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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Em dez anos, ninguém vai mais cozinhar, diz presidente do iFood

Fabricio Bloisi, fundador do maior aplicativo de entregas da América Latina, prevê que preço da comida feita fora de casa compensará o abandono do fogão

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Brasília

CEO e dono do iFood, a maior plataforma de entregas da América Latina, Fabrício Bloisi realizou uma das maiores campanhas publicitárias do carnaval em Salvador, sua cidade natal, São Paulo e Rio de Janeiro. A cada trecho do circuito Barra-Ondina, a musas Ivete Sangalo e Daniela Mercury diziam aos foliões que o iFood é brasileiro. A empresa foi até tema de um dos hits do trio elétrico de Bell Marques com letra do publicitário Nizan Guanaes e música de Carlinhos Brown. A marca foi exibida em trios elétricos, prédios, viseiras, outdoors, uma exposição que Bloisi agora quer aproveitar para dar o próximo passo.

Fabricio Bloisi, CEO do iFood, na sede da empresa em Osasco, na Grande São Paulo
Fabricio Bloisi, CEO do iFood, na sede da empresa em Osasco (SP) - Bruno Santos - 17.nov.2022/Folhapress

Além dos patrocínios, que usa para reforçar a brasilidade do grupo, ele investe milhões por ano para que todos os 320 mil entregadores da plataforma tenham, ao menos, ensino básico.

Até música do iFood Bell Marques cantou no carnaval de Salvador para reforçar que o grupo é brasileiro. Por que veicular essa mensagem neste momento?
Todo mundo acha que o iFood é estrangeiro, e não é. De fato, a gente incluiu muito isso no carnaval, mas a grande campanha é ser chamado de BBB, uma brincadeira com o patrocínio nosso ao Big Brother Brasil, por ser uma empresa brasileira, boa e barata. Passamos a comunicar essa mensagem como estratégia para o próximo passo.

Que é…
Acho que, entre cinco e dez anos, vai começar a ser tão barato [pedir comida feita fora de casa] quanto comprar no mercado e fazer. Assim como a gente não produz mais roupa em casa, nem educa as crianças em casa, digamos assim. Receber uma comida de qualidade, saudável, no preço que você teria, fazendo em casa, só que sem o trabalho de fazer. Acho que isso é uma tendência para acontecer em dez anos. O desafio é fazer o iFood cada vez mais popular não só nas classes mais altas, mas, sobretudo, nas mais baixas. É incluir restaurantes com comida boa e barata para que, na ponta do lápis, compense [do ponto de vista do custo] fazer o pedido [em vez de ir para o fogão].

Homem sorri e faz sinal de joia com a mão direita
Fabricio Bloisi, CEO do iFood, no Bloco 2222 do Carnaval na Bahia - Divulgação - 14.fev.2024

Foi o maior gasto de publicidade de carnaval da história?
Não, não gastamos dinheiro como nunca. Investimos 10% mais do que no ano passado [os números não são abertos], mas a campanha foi bem planejada e executada com muito axé [risos]. Um dos hits do trio de Bell Marques falava do iFood. Teve letra do publicitário Nizan Guanaes e música de Carlinhos Brown. Do alto do trio, Ivete Sangalo e Daniela Mercury diziam o tempo todo que somos um grupo brasileiro. E concentramos os investimentos em Salvador, Rio e São Paulo, centros que respondem por cerca de 15 milhões de pessoas.

Qual o retorno que isso gera?
O foco não é só crescer, embora isso estimule as vendas diretas também. É valorizar ainda mais a marca, que não existia há dez anos e hoje é a mais amada do país [segundo pesquisa da Netlovescore]. Saímos de 45 milhões para 60 milhões de clientes, entre março de 2023 e este ano, e o volume de pedidos saltou de 38 milhões de pedidos para 88 milhões por mês.

São quantos entregadores?
Quase 320 mil e estamos investindo R$ 50 milhões por ano em ações sociais. Nossa meta é obrigar que todos tenham, ao menos, ensino médio [completo]. Do total de todos os inscritos no Encceja [ Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos], 2,5% eram entregadores do iFood. Cerca de 5.200 foram aprovados e 25 mil já fizeram os cursos que a gente propôs só no ano passado. A meta é que todos os entregadores tenham segundo grau completo. Hoje 70 mil não têm. Neste ano, teremos cerca de mil entregadores formados no ensino médio.
A gente quer ter um impacto gigante. Estender isso para o restante da cadeia, garçons, restaurantes. Todo mundo tem que ter o segundo grau e, depois, cursos remotos. Hoje já existem cerca de 100 [cursos], que incluem desde finanças até noções de empreendedorismo. Queremos levar o ecossistema inteiro a andar mais rápido.

Mas eles não deixam o iFood quando têm mais formação?
A gente realmente não está pensando nisso. E se ele sair porque encontrou um trabalho melhor, ótimo.

O presidente Lula queria uma relação trabalhista mais bem definida para entregadores. Como estão essas conversas?
Nossa proposta para o grupo de trabalho no governo continua ativa, mas não se chegou a uma fórmula. Acreditamos fortemente que gerar trabalho via aplicativo é uma tendência. Defendemos emprego, salário e previdência [para a categoria]. Mas é importante que o Brasil olhe para os próximos 10 ou 20 anos e que as regras sejam modernas e flexíveis, que a gente não sucumba a repetir a fórmula da CLT [Consolidação das Leis Trabalhistas].

O jornalista viajou para Salvador a convite do iFood


Raio-X | Fabricio Bloisi

Natural de Salvador (BA), Bloisi é CEO do Ifood desde 2019. Fundou, em 1998, a empresa de software de celulares Movile, que se tornou sócia majoritária do Ifood e acabou incorporada pelo marketplace de alimentos em 2023. Formado em ciência da computação pela Unicamp, possui MBA em administração pela FGV e fez cursos de liderança empresarial nas universidades de Stanford e Harvard (EUA).

Com Diego Felix

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