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A caatinga também pede socorro

Alternativas à escassez de sementes e água precisam de políticas públicas para avançar

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José Dias

Formado em ciências econômicas, é coordenador e captador de recursos do Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs). É empreendedor social da Ashoka e da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Quando se fala de meio ambiente, as mentes tendem a voltar-se para a Amazônia. Mas é necessária a atenção para os seis biomas brasileiros, da caatinga ao pampa. Quando a atenção se volta mais a um ou outro, os demais se fragilizam e a degradação se amplia onde há mais vulnerabilidade.

A caatinga, considerada um dos biomas mais afetados pelas mudanças climáticas, tem metade de seu território desmatado, com 13% em estado avançado de desertificação. E não há políticas públicas para processos de recaatingamento.

As mudanças climáticas poderão transformar a vegetação da Caatinga, tornando-a mais esparsa e rasteira até 2060
As mudanças climáticas poderão transformar a vegetação da caatinga, tornando-a mais esparsa e rasteira até 2060 - Giancarlo Zorzin

Quando o bioma estava em equilíbrio, contava-se com a ação de pássaros e outros animais coletores e semeadores, que faziam a propagação das espécies. O recaatingamento requer sementes e água, dois recursos escassos em grande parte do bioma.

A alternativa ao desafio da água é a estruturação de sistemas de reciclagem. Imaginemos o reúso de água das residências servindo a processos de recaatingamento.

A solução para a escassez de sementes pode estar na capacitação de agricultores e agricultoras para que assumam esse papel de coleta, agregando aos bancos de sementes agrícolas meios adequados de armazenamento de espécies florestais.

Há iniciativas nesse sentido, mas ainda incipientes pela ausência de políticas públicas que deem condições para essa estratégia.

Um encontro de incidência política de lideranças comunitárias de municípios da Serra do Teixeira, na Paraíba, trouxe conhecimento para este tema. Maria do Carmo Learth Cunha, professora da Universidade Federal de Campina Grande (PB), fez esclarecimentos e alertas sobre os riscos e desafios pelo quais passa a caatinga.

Ela enfatizou que as sementes de espécies florestais, se coletadas com procedimentos técnicos corretos, podem ser uma alternativa de renda que se soma aos frutos da agricultura familiar.

Banco de sementes é estratégia de ONG para recaatingamento na Paraíba
Banco de sementes é estratégia de ONG para recaatingamento na Paraíba - Divulgação/CEPFS

Coletores foram capacitados em municípios e comunidades da região do médio sertão da Paraíba, mas, há um déficit de coletores e sementes pela falta de políticas que promovam essas iniciativas.

A deputada Cida Ramos (PT), participante do encontro, se comprometeu em pautar essa temática, provocando um debate na Assembleia Legislativa da Paraíba em busca de políticas públicas que possam incentivar a capacitação de coletores de sementes de espécies florestais.

Em sua trajetória de ação, o Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS) estimulou a criação e gestão participativa de bancos de sementes comunitários. A iniciativa resgatou práticas de seleção, armazenamento e preservação de sementes crioulas na região denominada "Sementes da Paixão".

Banco de semestes é aposta contra desertificação da caatinga
Banco de semestes é aposta contra desertificação da caatinga - Divulgação/CEPFS

Começamos com a seleção e o armazenamento de espécies agrícolas e frutíferas e, na sequência, florestais. Mas, devido à ausência de políticas voltadas ao incentivo de projetos de capacitação e estruturação dos bancos, a iniciativa não teve continuidade na parte de espécies florestais.

Os bancos de sementes assumem papel importantíssimo na valorização do saber popular, repassado de geração a geração, e são considerados estratégicos em relação às sementes transgênicas, que geram dependência e ruptura do saber popular.

O presidente da Associação Comunitária de Santo Antônio, em Matureia (PB), Severino Vasco, diz que o empréstimo das sementes do banco funciona da seguinte forma: "no período do inverno, as famílias da comunidade pegam duas garras de milho ou feijão e, quando lucram, devolvem três garrafas."

Encontro de lideranças comunitárias na Paraíba debateu desafios da caatinga
Moradores do sertão nordestino foram capacitados como coletores de sementes em estratégia de recaatingamento - Divulgação/CEPFS

Já Jande Lúcia, da comunidade Lagoa do Campo, em Cacimbas (PB), afirma que o banco de sementes é uma conquista da comunidade. Segundo ela, simboliza "a independência do povo que valoriza a agricultura, a semente da paixão, do amor, decoração de nossa confiança em Deus, na terra e nos irmãos de caminhada."

Ajude-nos a manter essa importante iniciativa, tornando-se apoiador do CEPFS em cepfs.org.br/campanhas.

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