Nina Horta

Escritora e colunista de gastronomia, formada em educação pela USP.

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Nina Horta

Diversidade é palavra-chave

Saber quais são os alimentos da época dá mais alegria que ver televisão

Cada um com suas manias e ultimamente ando confessando as minhas. Trabalho no meu quarto com a TV sem som. Ou com um sonzinho baixo. Se vejo alguma coisa que me interessa, paro de ler ou escrever e presto atenção.

O canal que vejo é de notícias e de entrevistas, com mais mulheres do que homens, assim me parece. E vou ficando deprimida com as notícias. Dirão vocês, "É para deprimir, mesmo".

Mas não dá. O ser humano tem um limite para a desgraça. Notícia boa não é notícia. A greve dos caminhoneiros acaba e lá estão as meninas, chorando por uma batata que ainda não chegou em Mangaratiba. Isso é notícia. Dizer que a batata chegou em Mangaratiba e mostrar uma dona de casa feliz, cozinhando seis batatas para os filhos e servindo com muita salsinha, não é.

Está bem, então é preciso parar de ver TV, talvez esteja nos desanimando com as verdades. Não aguento mais.

Hoje chegou no meu email um informe da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Juro que me diverti mais com ele do que com um programa da hora e meia sobre a desgraça da greve.

Caixotes de alimentos na Ceagesp
Caixotes de alimentos na Ceagesp - Rivaldo Gomes/Folhapress, NAS RUAS

Não precisam ler tudo, só o som bonito das palavras de comer já dão uma alegria surda, entendemos que muita gente está por trás dessa benesse, que os legumes e frutas estão aí para nós. Vejam, podemos fazer combinações esdrúxulas só com os substantivos que devem ser bons no prato também.

"Semanalmente, a Ceagesp  prepara uma lista de produtos com os preços no atacado em baixa, estáveis ou em alta, para você se alimentar bem e economizar mais."

Existe alguma coisa em baixa, respiremos fundo, que alegria. Podemos começar com uma sopa de milho-verde. Raspe o milho, faça um caldo com ossos de galinha ou carne (aliás, deveria estar pronto no freezer, e com as espigas raladas). Na última hora, junte o milho, deixe cozinhar, bata no liquidificador, tão delicado. Peneira? Se quiser. Não esqueça de retirar as espigas --também é demais, com espiga e tudo.

Carambola e pimentão estão mais em conta nesta semana.

Essa é uma boa mistura, será? Cortar os pimentões de várias cores, bem fininho, e intercalar a carambola cortada em estrelas. Um pingo de azeite e sal por cima, pimenta-do-reino. Tudo isso sobre uma fatia grossa de inhame ou cará cozido, acompanhando um filé de peixe bem frito.

Quem já experimentou fazer canjica salgada e colocar ao lado de um lombo de porco? Caldo bem grosso, pouco sal. Confesso que estranhei um pouco, mas ruim não é, só diferente.

Quer uns bolinhos? Tempurá de folhas de cenoura, fica fino, crocante. E um coco verde bem gelado. Sem canudo, que canudo mata baleia, a última novidade.

E de sobremesa uma banana com a casca, cozida, meio aberta como um barco, canela, açúcar, tudo pouquinho.

Recebo o release toda semana e me encanta.

Sempre achei a lima-da-pérsia deliciosa, mas um pouco amarga. Minha filha me ensinou a amassá-la bastante, com paciência, com casca e tudo, fazer um buraquinho e chupar o líquido por ali. Gelada, fresca, uma delícia. Depois abre, come os gomos, não estarão nada amargos. Programão para as crianças.

Bem que eu queria um caqui guiombo, mas não faço ideia do que seja. Manga haden não tem igual, mas sinto um pouco de saudade das fibrosas, da infância, mamadas no biquinho, calda grossa, das manchadas de preto, da dulcíssimas anãs.

Diversidade, meu povo, diversidade, não é palavra-chave?

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