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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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'Teremos menos voos com esse aumento no preço do combustível', diz presidente da Azul

John Rodgerson afirma que companhia já analisa os ajustes necessários para adequar a malha área

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São Paulo

John Rodgerson, presidente da Azul, afirma que a equipe da companhia já começou a analisar os ajustes que serão necessários para adequar a malha área ao novo preço do combustível.

"Vai ter menos voos. Em vez de voar para uma cidade sete dias na semana, talvez dê três dias", diz Rodgerson.

John Rodgerson, presidente da Azul Linhas Aéreas - Divulgação

A Abear (associação de companhias aéreas que reúne Latam e Gol) disse na semana passada que a disparada do petróleo impacta principalmente as rotas dos mercados regionais. Como o mercado da Azul é pulverizado no Brasil, qual tem sido o reflexo para vocês? Toda empresa tem rotas que são mais rentáveis ou menos. E algumas que perdem dinheiro. Com o aumento do combustível, algumas rotas não são viáveis.

O que vai acontecer, a princípio, é ter que cortar alguns voos, cortar algumas frequências. Tem que ajustar à capacidade do mercado.

O que é triste é que nós estamos em um momento bom de retomada no Brasil. E um pico alto do combustível impacta a malha aérea. Então, vai ter menos voos.

Em vez de voar para uma cidade sete dias na semana, talvez dê três dias na semana. Talvez alguma cidade que tenha três frequências por dia possa ser reduzida para duas. Isso que é preciso gerenciar neste momento.

Alguns destinos dentre aqueles mais longínquos que a Azul atende podem ser prejudicados? Claro. Temos que olhar o preço do combustível. O Congresso tem trabalhado em medidas para reduzir o impacto. E estamos olhando todos os dias. A coisa boa é que tem algum tempo para se preparar. A gente não está pagando aquele preço hoje. Vamos pagar no próximo mês.

O que o nosso time está fazendo neste momento é ajustar a malha conforme o novo preço do combustível.

Antes da pandemia, a Azul vinha fazendo um movimento de expansão no mercado de voos internacionais, mas depois parou. Neste momento em que as consequências da guerra devem atingir o segmento de voos internacionais com mais força, é melhor permanecer fora dele? Nós temos mais de 800 voos domésticos todos os dias e menos de dez fora do país. Em um momento como este, o custo de combustível aumenta conforme o tempo de voo.

Imagine um voo para a Europa. É bem caro agora por causa do combustível. Por isso, estamos felizes em termos focado muito na malha doméstica.

Temos 30 cidades a mais servidas hoje do que em 2019. O que nós fizemos foi mudar o nosso foco, com menos internacional e muito mais doméstico. Isso tem ajudado neste momento de crise, de alta do dólar e do combustível.

Vocês tinham alguma pretensão de voltar a expandir o internacional em algum momento? E se ainda tinham, esse projeto fica para depois? A gente quer continuar focando em Portugal e Flórida. Enquanto ainda é preciso fazer teste de Covid e com o dólar onde está, eu acho que vai ser mais tímido no curto prazo.

Mas com certeza, se você olhar para os próximos anos, a gente voltará a estes mercados com um pouco mais de força, mas neste momento a gente está focando muito mais no Brasil. O que eu acho que é bom para o país também.

No debate das medidas para aliviar a pressão provocada pela guerra no custo do combustível, houve a discussão sobre alíquota única do ICMS para o querosene de aviação. Essa medida, que não foi aprovada no caso do combustível de avião, não tinha consenso entre as diferentes aéreas brasileiras. Para a Azul ela inviabilizaria o negócio? Nós servimos muitas comunidades muito pequenas. A gente serve cem cidades a mais do que os nossos concorrentes. E muitas, em vários estados, são servidas porque o governador reduz o ICMS no estado para ter mais voos. Isso é benéfico. Não é como construir uma fábrica em São Paulo ou em Minas. Na aviação, você pode estar em todos os estados ao mesmo tempo.

É isso que a Azul faz no Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Amazonas, Minas, todos os lugares. Para nós, há outras medidas. Se eles fizessem isso [unificação do ICMS] ia reduzir a malha regional do país. Não seria ruim para os nossos concorrentes, mas seria ruim para muitas cidades e muitas pessoas no país.

Os custos no Brasil já estão altos. Então, isso ia aumentar os custos e tirar mais serviços do Brasil. Se sentar e pensar, ninguém quer isso. E o Congresso entendeu.

Eu não sou contra nivelar o ICMS. Eu sou contra nivelar nesta indústria porque isso tiraria voos.

Eu estou feliz com o projeto de lei que passou na quinta-feira no Congresso, porque ajuda os estados a não terem guerra fiscal. Mas na nossa indústria é diferente, porque os nossos ativos, as nossas fábricas, voam, literalmente.

Como nasceu a ideia daquela ação da Azul de criar voo fictício para enviar recursos para a Ucrânia? Nós estávamos em uma reunião e todo mundo preocupado com o que está acontecendo no mundo. Nossos funcionários queriam fazer alguma coisa. Nosso time teve essa ideia falamos com a Cruz Vermelha.

As pessoas podem comprar uma passagem [nesse voo fictício] pagando de R$ 10 a R$ 250, e o recurso é enviado como doação. Fizemos com o nosso sistema de vendas, que acumula pontos no programa Tudo Azul.

Daqui a muitos anos, elas poderão dizer para os seus netos que fizeram um voo para ajudar, de alguma forma.

Raio-X
Diretor-presidente da Azul, foi diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores e trabalhou no plano de negócios original para criação da companhia. Foi um dos membros fundadores da equipe. Antes, trabalhou na JetBlue Airways e na IBM Global Services. É graduado em finanças pela Brigham Young University


Joana Cunha com Andressa Motter e Ana Paula Branco

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