A greve de caminhoneiros parou o país, mudou a rotina dos brasileiros e atingiu a relação do leitor com a Folha.
Na capital e na Grande São Paulo, na terça-feira (29), cerca de 30% dos distribuidores do jornal não tiveram condições de cumprir o trabalho, de acordo com a direção da Folha. No restante do país, os exemplares não foram entregues em 70% das rotas terrestres (estados de SP, RJ, MG, PR e cidades de Florianópolis e Campo Grande). A distribuição só foi normalizada na quinta-feira, 31.
Sem o jornal na porta, mas em busca de orientação e entendimento sobre a greve, muitos assinantes tiveram uma nova experiência de leitura, via aplicativos e site da Folha.
Um dos aplicativos é a simples reprodução fac-similar da versão impressa. Permite ler o jornal como se estivesse folheando o papel. O outro é equivalente ao site do jornal. Publica textos e imagens produzidos durante o dia, indo além do noticiário impresso. Todo assinante tem acesso a ambas regularmente. É normal que essas versões tenham sido mais acessadas nos dias da crise.
Considerando a versão fac-similar, persistem as reclamações de leitores em relação à dificuldade de carregar as páginas e de ampliá-las (zoom).
Muitas das opções gráficas do jornal impresso não funcionam ou são de visualização difícil ou prejudicada no computador ou celular. O novo projeto gráfico privilegia a diagramação de páginas duplas, que só funciona no papel.
O leitor Marcelo Martins exemplificou: "Acho bacana quando a Folha testa novos formatos de editar matérias. A capa da ilustrada de 23/5 foi um belo exemplo. A fita cassete e o texto editado ao lado. Uma beleza —se você está com o jornal impresso. Se é um leitor do jornal no computador, posso adiantar que não é muito prático virar o seu notebook lateralmente. Também acho pouco viável ter um torcicolo para ler a bela matéria. O jornal fala tanto de sua edição digital, mas ainda pensa apenas para os leitores do papel."
Outro exemplo criticado por leitores foi o fato de que quem buscava notícias da greve no aplicativo da versão impressa só encontrava o noticiário depois de folhear todo o jornal. O caderno Mercado aparecia só depois da Ilustrada.
A dimensão da paralisação e a necessidade de dar muitas informações a todo minuto obrigaram a Folha a optar por uma modalidade de cobertura conhecida como live blog —identificada no site como Ao vivo. Trata-se do relato em tempo real de acontecimentos, por meio de publicações curtas e constantes.
Segundo o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, o Ao Vivo ficou no ar oito dias ininterruptamente, entre 24 e 31 de maio, com equipes deslocadas para madrugada na Redação e na rua. "O recurso editorial tem como objetivo publicar pílulas, extratos de reportagens e de colunas para que o leitor navegue por elas e tenha um panorama do que ocorre em uma cobertura com várias frentes. Em 182 horas no ar, foram 879 postagens. O serviço foi alimentado por toda a Redação e teve como foco a produção digital e a prestação de serviço em tempo real", disse.
A Folha registrou uma audiência excelente nos dias de greve, afirmou o editor-executivo. "Quando há notícia importante, inesperada, de impacto, os internautas correm para o site do jornal. Não foi diferente desta vez: eram pessoas que queriam o noticiário mais quente, mas também serviço, análise e interpretação. Fechamos maio com 35,9 milhões de UV (usuários únicos). No mês, foram 243 milhões de visualizações de páginas, superando abril, mês da prisão do ex-presidente Lula. Boa parte dos acessos foi direcionada para o Ao Vivo, serviço relevante que a Folha oferece em situações como a da semana passada".
Se essa modalidade tem a vantagem de agilizar o noticiário com a publicação imediata das notícias produzidas, a frequência e o volume de texto dificultam a hierarquização e a compreensão do panorama geral dos acontecimentos. Não raro o conjunto das publicações ao vivo resulta em uma sucessão de reportagens desarticuladas, sem que exista uma tentativa de ligar os fatos.
A introdução da cobertura com texto que apresenta o tema, mas não necessariamente destaca o mais importante, gera ruído na leitura de quem está acostumado à hierarquização clássica das informações.
Na última segunda-feira, por exemplo, o texto de abertura começava com uma notícia de domingo à noite e assim ficou por muito tempo.
A pressa com que os textos são frequentemente redigidos transparece no resultado final: contêm erros, carecem de linha de narrativa e são desiguais na qualidade da apuração, no enfoque e na redação.
A longa paralisação dos caminhoneiros levou a experiência da cobertura ao vivo ao extremo, iluminou suas dificuldades e lançou imensos desafios.
Um mundo novo se estende aos leitores do jornal, mas ainda está longe de ser admirável.
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