sob a gestão de Jair Bolsonaro e durante as eleições. Agora é a hora para o futebol juntar a sociedade brasileira".
ESPAÇO PARA RESPIRAR
Nos EUA, a Copa marca a assimilação pelo New York Times do site The Athletic, de grande audiência —e cuja marca não é a cobertura crítica. O jornal tratou então de encabeçar seu material com reportagem própria questionando o Qatar, que "abalou a reputação" da Fifa.
Mas também trouxe outro lado, no domingo, com o artigo "Por que a Copa pertence ao Oriente Médio", de um historiador da Universidade Georgetown no Qatar, Abdullah Al-Arian. Recorre, entre outros argumentos, ao poeta palestino Mahmoud Darwish:
"[O futebol] é o campo de expressão permitido pelo entendimento secreto entre governante e governado na cela da prisão da democracia árabe. Representa um espaço para respirar, permitindo a uma pátria fragmentada a chance de se unir em torno de algo compartilhado."
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