Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Pela Amazônia, convocações de boicote a produtos do Brasil começam a se espalhar

Se movimento vingar, impacto sobre o agronegócio pode ser grande

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Começam a circular nas redes sociais convocações para um boicote a produtos do Brasil por causa do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia.

A hashtag #BoycottBrazil ainda não é muito frequente, mas começa a se espalhar. Usuários do Twitter escrevem coisas do tipo (em inglês): “Não vou comprar nada do Brasil até que essa loucura acabe. #boicoteoBrasil nem vou assistir a vídeos do Ronaldo no YouTube (I am not going to buy anything from #brazil until this madness stops. #boycottbrazil I´m not even going to watch youtube videos of@Ronaldo).

Asa Cusack, editor-chefe do blog de América Latina e Caribe da London School of Economics foi na mesma linha: “#BoicoteoBrasil é uma reação natural, justificável e totalmente previsível do #RezePelaAmazônia. Se decolar, e eu espero que decole, poderia criar sérios problemas para #Bolsonaro e seus fãs míopes na elite do agronegócio (#BoycottBrazil is a natural, justifiable, and totally predictable reaction to #PrayForTheAmazon. If it takes off, as I hope it will, it could create some serious problems for #Bolsonaro and his short-sighted fans amongst the agro-elite)”.

Outros são ainda mais específicos: “#BoicoteOBrasil eles elegeram esse tirano, e a indústria de carne bovina deles é a principal causa de tudo isso. Vamos atingi-los onde dói —recusem-se a comprar qualquer produto brasileiro: café brasileiro, carne brasileira, soja brasileira.”

Alguns pedem que as pessoas cancelem suas férias no Brasil ou vendam suas ações de empresas brasileiras. E convocam um protesto a ser realizado na manhã de sexta-feira (23) em frente à embaixada do Brasil em Londres. “Proteste contra a incineração da Amazônia autorizada pelo governo brasileiro”, diz. 

Os chamados também ganham espaço em algumas publicações. Em artigo da Newsweek intitulado “Como ajudar a floresta amazônica enquanto as queimadas devastam os pulmões do mundo”, o autor aconselha as pessoas a verificarem se empresas estão envolvidas comercialmente com a Amazônia e denunciar as companhias nas redes sociais ou organizar boicotes a elas.

Um site de esquerda britânico, The Tab, pede que os leitores boicotem empresas que importam carne barata da Amazônia e peçam sanções contra carne, soja e outros produtos brasileiros que causem desmatamento. Inclusive, dá um link de empresas que devem ser boicotadas –o link direciona para o site do frigorífico Marfrig.

O italiano AmbienteBio, que tem 320 mil seguidores no Facebook, afirma: “vamos denunciar esse louco e boicotá-lo”, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.

As fotos da Amazônia que estão viralizando (inclusive as antigas, como a tuitada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, como se fosse atual, e as de incêndios em outros lugares) funcionam como combustível para essa indignação. Não se sabe se serão somente os proverbiais ativistas de internet, que só tuitam e postam, mas não agem.

Mas é bom não pagar para ver. Nos anos 80, a Rainforest Action Network fez uma campanha de boicote ao Burger King porque a rede de fast food estava comprando carne de áreas de floresta na Costa Rica que haviam sido desmatadas. Mesmo antes das redes sociais e da internet, a pressão funcionou –a empresa cancelou contrato de US$ 35 milhões com produtores costa-riquenhos.

As campanhas contra o apartheid na África do Sul também começaram como mobilização popular, liderada por exilados.

Na época, o ex-presidente da Tanzânia e ativista anti-colonialista Julius Nyerere afirmou: “Não estamos pedindo nada muito especial para vocês, cidadãos britânicos: só pedimos que vocês deixem de apoiar o apartheid parando de comprar produtos sul-africanos”.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, demonstrou ter noção do estrago que um movimento desses pode causar para a economia brasileira.

“É importante para mantermos forte nossas exportações do agronegócio e preservar o nosso meio ambiente“, disse Maia nesta quinta-feira, ao anunciar a criação de uma comissão para acompanhar o problema das queimadas na Amazônia.

O pior é que, assim como acontece com as sanções, quem mais sofre com os boicotes não são os governos, mas, sim, a população.

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