Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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As relações sexuais dos executivos

São múltiplas as razões para as pessoas terem cada vez menos sexo

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Os dados mostram que as pessoas têm cada vez menos sexo. Os motivos, colocando o foco no mundo corporativo, são múltiplos, porém alguns deles são evidentes.

1. Quando você chega em seu quarto para dormir não pega, na maioria das vezes, seu telefone? Pois é. Esse aparelho não existia alguns decênios lá atrás e nunca foi tão atrativo como hoje, porque ali você tem tudo, até a possibilidade de sexo virtual. O contato corporal está hoje altamente mediado pelos dispositivos eletrônicos. Isso gera, em muitas ocasiões, uma sensação de solidão.

2. O constante estresse da vida executiva não ajuda. As preocupações são tantas que o desfrute da intimidade física com outra pessoa fica muitas vezes deixado de lado. A irritabilidade gera um nível de ansiedade que pode até se assemelhar ao sexo, essa sensação de que o tempo todo está acontecendo algo dramático, mesmo sendo trivial, promove também o afastamento do prazer. O cortisol, que é o hormônio ligado ao estresse, justamente bloqueia o desejo sexual.

3. Para quem tem filhos, as tensões próprias da criança, com todas as arestas que elas acarretam, atrapalham o relaxamento e o espaço para o sexo acontecer. Aquilo que antes era natural na cotidianidade agora precisa encontrar seu jeito.

Esse último é um ponto significativo. Nós não somos robôs. A nossa sexualidade não consiste em apertar um botão, precisamos um âmbito não só físico mas emocional para nosso desejo acontecer. Tem condimentos que têm que aparecer.

Romance
Edward Cisneros na Unsplash

Quando não é meramente ocasional e aleatória, nossa sexualidade não é uma coluna num Excel nem um ponto num slide. Ter vontade de ter sexo com uma outra pessoa implica ter vontade de se conectar com um outro, de procurá-lo. Em geral, enamoramento envolve tempo, conversa, escuta. Trata-se de um investimento, de um compromisso mútuo e diário.

Nessa dinâmica, o sexo é uma variável valorosa e primordial que precisa atenção e cuidado. Quanto maior o tempo que se passa sem enxergar esse assunto, maior a distância que se gera, até chegar, em não poucas ocasiões, a verdadeiros abismos, fendas que são muito intricadas de remediar. Muitos acabam sendo parceiros de moradia, não casais.

Muitos distanciamentos e, mais tarde, divórcios começam com esses silêncios ligados à falta de atração física, ao isolamento acompanhado. O sonho do relacionamento vira pesadelo. Ao tempo que os dois simulam que não está acontecendo nada.

O grande problema é que a maioria dos casais falam pouco sobre sexo, ficando como um tabu interno. Parece engraçado, mas é triste. Acontece uma coisa paradoxal com esse assunto na nossa sociedade atual: o sexo superficial e vulgarizado está em qualquer canto das redes sociais, porém a maioria dos casais não encontra a coragem para falar disso. A falta de comunicação só alarga o problema, evitando a possível solução.

O aplicativo de relacionamento Tinder - Akhtar Soomro/Reuters

Parte desse paradoxo é a negação da existência do problema. As executivas e executivos geralmente negam ter alguma dificuldade nessa área das suas vidas pessoais. A imagem de sucesso precisa ganhar o território todo, mesmo sendo fake. E você sabe que morar no modo fake é cansativo. Sempre.

Qualquer casal pode ter problemas neste capítulo tão complexo das nossas vidas, transformá-lo em tabu e escondê-lo no guarda-roupa só impede qualquer resolução. Sexualidade é uma outra maneira íntima de diálogo que impacta nas nossas vidas e na nossa felicidade, por que não falar disso?

Como parte do paradoxo ligado com a sexualidade, nas organizações falamos muito de diversidade, porém pouco de assuntos como maternidade, menopausa e relações sexuais no balanço das vidas das e dos executivos. Temas que atravessam e preocupam a muitíssimas pessoas, são omitidos. Precisamos gerar espaços cuidados para que esses assuntos também achem seu lugar de fala.

Se cada vez mais vamos dar uma abordagem holística à vida empresarial, se as organizações se importam com a saúde psicológica dos empregados, então é importante ter em conta também esses pontos. Nossos corpos formam parte das nossas vidas. Caíram muitos tabus nos últimos anos, esse ainda fica ereto.

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