Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Enquanto Brasil insiste no amor bandido com os EUA, China salva o pré-sal

Chineses lançam ofensiva de charme e investimento para conquistar Bolsonaro

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Os Estados Unidos querem bloquear no grito a entrada da gigante chinesa Huawei no Brasil, enquanto os chineses apostam nos gestos estratégicos para agradar o governo Bolsonaro.

Nesta semana, como revelou reportagem na Folha de Júlio Wiziack e Nicola Pamplona, a China salvou o megaleilão do pré-sal de um fiasco ainda maior.

Para evitar a ausência de interessados estrangeiros no leilão, o presidente Jair Bolsonaro pediu ao dirigente da China, Xi Jinping, que as petroleiras chinesas participassem do certame.

O pedido ocorreu durante a visita de Bolsonaro à China, em outubro. Naquele momento, o governo brasileiro já temia que não houvesse interesse estrangeiro pelos campos leiloados.

O dirigente chinês, Xi Jinping, em cerimônia para receber o presidente Jair Bolsonaro em Pequim
O dirigente chinês, Xi Jinping, em cerimônia para receber o presidente Jair Bolsonaro em Pequim - Ding Lin - 25.out.19/Xinhua

As petroleiras CNOOC e CNODC, controladas pelo governo chinês, entraram com participação de 5% cada uma no consórcio que arrematou o campo de Búzios.

Durante o tsunami de críticas internacionais contra a política ambiental de Bolsonaro para a Amazônia, a China foi, mais uma vez, um ombro amigo.

O número dois da embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, afirmou na época ao jornal O Globo que a política ambiental do Brasil era uma das mais rigorosas do mundo e a crise era fabricada.

Já os EUA apostam no amor bandido com o Brasil. Apesar das seguidas juras de amor –algumas literais– de Bolsonaro, os americanos têm repetidamente esnobado os pedidos brasileiros.

Vamos recapitular: o país abriu mão do tratamento especial e diferenciado na OMC (Organização Mundial do Comércio) a pedido dos Estados Unidos, que querem modificar o mecanismo para não dar uma vantagem injusta à China em negociações comerciais.

Em troca, Trump anunciou apoio às ambições brasileiras de iniciar o processo de entrada na OCDE, o clube dos ricos. O governo de Bolsonaro vê a entrada no órgão como um selo de qualidade de políticas macroeconômicas.

Como viemos a saber, o apoio de Trump à entrada do Brasil na OCDE se limita ao Twitter.

Em agosto, em carta à organização, Washington reiterou o apoio às candidaturas de Argentina e Romênia na OCDE, mas se opôs a uma ampliação maior no número de membros do órgão, o que, na prática, solapa as ambições brasileiras.

O Brasil ampliou e renovou neste ano cotas sem tarifa para importação de etanol e trigo, reivindicações americanas. E o que recebeu em troca? Expectativas frustradas.

Os EUA não removeram as barreiras sanitárias que impedem a importação de carne bovina in natura nem anunciaram modificações na proteção do açúcar americano, outro pedido brasileiro.

Por fim, nesta semana, o Brasil cedeu às pressões dos EUA e votou pela primeira vez em 27 anos contra a resolução anual da ONU que condena o embargo econômico americano a Cuba.

Apenas Israel e Estados Unidos votaram da mesma maneira que o Brasil.

A guerra fria tecnológica entre China e EUA está por trás de toda essa movimentação. Aí, também, os EUA tentam ganhar no grito, sem fazer nenhum agrado ao Brasil.

O governo Trump fez inúmeros pedidos ao governo Bolsonaro, nos mais diversos níveis, para que o país impeça a entrada da chinesa Huawei no 5G, que deve ter leilão no segundo semestre do ano que vem.

Países como Austrália, Nova Zelândia, Japão, Taiwan e Vietnã já se renderam às pressões americanas para vetar investimentos da Huawei.

Os americanos argumentam que os países podem comprar a mesma tecnologia da Samsung ou Ericsson, ainda que seja um pouco mais cara, e assim garantir que Pequim não irá ameaçar a segurança nacional.

No entanto, enquanto os chineses oferecem generosas ofertas de financiamento do Banco de Desenvolvimento da China para os projetos da Huawei, como vem ocorrendo no Nordeste, os americanos pressionam o Brasil a comprar dos concorrentes da chinesa, sem oferecer nenhum financiamento subsidiado.

Haja amor bandido.

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