Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Pablo Ortellado
Descrição de chapéu Eleições 2018

O risco da estratégia de Geraldo Alckmin

Tucano supõe que forças sociais que sustentam Bolsonaro não têm enraizamento e dinâmicas próprias

Ana Amelia falando com Alckmin
Geraldo Alckmin e sua vice, a senadora Ana Amélia (PP-RS), durante a convenção Nacional do PSDB que oficializou o tucano como candidato à presidente nas eleições de 2018 - Pedro Ladeira - 4.ago.2018/Folhapress

Alckmin acredita que, ao fim e ao cabo, seu adversário será o PT, ainda que seu verdadeiro inimigo seja Jair Bolsonaro. 

Os estrategistas tucanos avaliam que o candidato do PSL, com seu discurso punitivista e conservador nas pautas morais e liberalizante nas pautas econômicas roubou uma fatia do eleitorado de centro-direita que tradicionalmente votava com o PSDB. Isso se evidenciaria nas pesquisas que mostram que uma parcela grande dos eleitores que votaram em Aécio em 2014, agora querem votar em Bolsonaro.

Por isso, Alckmin trouxe para sua chapa a senadora Ana Amélia, uma política muito associada com o conservadorismo moral e a luta anticorrupção. Com esse contraponto mais declaradamente conservador na chapa e contando com a superioridade de recursos na forma de alianças regionais, tempo de TV e fundo eleitoral, Alckmin pretende derrotar Bolsonaro com tranquilidade.

Mas será mesmo que esses eleitores que foram de Aécio em 2014 podem ser retomados por Alckmin?

O principal risco da estratégia de Alckmin é contar com a suposição de que as forças sociais que sustentam a candidatura Bolsonaro não têm enraizamento e dinâmicas próprias e são apenas uma espécie de "vazamento" do tradicional eleitorado tucano. 

Talvez a candidatura de Aécio Neves não tenha sido pura expressão da força eleitoral dos tucanos em parceria com os democratas, mas uma espécie de aliança tácita entre essa força eleitoral tradicional e a nova força social do movimento anticorrupção. 

O movimento anticorrupção que explodiu na demanda pelo impeachment de Dilma Rousseff tem suas raízes no apoio à candidatura de Aécio Neves –afinal, a mobilização anti-Dilma dos anos 2015 e 2016 nasceu primeiro como protesto contra uma suposta fraude eleitoral em novembro de 2014, logo após as eleições.
 
Embora não existisse ainda como força de mobilização de rua, o movimento anticorrupção já era uma expressão viva da sociedade brasileira, pelo menos desde junho de 2013.

Talvez Bolsonaro não deva ser interpretado como um fenômeno eleitoral que atraiu parte do eleitorado que foi de Aécio, mas o contrário: os setores da sociedade mobilizados pela pauta anticorrupção já eram fortes e expressivos em 2014 e, naquele pleito, foram eles que apoiaram Aécio Neves, na condição de opção que encarnava a luta contra o PT, considerado o partido mais corrupto. 

Depois da desilusão com os escândalos de corrupção envolvendo Aécio e o PSDB, esses setores forjaram uma via eleitoral própria, puramente antissistêmica e adotaram um candidato contra tudo e contra todos, Jair Bolsonaro.

Se for mesmo assim, Alckmin tem um grande desafio pela frente. Ele supõe que o que vai organizar a eleição é o tradicional antagonismo que opõe PSDB e PT, quando pode ser que sobre essa dinâmica esteja sendo sobreposta uma nova que opõe sistema e antissistema.

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