Descrição de chapéu Governo Lula

'Comunicação bem-feita melhora tudo', diz Haddad após queda do dólar

Ministro esteve com Lula, que afirmou que responsabilidade fiscal é compromisso, dias após pôr corte de gastos em xeque

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) indicou na noite desta quarta-feira (3) que a redução nos ruídos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contribuiu para o alívio o dólar, que fechou o dia cotado a R$ 5,568.

"Comunicação bem-feita melhora tudo", afirmou Haddad a jornalistas quando saía do Ministério da Fazenda para uma reunião com Lula e ministros da área econômica no Palácio do Planalto.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fala com jornalistas em frente à sede da pasta - Gabriela Biló -26.jun.2024/Folhapress

Na manhã desta quarta, Haddad esteve com Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, em encontro fora da agenda oficial. Interlocutores do ministro da Fazenda afirmam que o encontro serviu para alinhar o discurso.

Nesta tarde, Lula disse que gasta quando é necessário e que não joga dinheiro fora. Ele também afirmou que responsabilidade fiscal é compromisso de sua gestão.

"Aqui nesse governo a gente aplica dinheiro necessário, gasto com edução e saúde quando é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra, é compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá ele à risca", disse em discurso no lançamento do Plano Safra Agricultura Familiar, no Planalto.

O aceno de Lula contrasta com falas do próprio presidente nos últimos dias. O petista chegou a colocar em xeque a necessidade de contenção de despesas ao dizer, na quarta-feira passada (26), que primeiro precisa "saber se precisa efetivamente cortar" gastos.

Na esteira dessas e de outras declarações com críticas ao Banco Central, a cotação do dólar escalou e chegou a bater a marca de R$ 5,70 durante os negócios desta terça-feira (2).

Um dia depois, o dólar registrou queda de 1,72% diante de fatores externos e também das novas sinalizações de Lula.

Como mostrou a Folha, auxiliares do presidente já vinham defendendo moderação em suas falas para evitar um agravamento ainda maior do quado econômico. A alta prolongada do dólar poderia impactar a inflação e levar o BC a subir a taxa de juros, hoje em 10,50% ao ano.

O próprio ministro da Fazenda havia atribuído a piora nos mercados a "ruídos" na comunicação do governo.

Um ministro ouvido pela reportagem reconhece que há uma grande desconfiança quanto à capacidade do governo de cumprir as regras do arcabouço fiscal, que se agravou com reveses no Congresso Nacional e a perspectiva de um crescimento mais acelerado de despesas obrigatórias.

Na avaliação desse integrante do governo, Lula reagiu à pressão do mercado e subiu o tom nos dias anteriores para demarcar uma espécie de limite do que ele aceita para cumprir o ajuste nas contas.

O presidente deu declarações públicas contra mudanças na política de valorização do salário mínimo (que impacta a Previdência Social) e a desvinculação entre benefícios sociais e o piso nacional. Ele também descartou limitar o crescimento dos mínimos em Saúde e Educação.

Ao blindar justamente alguns dos maiores componentes do Orçamento, Lula deixou a equipe econômica sem muita margem de manobra para coordenar as expectativas sobre a trajetória futura dos gastos públicos.

A avaliação de integrantes do governo é que a conversa no Palácio do Alvorada serviu para "colocar água na fervura" e que o presidente deve refluir em suas declarações, abrindo espaço para a equipe econômica buscar um meio-termo e conciliar as estimativas para o Orçamento tanto de 2024 quanto de 2025.

Outro ministro ouvido pela Folha afirma que o maior desafio neste momento é convencer os agentes econômicos de três pontos essenciais: que o governo vai cumprir a meta fiscal, que o contingenciamento de despesas para atingi-la será do tamanho que for necessário e que não há hipótese de mudar o arcabouço fiscal.

Esses têm sido justamente os sinais mais cobrados pelo mercado financeiro diante da ampliação das incertezas fiscais.

No curto prazo, uma das principais apostas da área econômica é a revisão cadastral de benefícios da Previdência Social e do BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Há também um cardápio mais amplo de medidas possíveis, mas qualquer decisão vai depender de Lula.

Segundo um ministro, o presidente precisa ter conforto em defender as medidas.

Lula participa na noite desta quarta de outro encontro com os ministros da área econômica para tratar da situação fiscal e de possíveis ações para equilibrar o Orçamento.

Além de Haddad, participam os ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Rui Costa (Casa Civil) e Esther Dweck (Gestão e Inovação) —integrantes da JEO (Junta Econômica Orçamentária)—, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, e o secretário especial de Análise Governamental da Casa Civil, Bruno Moretti.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.