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Pandemia trouxe cenário de fome e desespero aos brasileiros

Isolamento aumentou obesidade, mas também ansiedade em quem não tem a certeza de comida na mesa

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Geovanna Dias

Tem 19 anos e é estudante de nutrição na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Em 2020 nos deparamos com uma situação inesperada: a pandemia, que trouxe uma enorme quantidade de mortes e desemprego. Isto resultou em um cenário de fome, obesidade, desnutrição, ansiedade, desabrigo e, para muitos, desespero.

Fomos obrigados a viver isolados em casa sem saber com exatidão o que estava acontecendo, sem previsão de quando a conjuntura melhoraria, até quando as empresas manteriam seus funcionários, se nossa família sobreviveria e, principalmente, quando sairia a vacina.

Em meio a tantas dúvidas, em um cenário que pode ser pior para uns do que para outros, milhares de mortes por dia e quase nenhuma resposta, existe ainda a dificuldade de acesso a comida. Alimentar-se deveria ser uma certeza diária.

De uma coisa temos certeza: sentimos fome e a única coisa que a alivia é comer, obviamente. Durante o isolamento, nos deparamos com duas situações divergentes. Estudos demonstraram que a quantidade de clientes consumindo fast-food por aplicativos aumentou como nunca. Quem teve condição de arcar com o custo de uma alimentação, saudável ou não, comeu mais do que o “normal” nesta pandemia, e a obesidade foi destacada por algumas pesquisas. A ansiedade também apareceu como uma das doenças que tiveram aumento significativo.

O famoso “VR”, vale-refeição ou vale-alimentação, recebido por trabalhadores de carteira assinada, foi o que permitiu a muitas famílias arcar com o custo de ter todos em casa por um período maior, e claro, comendo. Jovens que antes permaneciam durante a maior parte do dia nas instituições de ensino passaram a fazer todas as refeições em casa. Isto foi, para muitos, o início do desespero.

Vimos que em aspectos financeiros a pandemia foi destrutiva para muitas empresas e para o mundo em geral. O Brasil é um país absolutamente desigual e não deixou de sê-lo neste momento tão delicado. Muito pelo contrário, a pandemia só ajudou a aumentar essa condição. A alta do desemprego diminuiu a renda das famílias brasileiras, que passaram a contar com o auxílio emergencial, inicialmente cotado em R$ 600 —o que foi estritamente necessário, mas nunca garantiu o bem-estar da população mais vulnerável financeiramente.

Alguns estados se organizaram para distribuir alimentos na casa dos alunos de escolas públicas, visando manter a segurança alimentar deles e de suas famílias. O auxílio emergencial foi de grande ajuda, mas teve organização precária, como o cadastro em plataformas virtuais que desconsiderou famílias que não têm acesso à internet.

Algumas cartilhas foram publicadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e pelo Ministério da Saúde. As recomendações contidas nos documentos esclarecem que uma boa alimentação e uma saúde estável, sem muitas alterações e sem doenças pré-existentes, poderiam ser fatores decisivos para a evolução leve da Covid-19. Além disso, obesidade e doenças respiratórias poderiam ser agravantes.

O vírus não escolhe se vai infectar pobre ou rico, mas é um consenso que, para quem possui meios de se prevenir o máximo que puder, trabalhando em home office, se alimentando bem, fazendo terapia, se consultando com seus médicos online e contando com os serviços de seus empregados para ir ao mercado e desinfetar suas compras, é muito mais fácil escapar.

Isto é muito diferente da realidade de quem foi demitido ou teve o seu salário reduzido ou para quem conta com os hospitais de campanha que praticamente não saíram do papel ou os respiradores errados comprados. Para os familiares desesperados que foram impedidos de recorrer à imprensa por guardiões da prefeitura e para quem não tem nem água em suas casas para ao menos seguir as regras de higienização. Além, é claro, da falta de acesso à internet, que fez muitos dos moradores de regiões periféricas recorrerem à rede de vizinhos e amigos...

Em um país tão desigual como o Brasil, é incoerente que não haja nenhum planejamento viável para assegurar o que é previsto em lei. E que nem deveria precisar dessa previsão, pois se trata de uma condição de sobrevivência básica, como a alimentação. Esse direito tem sido “cumprido” com esplendorosa vergonha e descaso.

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