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Leandro Beguoci é diretor editorial de Nova Escola (novaescola.org.br). Ele explica sobre o que funciona (e o que não funciona) na educação brasileira.

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Os espantalhos precisam sair da educação

Temos que discutir o que de fato impacta o aprendizado país afora

Você sabia que, em breve, as crianças brasileiras terão de ser alfabetizadas até os sete anos? Estava ciente de que a tão falada educação para a vida finalmente fará parte dos currículos escolares? Provavelmente, não tinha nem ideia —e isso é só um pedacinho das mudanças que vêm por aí. Duvida? Vamos para a matemática.

Sabe aquela conta difícil, de juros compostos, que faz a festa das empresas que vendem crédito consignado? Então, a partir de agora educação financeira será obrigatória no ensino fundamental. Num país com tantos endividados, aprender algumas operações separa o empréstimo abusivo do razoável.

Tudo isso está previsto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) —um assunto que consta na pauta de pouquíssimas pessoas nestes meses turbulentos de 2018. Aprovada no final do ano passado, a base foi criada para garantir que alunos, pais e professores tenham clareza do que será ensinado em cada ano do ensino infantil até os anos finais do ensino fundamental. É uma daquelas grandes ideias que dormiam em berço esplêndido. Estava prevista na Constituição de 1988, mas nunca tinha sido regulamentada.

Infelizmente, a BNCC é uma ilustre desconhecida do debate eleitoral sobre educação. Em vez de conversar sobre o que de fato impacta o aprendizado de crianças e adolescentes país afora, discutimos espantalhos —ideias feitas para assustar o outro lado ou para criar coesão no nosso próprio grupo. Você sabe do que estou falando.

Discutimos com toda força se existe ou não "kit gay", se há ou não doutrinação nas salas de aula. São temas que despertam paixão e, ao mesmo tempo, passam anos-luz de distância dos problemas que milhões de professores e alunos enfrentam todos os dias. Nas escolas Brasil afora, muitos educadores trabalham duro para que os filhos das famílias mais pobres tenham alguma chance de construir seu próprio futuro. Mas isso não é sexy. Não vira corrente de WhatsApp nem textão no Facebook.

Essa ausência de realidade não esconde apenas os problemas. Ela também oculta o que dá certo e impede que os sucessos viralizem. Sim, temos bons exemplos. Sabia que o Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental dez anos após a Constituição de 1988? Não era uma tarefa simples. Porém, milhares de anônimos garantiram que esse projeto, mesmo um século atrasado, se transformasse em realidade.

Pois bem, esse é o objetivo desta coluna: convidar você a melhorar o debate público sobre educação na sua casa, na sua escola, no seu grupo de WhatsApp, na academia, onde você estiver. Gostaria que você fosse um aliado, uma aliada, contra a loucura, a insanidade e a mistificação que tomam muitas das conversas sobre a área.

Como tudo em educação, esta coluna é fruto de trabalho coletivo. Sou diretor editorial da Nova Escola, publicação que, há 32 anos, fala sobre os desafios de professores e gestores escolares. Embora o texto seja assinado por mim, os temas que aparecerão aqui virão de três grupos: das conversas com a minha equipe, das entrevistas com educadores e, a partir desse espaço que a Folha nos abre, com você, leitor, com você, leitora. Quero ser desafiado, provocado, instigado por cada pessoa que me der o prazer da sua atenção, da sua confiança.

Não espero vida fácil. Em tempos tumultuados, a primeira vítima é a verdade. Mas a segunda, certamente, é a educação. Se não melhorarmos radicalmente o debate público, estaremos condenados ao inferno das discussões inúteis e dos resultados tenebrosos. Precisamos criar uma grande pressão social, baseada em fatos verdadeiros (doce redundância), para que as escolas consigam cumprir seu potencial.

O bom jornalismo é um grande aliado dos educadores nessa jornada. Nossa responsabilidade é ouvir e aprender com as pessoas que fazem nossas escolas —alunos, professores, coordenadores, diretores, pais, gestores, secretários. E, depois, trazer esses temas para a discussão ampla, geral e irrestrita. Vamos nessa? Deixe seu comentário. Lerei com carinho. Quem sabe ele não vira o tema do próximo texto?

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