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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Precisamos de regra que iguale carga tributária de empresa do Brasil e da China, diz empresário

Alexandre Ostrowiecki, da Multilaser, afirma que situação atual de importação não é sustentável

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São Paulo

"A taxação tem que ser igual para todos, nem um centavo a mais nem a menos", afirma Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser, diante do debate levantado nesta semana sobre a isenção do imposto de importação nas encomendas de até US$ 50.

"Não é sustentável uma situação em que os brasileiros sofram gigantesca carga tributária para produzirem aqui enquanto os produtos entram de fora sem pagar", diz o dono da empresa brasileira, cujo portfólio, de mais de 7.000 itens reúne desde tablet e smartphone até equipamento esportivo e brinquedo.

Ele foi um dos empresários que, no começo do ano passado, participaram do movimento puxado por gigantes do varejo para combater o chamado camelódromo digital, quando a Receita começava a estudar medidas sobre o assunto.

"Entendo totalmente a raiva de muita gente na internet que consegue, por meio das plataformas, comprar produtos acessíveis e se deparam com os altos preços no Brasil. É importante direcionarmos essa raiva para a verdadeira culpada: a carga tributária absurda que o Brasil impõe sobre produtos de consumo", afirma.

Alexandre Ostrowiecki, diretor-presidente da Multilaser - Adriano Vizoni/Folhapress

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O sr. é um dos empresários que já vinham há bastante tempo alertando sobre a entrada de produtos sem pagar impostos no Brasil. O que acha da ideia de acabar com a isenção das encomendas até US$ 50? Produtos de consumo brasileiros abaixo de US$ 50 já pagam atualmente impostos de cerca de 45% no Brasil, sem exceção. Não é sustentável uma situação em que os brasileiros sofram gigantesca carga tributária para produzirem aqui enquanto os produtos entram de fora sem pagar nada.
A taxação tem que ser igual para todos, nem um centavo a mais nem a menos.

Acha que essa medida é suficiente para resolver o problema que as empresas brasileiras apontam como concorrência desleal? Precisamos de regras que igualem a carga tributária de empresas brasileiras e chinesas, sem atrapalhar a liberdade de competição e ofertas para os consumidores.
Não adianta termos impostos exclusivos para brasileiros. Se a empresa brasileira paga cerca de 45% enquanto a estrangeira paga zero, isso vai, com absoluta certeza, levar ao fechamento da maior parte das indústrias e comércios do país e gerar uma massa de desempregados sem precedentes.

Esse assunto levantou uma reação forte entre os usuários das redes sociais contra o fim da isenção. Acha que isso pode atrapalhar o avanço da medida? Entendo totalmente a raiva de muita gente na internet que consegue, por meio das plataformas, comprar produtos acessíveis e se deparam com os altos preços no Brasil. É importante direcionarmos essa raiva para a verdadeira culpada: a carga tributária absurda que o Brasil impõe sobre produtos de consumo, fazendo os produtos brasileiros custarem o dobro do que deveriam. Esse é o centro da discussão.

Nós precisamos baixar os impostos sobre consumo, como IPI, PIS, Cofins, ICMS, e com isso baratear os produtos de todos.

Na sua opinião, falta conscientização sobre a sonegação que pode acontecer nesse tipo de compra? Esse tema foi agravado por muita desinformação nas redes sociais, manipulação e meias verdades, muitas vezes para fins políticos. Quem olhar para o assunto de maneira calma e equilibrada vai chegar à conclusão de que o problema precisa ser resolvido colocando uma carga tributária mais baixa para todos.

A situação atual, de subfaturamento, fraudes por parte de exportadores que se fazem passar por pessoa física e produtos falsificados não é sustentável. Isso se agrava em algumas categorias, como brinquedos, por exemplo, em que encontramos produtos sem certificação de segurança e com materiais tóxicos para crianças.

O setor de brinquedos tem alertado sobre essa questão do Inmetro. Segmentos de bebidas também levantam essa preocupação com a segurança dos produtos que entram nessa situação. No caso do eletrônico, tem também o agravante de segurança além do aspecto de arrecadação e concorrencial? No caso de brinquedos, certamente a preocupação com segurança é muito maior, porque já foram evidenciados casos de substâncias tóxicas nos produtos, colocando a vida de crianças em risco.

Mas os eletrônicos não deixam de gerar preocupação, especialmente pelas baterias. Se não forem de ótima qualidade e homologadas pelos padrões mais estritos, podem até gerar incêndios e explosões em casos extremos.

O problema do juro alto é outro assunto que tem incomodado o setor privado atualmente. O sr. vislumbra alguma melhora? Os juros altos são, infelizmente, a consequência natural de décadas de irresponsabilidade fiscal no Brasil cometidas por sucessivos governos, de diferentes partidos.

Enquanto houver buraco nas contas públicas, o governo precisará obrigatoriamente imprimir dinheiro, gerando inflação e forçando o Banco Central a manter juros altos para equilibrar a economia. A única solução eficaz para o problema dos juros é deixar o Estado brasileiro mais eficiente.


Raio-X

O empresário, que hoje é diretor-presidente da Multilaser, foi co-CEO da companhia entre 2003 e 2018. Formado em administração de empresas pela Eaesp-FGV, tem MBA na área pelo Ibmec e uma especialização em gerência pela Harvard Business School. Antes, trabalhou no departamento de finanças da Unilever e na área de estratégia da Accenture.

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