A solidariedade é algo tão importante que foi transformada em KPI, métrica para avaliação de desempenho. O World Giving Index de 2023, da Charities Aid Foundation, divulgado neste mês, traz o desempenho da generosidade em 142 países.
Vale a pena conferi-lo. Principalmente porque, se olharmos para a performance brasileira deste ano, há motivos de alerta. As boas posições alcançadas nos últimos anos não se mantiveram em 2022.
O Brasil havia alcançado o 18º lugar entre as nações, contudo, neste levantamento de 2023, caiu para a 89ª posição. Ficam, portanto, algumas indagações. O que isso quer dizer? O Brasil está doando menos?
Ou, tendo em vista renda média da população, doa muito? Que estratégia podemos ter para consolidarmos uma cultura de doação mais estável?
Em outro levantamento, a terceira Pesquisa Doação Brasil, do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), somos informados, em contrapartida, que cresce o número de doadores brasileiros e o valor de suas doações.
Segundo suas conclusões, 84% dos maiores de idade, com renda superior a um salário-mínimo, doaram ao menos uma vez no ano passado. É mais do que em 2020, quando 6 entre 10 brasileiros fizeram este gesto. E o valor desembolsado também: no ano passado, o valor da mediana das doações era de R$ 300, R$ 100 a mais que há dois anos.
Deixando os números de lado, é importante ter em mente que a cultura de doação em um país é um bom termômetro para avaliar sua cidadania. Quanto mais um país doa, mais a cidadania é ativa e consciente.
É possível afirmar, ainda, que doações embutem sonhos. Muitas vezes, indicam caminhos à margem do Estado ou de mãos dadas com ele, para o desenvolvimento de projetos caros à sociedade.
Doações têm o efeito, por fim, de criar laços de pertencimento. Quem doa sente-se intimamente ligado ao destino dos projetos, das causas, ações e iniciativas por ele apoiados.
Mais do que nunca, é hora de doar. Hoje, 28 de novembro, é o Dia de Doar. A data foi instituída originalmente nos Estados Unidos, na sequência da BlackFriday e do CyberMonday. Desde o seu início, é comemorada na primeira terça-feira que sucede estes dois momentos de consumo intenso, conclamando consumidores a repensarem seu papel. Afinal, doar pode ser tão importante quanto consumir.
O tema está em pauta. Há um campo fértil por ser arado. Talvez possamos multiplicar ou ampliar os canais confiáveis para que doações maiores e mais constantes sejam feitas. É fundamental, ainda, garantir que o recurso do doador chegue na ponta com transparência e eficácia — bem como o acompanhamento do que se passa na ponta, uma vez que o recurso lá chegou.
Há quase uma década, as organizações da sociedade civil, muitas das quais têm uma agenda ativa de impactos socioambientais positivos, têm sido fundamentais nesse sentido, devido à confiança que estabelecem com seus parceiros e doadores.
A verdade é que temos muito o que aprender para melhor trilhar a estrada da doação. Principalmente se o fizermos construindo parcerias, envolvendo comunidades locais, ampliando o acesso a recursos e fortalecendo a transparência e a governança desses fluxos de recursos e iniciativas.
Em resumo, é importante galgar novamente posições melhores nos rankings locais e globais do bem fazer. E novas conquistas na consolidação da cultura de doar passam por elas para sermos ainda mais efetivos em cada passo desse trajeto. Quem está na ponta agradece e tem pressa.
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