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A era da inteligência artificial requer aprendizado constante de nós, humanos

Ao final do maior festival de inovação do mundo, o SXSW, a conclusão é de que ponto maior de atenção é a educação, e não a tecnologia

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Karin Baumgart Srougi

Bacharel em direito, fundou e preside o Conselho do Instituto Vedacit, é membro do Conselho de Administração e do Conselho de Família do Grupo Baumgart e conselheira do ICE, do Instituto Center Norte e do Instituto Criança é Vida

Depois de muita ficção científica, a era da inteligência artificial entrou com tudo na vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Isto gerou um impacto que permanece nebuloso até mesmo para quem está vivendo e atuando nessas transformações.

Não à toa, nos últimos dias, Elon Musk e centenas de especialistas internacionais pediram uma pausa de seis meses para suas pesquisas.

Nesta edição do SXSW, festival de inovação e criatividade que acontece em Austin, Texas (EUA), percebemos, claramente, o quanto a ciência trabalha para sair da tecnicidade do laboratório e rapidamente chegar às ruas, tornando vidas melhores.

Evento SXSW, no Texas (EUA), destacou tecnologias criativas emergentes na edição deste ano - Li Bo/Xinhua

Exemplo disso foi a parte da feira dedicada a experiências imersivas. Por meio de um óculos 3D, era possível viajar até a Ucrânia e vivenciar cenários e pessoas que foram totalmente destruídos pela guerra. Essa imersão permitiu que os participantes se colocassem no lugar do outro e vivessem aquela realidade.

Outras iniciativas envolvem a todos, mais diretamente. Ter acesso à tecnologia é só a parte inicial do desafio. Saber como usá-la é o centro da questão.

E para muito além de saber seguir tutoriais, da aprendizagem funcional, a questão é entender o impacto de cada um na trajetória pessoal, da comunidade e do planeta. E é aí que entra nosso ingrediente único: a educação de qualidade.

Gosto de relembrar Paulo Freire: "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção."

Quando dependemos de uma inteligência artificial para criar livros, treinamentos, vídeos e tantas referências mais, precisamos ser capazes de olhar para o conteúdo e interpretá-lo à luz do nosso repertório pessoal, dos nossos valores e nossas crenças.

Óculos 3D revive cenários e pessoas destruídos pela guerra da Ucrânia durante festival de inovação e criativade no Texas (EUA) - Reuters

A inteligência artificial processa informações e as conjuga de acordo com a ordem que recebeu. Então, a pessoa que dá essa ordem, primeiramente, tem a missão de escolher as palavras certas para alcançar determinado resultado.

Em um país como o Brasil, com grande percentual de analfabetismo funcional, abre-se uma brecha gigante para distorções.

Este mundo, envolto em tecnologia, precisa ter sujeitos capazes de ler criticamente a realidade na qual estão inseridos.

Novamente, o ponto de atenção deixa de ser a tecnologia. Volta-se à educação: desenvolver o pensar e aprender a aprender.

E essas lições começam na primeira infância, com acesso à escola e a professores preparados para incentivar questionamentos a partir de argumentos embasados por contextos.

Sem isso, vira-se refém da inteligência artificial. E de conexões feitas pela máquina, por um humano que a programou e ajustou o algoritmo, com seus vieses e escolhas.

Quando se pensa em educar cidadãos, estende-se esse esforço para além das ciências exatas. O sentimento de pertencimento, tão fundamental para mover comunidades, gerar colaboração e conexão, também é fomentado desde pequeno, na escola e em casa. Isso quando há qualidade na educação.

Aliás, uma preocupação que permeou as palestras do SXSW foi exatamente como fomentar um mundo de pessoas conscientes das partes e do todo, que trabalhem para criar um mundo mais inclusivo e igualitário.

Nesse sentido, já que é tempo de repensar a inteligência artificial, fica uma sugestão: que se comece por discutir como investir, primeiramente, em preparar pessoas para lidar com a tecnologia e com os conteúdos gerados por ela, de maneira crítica e reflexiva.

Ao incentivar a educação de qualidade, a produção do conhecimento se torna alinhada com a perspectiva de construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

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