Quando se fala de meio ambiente, as mentes tendem a voltar-se para a Amazônia. Mas é necessária a atenção para os seis biomas brasileiros, da caatinga ao pampa. Quando a atenção se volta mais a um ou outro, os demais se fragilizam e a degradação se amplia onde há mais vulnerabilidade.
A caatinga, considerada um dos biomas mais afetados pelas mudanças climáticas, tem metade de seu território desmatado, com 13% em estado avançado de desertificação. E não há políticas públicas para processos de recaatingamento.
Quando o bioma estava em equilíbrio, contava-se com a ação de pássaros e outros animais coletores e semeadores, que faziam a propagação das espécies. O recaatingamento requer sementes e água, dois recursos escassos em grande parte do bioma.
A alternativa ao desafio da água é a estruturação de sistemas de reciclagem. Imaginemos o reúso de água das residências servindo a processos de recaatingamento.
A solução para a escassez de sementes pode estar na capacitação de agricultores e agricultoras para que assumam esse papel de coleta, agregando aos bancos de sementes agrícolas meios adequados de armazenamento de espécies florestais.
Há iniciativas nesse sentido, mas ainda incipientes pela ausência de políticas públicas que deem condições para essa estratégia.
Um encontro de incidência política de lideranças comunitárias de municípios da Serra do Teixeira, na Paraíba, trouxe conhecimento para este tema. Maria do Carmo Learth Cunha, professora da Universidade Federal de Campina Grande (PB), fez esclarecimentos e alertas sobre os riscos e desafios pelo quais passa a caatinga.
Ela enfatizou que as sementes de espécies florestais, se coletadas com procedimentos técnicos corretos, podem ser uma alternativa de renda que se soma aos frutos da agricultura familiar.
Coletores foram capacitados em municípios e comunidades da região do médio sertão da Paraíba, mas, há um déficit de coletores e sementes pela falta de políticas que promovam essas iniciativas.
A deputada Cida Ramos (PT), participante do encontro, se comprometeu em pautar essa temática, provocando um debate na Assembleia Legislativa da Paraíba em busca de políticas públicas que possam incentivar a capacitação de coletores de sementes de espécies florestais.
Em sua trajetória de ação, o Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS) estimulou a criação e gestão participativa de bancos de sementes comunitários. A iniciativa resgatou práticas de seleção, armazenamento e preservação de sementes crioulas na região denominada "Sementes da Paixão".
Começamos com a seleção e o armazenamento de espécies agrícolas e frutíferas e, na sequência, florestais. Mas, devido à ausência de políticas voltadas ao incentivo de projetos de capacitação e estruturação dos bancos, a iniciativa não teve continuidade na parte de espécies florestais.
Os bancos de sementes assumem papel importantíssimo na valorização do saber popular, repassado de geração a geração, e são considerados estratégicos em relação às sementes transgênicas, que geram dependência e ruptura do saber popular.
O presidente da Associação Comunitária de Santo Antônio, em Matureia (PB), Severino Vasco, diz que o empréstimo das sementes do banco funciona da seguinte forma: "no período do inverno, as famílias da comunidade pegam duas garras de milho ou feijão e, quando lucram, devolvem três garrafas."
Já Jande Lúcia, da comunidade Lagoa do Campo, em Cacimbas (PB), afirma que o banco de sementes é uma conquista da comunidade. Segundo ela, simboliza "a independência do povo que valoriza a agricultura, a semente da paixão, do amor, decoração de nossa confiança em Deus, na terra e nos irmãos de caminhada."
Ajude-nos a manter essa importante iniciativa, tornando-se apoiador do CEPFS em cepfs.org.br/campanhas.
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