O coronel da reserva Glauco Carvalho, ex-comandante do policiamento da capital da Polícia de São Paulo, entregou o cargo de vice-presidente da Associação de Oficiais da PM do estado nesta quarta-feira (8). Em carta de renúncia, ele revelou estar sendo pressionado pela base da entidade, que é, segundo ele, composta por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Como Carvalho tem intensificado suas críticas ao presidente após manifestações de apoio a atos antidemocráticos e por sua conduta na crise do coronavírus, ele tem sofrido ataques com mais frequências do integrantes da associação. Nesse cenário, decidiu deixar seu posto (leia a íntegra da carta abaixo). Além da carreira na PM, Carvalho é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
"Se apregoo e defendo a democracia, nada mais justo e lícito que pedir minha saída, uma vez que o eleitorado da Associação dos Oficiais é majoritariamente bolsonarista. Não seria justo eu trazer transtornos e percalços à atual presidência, que sempre me tratou com muita lhaneza e cordialidade", escreveu Carvalho em sua carta.
"Convivi com um jovem deputado chamado Jair Messias Bolsonaro no inicio dos anos 1990. Ele é a antítese do que é um militar na acepção lata da palavra", diz Carvalho.
"Mas, como em toda e qualquer democracia (...) eu deveria e devo respeitá-lo. Até ele namorar e querer casar com golpes militares. A firmeza e a higidez de princípios dos comandantes da três Forças Armadas o fizeram dissuadir de seus propósitos mais tacanhos, perversos e retrógrados", continua.
"Ele, então, abandona tudo aquilo que pregou e vai assentar-se ao lado do dito 'centrão', seja lá o que isso quer dizer. Depõe sua confiança em parte do estamento político contra o qual fez toda sua campanha. Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto e companhia. Belo exemplo. Suas relações incestuosas com a família Queiroz são o retrato mais aparente da prática delituosa da família Bolsonaro', completa.
"Tenho a firme convicção de que a oficialidade comete grave erro. Um erro histórico. Não a instituição, organização independente da vontade de seus componentes. Essa permanece firme em seus propósitos legais e na defesa do ordenamento jurídico, à semelhança do que ocorreu com as Forças Armadas. Mas de seus integrantes, que, por um engodo, tem feito uma opção que julgo não ser a mais adequada", continua, antes de anunciar que deixa o posto.
Com Rogério Pagnan, Mariana Carneiro e Guilherme Seto
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