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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Voto de Amoêdo em Lula é fato isolado, diz Felipe D'Avila

Ex-presidenciável do Novo pede desfiliação do fundador do partido

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São Paulo

Um dos membros do partido Novo que reagiu com força contra a iniciativa de João Amoêdo, fundador da legenda, de declarar voto em Lula no 2º turno, Felipe D’Avila afirma que seu descontentamento é antigo.

D’Avila, que foi o presidenciável do Novo nas eleições deste ano e agora assinou um manifesto pedindo a desfiliação de Amoêdo, se diz contrariado pela falta de apoio do fundador aos candidatos do partido.

Felipe D'Ávila é um homem branco com cabelos grisalhos. Ele está usando terno. D'Ávila sorri e olha para o canto direito.
Felipe D'Ávila durante evento em 2015 - Raquel Cunha - 27.mai.15/Folhapress

Qual foi o motivo da forte reação do Novo contra a declaração de voto do Amoêdo em Lula?

A reação não é apenas por esse fato. O João Amoêdo vem se comportando de uma forma que não apoiou os candidatos do Novo durante as eleições. E antes das eleições ele até incentivou pessoas a saírem do Novo e irem para outros partidos. Aí, a única manifestação pública que ele faz no processo eleitoral é endossar o Lula.

É uma coisa muito estranha, porque é um conjunto de ações que age contra o partido. Por isso a reação. Não é só por causa do fato, a meu ver, isolado. É uma sequência de coisas. O Amôedo vem falando mal do partido na imprensa, não apoiou os candidatos do partido, e quando se manifesta politicamente, se manifesta para apoiar o Lula.

Segundo ele, a reação fere a liberdade de expressão, que é defendida pelo próprio partido. Os filiados do Novo não tinham esse direito de se pronunciar?

O Novo liberou os filiados do partido para se manifestar, mas deixou muito claro que nós liberamos e dissemos na nota que nós não apoiaríamos o PT. A pessoa pode votar nulo, pode apoiar quem quiser, mas não acho que é esse o problema.

O problema é essa série de confusões que vem acontecendo em relação ao partido. Se está há muito tempo falando mal do partido, critica o partido, toda vez que se manifesta publicamente é para aumentar dissidências ou criar contraponto, e a única vez em que se manifesta oficialmente é endossando o Lula? O problema não é exatamente o endosso ao Lula. É o que vem acontecendo.

As pessoas vêm criando uma falsa narrativa de que o Lula é o salvador da democracia, ignorando todos os fatos e evidências de como é que foi a trajetória do Lula. Isso é a coisa que mais me choca. Inclusive ele, que sempre se manifestou contra o Lula, o PT, o desmando, a corrupção, o não respeito às regras do jogo, endossa o Lula. E os dados e fatos que você passou a vida criticando? São ignorados?

Ele falou que continua com críticas e restrições ao PT.

Então por que não vota nulo? Se continua com a restrição ao PT e não gosta do Bolsonaro, qual é a escolha? É votar nulo.

O sr. fez um apoio formal ao Tarcísio em SP, mas não fez apoio formal ao Bolsonaro. Não haverá apoio a ele de sua parte? Seu voto é nulo?

Eu disse isso a campanha inteira e vim repetindo 200 vezes, porque acho que essa é a postura. Você tem que ser de acordo com os valores em que você acredita e defende.

Qual é o valor do voto nulo na sua opinião?

Acho que se você se sente desconfortável com um ou outro, a escolha que você tem é não votar, ou votar nulo. Você pode assumir o voto em qualquer pessoa, e eu sou a favor disso. Agora, criar uma justificativa, uma narrativa moral, de que o Lula é o defensor da democracia brasileira, o salvador da democracia, é hipocrisia. É um negócio inacreditável.

Ele diz que com Bolsonaro o risco é ‘substancialmente maior’.

Estou falando da justificativa que as pessoas estão encarando para votar no Lula. E o Amoêdo também está escolhendo o mal menor, dando sua justificativa para um mal menor. Fiz uma campanha inteira baseado em que não podemos escolher o mal menor. Temos que ter responsabilidade pelas nossas escolhas. Toda vez que você relativiza princípios morais, você colabora para a degeneração da democracia e da liberdade.

Você não votava no Hitler e no Mussolini porque você falava: "esse combate a anarquia, combate o comunismo, faz a economia crescer". Essa não era a justificativa moral? Bom, deu no que deu. Tinha a justificativa moral dos intelectuais apoiando Stalin, Cuba ou Venezuela. Esquece as atrocidades, os dados e os fatos, em nome de um bem maior, uma sociedade mais justa.

Toda vez que você entra no relativismo moral das suas escolhas, você corrobora para destruir aquilo que você está dizendo que está defendendo, que é a democracia e a liberdade.

No seu último debate, o sr. foi chamado de linha auxiliar do Bolsonaro, até comparado ao Padre Kelmon como linha auxiliar. O que achou desse tipo de comparação?

Não dou importância. Nesse momento de radicalismo, cada um tem a sua audição seletiva para combinar com suas escolhas. Antes de atacar o Lula, eu tinha respondido ao Bolsonaro, que me questionou sobre relações com o Congresso. E eu disse que é muito triste ver um governo criar ou apoiar o orçamento secreto, que é igual ao mensalão. Isso é esquecido. Por isso não quero falar sobre política, porque está tão poluído que não vale a pena.

O único ponto que estou colocando aqui é que você não precisa fazer justificativa moral para as suas escolhas. É absolutamente incoerente quem diz que apoia o Lula para defender a democracia e a liberdade. Se está relativizando os princípios fundamentais da democracia e da liberdade. É isso que mostra a história. É justamente a sequência de relativização de princípios que leva o país a eleger, por meio democráticos, os ditadores.

Em 2018, o Romeu Zema, então candidato ao governo de Minas, pediu voto em Bolsonaro antes do 1º turno, quando Amoêdo ainda estava na disputa, e isso gerou discussão sobre infidelidade partidária de Zema. Tem analogia com essa conversa de hoje?

Eu não estava no partido, não sei exatamente como foi esse episódio. Provavelmente, foi analisado pela comissão. E esse [caso] também vai ser analisado.


Raio-X

Concorreu no 1º turno da disputa presidencial pelo partido Novo nas eleições deste ano e foi coordenador do programa de governo de Geraldo Alckmin para a Presidência em 2018. É graduado em ciências políticas pela Universidade Americana em Paris e tem mestrado em administração pública pela Harvard Kennedy School.

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