Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Reunião conservadora no Brasil promete turbulências na esquerda e na direita

Na Austrália, legisladores de esquerda pediram que um participante fosse impedido de entrar no país

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A reunião da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora) no Brasil, anunciada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, deve causar turbulências na esquerda e na direita.

Tida como o maior evento conservador do mundo, a reunião será realizada nos dias 11 e 12 de outubro em São Paulo.

Nos Estados Unidos, a reunião da CPAC é a mais importante congregação de políticos conservadores. Já teve a participação dos ex-presidentes Ronald Reagan e George W.Bush, Donald Trump é habitué e é um teste para políticos de direita que querem se eleger.

O presidente dos Estados Unidos, DOnald Trump, discursa durante a edição 2017 da CPAC
O presidente dos Estados Unidos, DOnald Trump, discursa durante a edição 2017 da CPAC - Kevin Lamarque - 24.fev.17/Reuters

Considerando a repercussão da reunião da filial australiana da CPAC, podemos contar com polêmicas na certa no Brasil.

Na Austrália, a CPAC acabou de ser realizada, nos dias 9 e 10 de agosto. Teve convidados como Nigel Farage, o mister Brexit, uma âncora da Fox News, congressistas americanos do Partido Republicano, legisladores australianos de direita, e Matt Schlapp.

Schlapp é presidente da União Conservadora Americana, entidade organiza a CPAC. Ele participou da chamada santa ceia da direita da embaixada brasileira, que promoveu encontro do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, com pensadores conservadores durante sua visita a Trump, em março. Schlapp está confirmado para o evento brasileiro.

Legisladores australianos da oposição pediram que fosse negado o visto de entrada para um dos participantes, o ativista britânico de direita Raheem Kassam, ex-editor-chefe do Breitbart News em Londres. 

“(Kassam) descreveu o Alcorão, o livro sagrado do islamismo, como ‘fundamentalmente maligno’. Não deveríamos permitir que extremistas de carteirinha –uma pessoa que espalha discurso de ódio sobre muçulmanos, mulheres e gays– entrem em nosso país com a intenção de minar a igualdade e a equidade”, disse à imprensa local a senadora Kristina Keneally, do partido Trabalhista.

Kassam é conhecido por suas declarações agressivas. Apesar de ter crescido como muçulmano, é bastante crítico à religião. Em junho de 2016, escreveu no Twitter, e depois apagou, que Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, “deveria ter sua boca tapada e suas pernas fechadas, para que não pudesse se reproduzir”.  Descreveu o Islã como “uma ideologia fascista e totalitária” em entrevista à BBC. 

Kristina atacou a conferência como um todo. “CPAC pode ter um nome inocente, mas definitivamente não é inocente; o evento marca a normalização da extrema direita na Austrália”, disse.

E pediu que Kassam fosse barrado no país, a exemplo do que aconteceu com o comentarista político e polemista profissional Milo Yiannopoulos. Em março, ele foi impedido de entrar na Austrália, por causa de seus comentários nas mídias sociais sobre o massacre nas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia.

Um pequeno grupo fez um protesto em frente ao local do evento.

“A CPAC é racista e sexista e não é bem-vinda aqui”, diziam.

Políticos de direita acusaram a senadora de tentativa de censura e rechaçaram as críticas à CPAC.

“Ideias assustadoras, pessoas conversando, pessoas externando seus pontos de vista, opiniões e ideias. Eu sei, é um conceito muito assustador para a esquerda”, disse Mark Latham, do partido nacionalista Uma Nação.

A senadora Keneally “não sabe a diferença entre discurso de ódio e discurso que ela odeia”, disse a senadora liberal Amanda Stoker durante a conferência, segundo o Epoch Times.

Até Donald Trump Jr, filho do presidente Trump, se pronunciou no Twitter, entoando o mantra da direita de defesa de liberdade de expressão.

“Já temos as big techs constantemente tentando silenciar os conservadores, agora um dos maiores partidos políticos na Austrália está tentando silenciar Raheem Kassam por causa de suas opiniões conservadoras.”

No Brasil, ainda há mistério sobre a lista de participantes na CPAC. Mas, certamente, figuras polêmicas devem estar no line-up. A ver como será a reação, da esquerda e da direita.

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