Quem tem fama nem sempre deita na cama. A de Lucas Lima, 32, por exemplo, era a de ser "virjão".

"Confesso que ser virgem não é fácil", racionalizava aos 25 anos, o tom sereno, tal qual um Buda inabalável diante do corpo de dançarinas do Faustão.

Vontade não faltava. Mas Lucas estava em paz com suas "convicções espirituais": dizia acreditar que, antes de fazer uma mulher dizer "sim, sim, siiiiiim" sob os lençóis, era preciso convencê-la a responder "sim" no altar.

Demorou para conhecer sua cara-metade. Num celibatário 2015, não teve oportunidade de amarrotar o jogo de algodão azul neutro, 150 fios egípcios, que comprou numa loja de São José dos Campos (SP) para cobrir seu leito na casa onde morava com os pais.

Lucas encarava a longeva seca sexual com a garra de Moisés no deserto. E sua jornada, como a do profeta bíblico, não era solitária.

O jovem evangélico fazia parte do Eu Escolhi Esperar, o grupo coordenado por um casal de pastores que defende abster-se da "fornicação" antes do casamento para cumprir a "vontade de Deus".

Lucas foi além: não só deu like numa rede social do movimento (junto com as páginas de Bob Esponja, Call of Duty e Os Trapalhões) como se juntou, naquele ano, ao elenco da websérie musical "Eu Escolhi Te Esperar".

Como qualquer garoto da sua idade, claro que ele estava doido para transar. Mas perseverou. "O sexo, fora dos padrões que Deus me ensinou, traz consequências negativas pra minha vida como um todo", dizia então.

Não foi moleza. "Por exemplo: fui com uns amigos assistir a ‘Loucas pra Casar’, já que sou apaixonado pela Tatá Werneck. O bombardeio já começa no trailer de ‘Cinquenta Tons de Cinza’! Caracaaaa…" A exibição em HD e 3D não ajuda. "Dá quase pra encostar a mão", brincou.

Para enganar os hormônios, ele tinha criado até um mecanismo de defesa. "Imagina uma tia morta, ensanguentada. Pronto, não tem mais nada!"

Algumas igrejas acham que até beijo é pecado. Lucas nunca foi tão radical, embora reconheça que uma bitoca pode ser "o começo de algo mais profundo". "É aquele negócio: não existe mal nenhum em tomar um vinho pra acompanhar o jantar, mas aquela taça pode ser o começo de um porre daqueles."

Enquanto não bebericava dessa fonte de prazer, restou a Lucas aguardar até que o cupido acertasse o alvo. "Vou me casar, sim. Assim como toda noite eu sei que o Sol logo vai chegar para iluminar a escuridão, tenho convicção de que vou encontrar alguém para dividir doces e amargos momentos da vida e viver várias aventuras. Sexuais ou não."

Dois anos depois da nossa primeira conversa, a espera acabou, e o virgem de 27 anos teve sua noite de núpcias —para alívio do pai, que era inconformado com sua fé evangélica e também com sua decisão de não transar até casar. "Ele dizia até que era viadagem. Queria me levar numa casa de prostituição, me oferecia bebida. Falava que assim que eu experimentasse a coisa, eu desistiria de ser crente", Lucas me disse em 2020, pouco antes da pandemia começar.

Ele conheceu a futura esposa na igreja, na audição de um musical gospel, tem uma década. "Eu gostava dela, mas ela me enrolava", reconhece hoje o pai de Bella, 3. Demorou coisa de cinco anos para começaram a namorar, e dali pro matrimônio foi um pulo.

Bruna está grávida de novo, quase três meses. A filha olha com suspeita para a barriga da mãe. Ultimamente, deu de apontar e profetizar: "Tem três nenéns aí!".

Nesta semana, farão o primeiro ultrassom para saber se a primogênita está certa e se, depois de tanto esperar, Lucas vai praticar o milagre da multiplicação da prole.