CEO da Gama Investimentos, Bernardo Queima afirma que a situação fiscal brasileira já obrigou a gestora a destinar R$ 1,5 bilhão em aplicações para a renda fixa, no Brasil e nos EUA.
Para ele, esse dinheiro antes girava na economia financiando projetos que geram emprego.
A situação só não é pior porque os investidores finais, poupadores de carne e osso, não se deram conta de que, nos EUA, os juros reais de quase 5% ao ano tornam ainda as aplicações de renda fixa mais atrativas —algo que aumenta mais a pressão cambial no Brasil, retroalimentado a inflação.
O dólar disparou, isso pode retroalimentar a inflação e elevar os juros. Para o investidor, isso é bom?
O entendimento de que juros elevados são bons para o mercado financeiro é errado. A função dele [mercado] é fazer o dinheiro circular. Com juros elevados, todo o dinheiro vai para investimentos em títulos públicos ou para renda fixa. Ambos não significam investimentos ou crescimento econômico. Apenas financiam a dívida do governo.
Por isso, empresários já começam a reclamar?
Você começa a ver a Bolsa sofrendo e empresários com dificuldade para captar recursos, porque há concentração [de dinheiro] nas mãos do governo.
O senso comum diz que o mercado nunca perde.
A indústria de gestão de recursos, fundos e ações, no Brasil está sofrendo muito. Os multimercados registram resgates relevantes. Uma parcela importante do mercado financeiro é penalizada com a decisão de fundos de pensão, que, para bater a meta atuarial, só precisam comprar títulos públicos [renda fixa]. Esse investidor institucional acaba não circulando esse dinheiro para outras coisas, que fomentam investimento e emprego.
É o momento da renda fixa, então?
No Brasil e lá fora. Nos últimos 12 meses, só para renda fixa internacional a gente captou R$ 1 bilhão. E nos últimos seis meses, meio bilhão.
Os juros nos EUA aumentam essa procura?
É super atrativo. Mas o mercado precificou somente um corte de juros [nos EUA].
Essa procura por investimentos nos EUA não desvaloriza ainda mais o real?
O investidor final ainda não fez uma conexão direta entre a parte fiscal [do Brasil] e o investimento dele. Se tivesse feito, a procura pela renda fixa lá fora deveria acelerar.
Os dados mostram que essa preocupação com relação ao fiscal ainda está muito concentrada nos agentes financeiros, os profissionais de investimento, que pedem mais prêmio pelo risco fiscal brasileiro.
Mas há espaço para uma alta ainda maior do dólar?
Não acho que [os agentes financeiros] operem com perspectiva zero de corte de gastos [pelo governo brasileiro]. Se fosse isso, o dólar poderia caminhar ainda mais. As pessoas estão esperando para ver os próximos passos. Existe uma expectativa que o governo apresente um arcabouço e, se não cumprir, pode ocorrer um descolamento ainda maior.
Raio-X | Bernardo Queima
Formado em Negócios pela PUC-RJ, fez carreira no mercado financeiro. Atuou no BBA Icatu (199-2003), Icatu Hartford (2003-2008) e Itajubá Investimentos (2008-2012). É sócio da HMC Capital e, como CEO da Gama, administra R$ 4,3 bilhões em investimentos
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