Em novo depoimento à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, negou ter tido acesso a informações privilegiadas e afirmou ser o maior acionista individual da varejista. Os papéis foram dados pela companhia como parte de sua remuneração.
A declaração é parte da estratégia de sua defesa, que tenta inocentá-lo da acusação de que ele sabia que as inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões na companhia seriam reveladas dias após deixar o cargo, gerando uma derrocada no preço das ações — e em seu patrimônio. A empresa segue em recuperação judicial com uma dívida de R$ 42,6 bilhões.
Gutierrez comandou a Americanas por mais de duas décadas e está sendo acusado pela atual gestão de ter liderado um esquema fraudulento em benefício próprio e dos demais diretores.
Por supostamente ter ciência do que ocorreu "na cozinha" da varejista, ele teria vendido ações para evitar perda significativa após a desvalorização.
No entanto, à CVM, Gutierrrez afirmou ter se desfeito de uma fatia pequena de seu estoque de ações da rede que comandou —algo entre 10% e 20% do total— permanecendo com uma posição significativa.
Informou ser o maior acionista individual da Americanas e um dos dez maiores acionistas minoritários.
Pessoas que acompanham as investigações afirmam que chamou a atenção da CVM o fato de Gutierrez ser o maior acionista individual, mas que isso não afasta as suspeitas de "inside information". As investigações continuam.
Procurada, a CVM disse que não comenta casos específicos e que há sigilo no processo.
Braço direito
O ex-CEO da Americanas era o homem de confiança dos controladores (Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles), hoje acionistas de referência da empresa, com pouco mais de 30% de participação.
Ele foi substituído por Sergio Rial, em janeiro deste ano. A informação de que a troca ocorreria foi feita em agosto de 2022.
Nesse período, houve uma alta expressiva —e atípica— da venda de ações da Americanas, o que gerou abertura de inquérito pela CVM.
No segundo semestre de 2022, executivos da empresa venderam 14,1 milhões de ações, quase cinco vezes a quantidade negociada entre maio de 2019 e junho de 2022, segundo dados da empresa compilados pela Ferramenta Radar de Insiders, da Plataforma Quantzed. Essas operações renderam R$ 244,3 milhões em ações.
Com Diego Felix
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.