Neste domingo (18) tem decisão da Copa do Mundo. E estamos a apenas uma semana do Natal. É difícil escolher apenas um dos dois temas, Marcelo?

Sim, mas resolvi falar dos dois ao mesmo tempo: futebol e Natal.

Como você vai fazer isso?

Teremos que voltar à Primeira Guerra Mundial (28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918), que foi o primeiro conflito que se estendeu por todo o planeta —até o Brasil participou. Daí o seu nome.

Foi um conflito que colocou em campo armamentos antigos para enfrentar uma tecnologia mais moderna. Ainda se usavam cavalos, lanças e espadas nas batalhas, enfrentando aviões, metralhadoras e os recém-inventados tanques de guerra. O uso de gases venenosos espalhou a morte entre soldados, civis e animais.

Na Batalha do Somme, a maior da guerra, que durou quase cinco meses, os britânicos tiveram 57 mil mortos… no primeiro dia! Ao todo foram cerca de 18 milhões de mortos em quatro anos.

Não dá nem para pensar em Natal num cenário assim, não acha?

No meio desse cenário assustador, ainda em dezembro de 1914, no primeiro ano da guerra, aconteceu uma coisa inusitada, contada inicialmente num livro do capitão britânico Bruce Bairnsfather.

Na noite de Natal, por volta das 10h da noite, no campo de batalha de Ploegsteert, na Bélgica, um sentinela inglês ouviu os alemães cantando "Noite Feliz" em suas trincheiras. Ele acordou alguns companheiros e eles decidiram que aquilo não podia ficar assim; então cantaram "First Noel".

Os alemães contra-atacaram com outra música, e os britânicos não deixaram isso barato. No final das contas, os soldados dos dois lados começaram a cantar a mesma canção.

Bacana isso... Mas cadê o futebol nessa história?

No meio da cantoria, alguns soldados das duas nacionalidades caminharam pela "terra de ninguém", que é como se chamava o espaço entre as trincheiras. E, ao se encontrarem, começaram a desejar feliz Natal uns aos outros.

Depois ficaram trocando coisas, como se estivessem trocando presentes. Um cachecol por luvas. Em troca de cigarros, os ingleses cortaram o cabelo dos alemães. Amanheceu e a festa continuava. Alguém apareceu com uma bola meio murcha e eles jogaram futebol. A Alemanha ganhou por 3 x 2.

Depois soube-se que algo parecido aconteceu em outros pontos das trincheiras. Ninguém combinou nada, só aconteceu. Não foi nada resolvido entre os governantes ou entre os comandantes, mas entre as pessoas.

O episódio entrou para a história como "A Trégua de Natal". E durou pouco. Uns dias depois já estavam se matando novamente. De todo o modo, aqueles soldados mostraram que era possível viver como seres melhores.

Acredite: sempre é possível.