Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Pedro Hallal

O incrível fracasso da Suécia na pandemia de Covid-19

Aprendi com a minha avó que 'uma mentira, mesmo que contada 1.000 vezes, continua sendo mentira'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Suécia é o quinto maior país da Europa, embora sua população seja de apenas 10,4 milhões de pessoas. A combinação de uma grande área territorial com uma população relativamente pequena faz com que a densidade populacional seja de apenas 25 habitantes por quilômetro quadrado. A capital é Estocolmo e 87% da população sueca reside em área urbana. A expectativa de vida na Suécia é de 82 anos e o país tem um dos menores índices de desigualdade social do planeta. A taxa de alfabetização supera os 99%.

Exceto em 1958, quando conquistamos nossa primeira Copa do Mundo em solo sueco, o Brasil nunca ouviu falar tanto da Suécia como agora, durante a pandemia de Covid-19. Isso porque uma turma ideológica, sem qualquer compromisso com a ciência (ou com a verdade), passou a citar a Suécia como exemplo de enfrentamento da Covid-19. Isso porque a Suécia, lá no início da pandemia, optou por um isolamento vertical (isolar apenas os grupos de risco), apostando na tal imunidade de rebanho para vencer a Covid-19. O mais interessante é que desde junho de 2020, o epidemiologista que desenhou essa estratégia veio a público assumir o erro, pedindo desculpas ao país e admitindo que a estratégia causou mais mortes do que seria esperado.

Clientes em restaurantes em Estocolmo, na Suécia, após restrições nos horários de funcionamento serem levantadas - Stefan Jerrevang - 1°.jul.2021/TT News Agency/AFP

Mas aqui no Brasil, alguns parecem fingir que nada disso aconteceu, e seguem citando a Suécia como exemplo no enfrentamento da pandemia. Até na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, a Suécia foi citada como “case” de sucesso. Vamos aos fatos. O gráfico mostra a mortalidade por 1 milhão de habitantes nos cinco países escandinavos.

Comparativamente com os outros países da região, a Suécia é, disparadamente a pior. A mortalidade acumulada na Suécia é de 1448 mortes por 1 milhão de habitantes. Na Dinamarca, essa mortalidade é de 438 por 1 milhão. Na Finlândia, Noruega e Islândia, a mortalidade é inferior a 200 por 1 milhão.

Como pode alguém vir a público citar a Suécia como modelo no enfrentamento da Covid-19?

Quando a defesa de uma ideia insiste em contrariar a realidade, estamos lidando com política, e não com ciência.

Eu tenho dois amigos que vivem na Suécia. Um é brasileiro, ex-jogador de futsal, e hoje treinador da modalidade. O outro é um pesquisador sueco, que inclusive já veio a Pelotas e apreciou um bom churrasco gaúcho. Ambos me dizem as mesmas coisas: a Suécia é um lindo país, apesar do inverno rigoroso. É um país seguro, onde a educação é levada a sério. É um país que respeita o mercado, mas com ótimas instituições e políticas de estado.

Falar bem da Suécia é algo natural. Muita gente gostaria de viver num lugar assim.

Agora, citar a Suécia como exemplo no enfrentamento à Covid-19 é, no mínimo, um grande erro.

Lembro de aprender com a minha avó Léa, falecida há dois anos: “Uma mentira, mesmo que contada 1000 vezes, continua sendo mentira”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.