O turismo brasileiro vive um momento único de expectativas e oportunidades de forte crescimento após a retração causada pela pandemia e pelo vácuo de estratégias dos últimos anos.
Viagens domésticas já vivem o impulso, com alta de 30% em 2022, mas o turismo internacional ainda tem muito a crescer para atingir o patamar anterior à crise sanitária. Quais são os grandes diferenciais brasileiros para atrair esses turistas?
Dados indicam que o país recebeu, em 2022, pouco mais de 3 milhões de visitantes internacionais —fluxo 43% inferior ao período pré-pandemia— e com queda de 30% nos gastos dos visitantes.
Hoje, o Brasil recebe menos visitantes que a Torre Eiffel e diversas ilhas do Caribe. E nem precisa ir longe: a vizinha Colômbia estima ter recebido 5 milhões de turistas, sendo o país latino que mais recebeu estrangeiros, principalmente americanos.
O que esses destinos tão próximos oferecem que nós não temos?
Nosso vasto litoral de águas cristalinas poderia superar vários caribes. Mas o visitante não é atraído somente pela paisagem, mas também pela cultura, história, gastronomia, entre outros elementos.
No Caribe ou na Colômbia, essas representações estão associadas ao que temos de melhor: as heranças negras e nossa diversidade cultural, as maiores riquezas para o turismo.
E o que nós temos que eles não tem: samba, maracatu, congadas, carimbó, capoeira, feijoada, moqueca, acarajé, blocos afro, festas populares, terreiros e muitos outros patrimônios materiais e imateriais.
A visibilidade e promoção desses ativos da cultura negra podem ser uma alavanca para o turismo, abrindo o país a novos mercados e gerando oportunidades de renda e desenvolvimento para a população negra e toda a sociedade.
Em um país com graves problemas sociais, desde turismo sexual até a negação de sua identidade e memória, o comprometimento com a agenda do afroturismo é uma estratégia sólida para o crescimento do setor.
Em 2022, o volume de vendas de experiências e roteiros do segmento dobrou em comparação com o ano anterior. Em relação a 2019, o crescimento é de quatro vezes —considerando apenas as reservas na plataforma Diaspora.Black.
A performance chama atenção do mercado. A WTM, principal feira global do turismo, que acontece na próxima semana em São Paulo, contará com mesas e sessões temáticas para aproximar o segmento de agências e operadoras de todo o mundo.
A feira também realiza o Prêmio de Turismo Responsável e, pela segunda vez consecutiva, a Diaspora.Black é finalista. Um reconhecimento pelo fomento ao afroturismo, com ações de mapeamento, treinamentos, promoção e comercialização de roteiros.
Mas é fundamental a ação de agentes públicos para que o potencial do segmento seja convertido em oportunidades econômicas para a comunidade negra.
Na última semana, nos juntamos à Embratur para contribuir com estratégias para promoção dos atrativos no turismo internacional, como um calendário nacional de atividades e a qualificação dos profissionais.
E convidamos outras iniciativas e agentes do afroturismo a colaborar também, com um encontro do segmento com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.
Há caminhos e iniciativas importantes sendo construídas, como em Salvador, onde a prefeitura, via BID/Prodetur, investe R$ 15 milhões no desenvolvimento do setor. Em São Luís e no Rio de Janeiro, são desenvolvidas ações de fomento a roteiros, como o Quilombo Cultural Liberdade (MA) e o Circuito Pequena África (RJ), já de olho na crescente demanda, especialmente de turistas afro-americanos.
Atrativos não nos faltam. Temos um vasto patrimônio negro a celebrar e promover, como ação transversal para valorizar a identidade negra no país e atrair visitantes interessados em conhecer nossas riquezas.
Falta o trade turístico se qualificar para atender de forma inclusiva os novos perfis de visitantes e, sobretudo, abrir os olhos para além de mercados saturados e produtos carentes da autenticidade que o turista responsável busca.
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