O debate sobre as questões relacionadas ao racismo e às formas de combatê-lo tem se intensificado na sociedade brasileira, especialmente nas organizações e entidades do terceiro setor. Torna-se premente que ele passe a fazer parte do rol das prioridades das empresas privadas e do poder público para entrar definitivamente na agenda de debates nacional.
Como mulher, negra e diretora estatutária da Fundação Dom Cabral (FDC), onde atuo também como líder do Centro Social Cardeal Dom Serafim, tenho participado de eventos e atividades relacionados ao tema.
Uma das iniciativas ocorreu quando conduzi o podcast "Racismo – Mecanismos para Maior Equidade Social", realizado na série "Aspirações Brasileiras", que integra a iniciativa Imagine Brasil, da FDC.
A conversa contou com a participação da advogada Mariana Ferreira dos Santos, conselheira independente do Comitê Externo do Grupo Carrefour, membro do Grupo de Juristas Negros do Rio Grande do Sul e do Grupo de Pesquisa em Antirracismo da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Destacamos que vivemos um cenário de racismo estrutural e que essa é uma realidade com a qual precisamos lidar de maneira aberta e clara.
Temos um conjunto de práticas arraigadas na sociedade com características históricas, culturais, sociais e interpessoais que prejudicam a população negra e causam enormes disparidades que precisam ser combatidas. E o mais grave é o fato de essas práticas serem consideradas, muitas vezes, como naturais no país.
Elencamos algumas das iniciativas que devem se tornar prioritárias nas organizações do primeiro, segundo e terceiro setores —respectivamente, Estado e a administração pública, empresas privadas e organizações sociais.
Na troca com Mariana Ferreira, ficou claro que o setor público deve investir na representatividade e priorizar ações afirmativas com políticas públicas que garantam empoderamento social e econômico à população negra, que hoje representa 56% dos brasileiros.
Empresas privadas precisam priorizar ações antirracistas, com metas e objetivos claros, tanto do ponto de vista interno, com seus funcionários, como externo, junto aos stakeholders, para que se destaquem em seus segmentos como importantes atores também nesse aspecto.
O terceiro setor precisa trabalhar para o fortalecimento institucional dos movimentos e das pautas antirracistas, assim como na proteção dos ativistas, fornecendo à sociedade e aos outros setores o conhecimento necessário para embasar as ações, por meio de dados e estudos.
Para completar essa reflexão, avalio que precisamos destacar a importância de o setor público atuar para a implementação dos chamados Orçamentos Sensíveis a Gênero (OSG), conforme aborda publicação da Fundação Tide Setubal sobre o tema.
Ao analisar essas iniciativas, podemos afirmar que empresas privadas devem se preocupar em combater comportamentos que possam reproduzir o racismo no âmbito da cultura empresarial.
Assumir que falta equidade de gênero, de raça e mesmo etária é assumir ser preciso desenvolver planos de ação para reduzir as desigualdades.
Deve-se estipular prazos para garantir a ascensão de pessoas negras aos espaços de liderança, de gestão e dos conselhos empresariais, dando o exemplo de dentro para fora, junto aos stakeholders, com destaque para comunidades, clientes e para a cadeia de fornecimento.
Afinal, concluímos, nesta luta não basta não ser racista. É preciso, mais do que nunca, ser antirracista.
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