Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

Da favela para a Folha

Venho para trazer uma visão mais orgânica das massas invisíveis e dos territórios de onde viemos

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Sou filho da Dona Fátima e do Chico Macumbeiro, nascido e criado na favela das Quadras, quando tudo era barraco e lama. Vieram do interior, buscando vida melhor na capital.

As responsabilidades de adulto os perseguiam. Trabalharam desde cedo, ela doméstica, ele pintor. Essa história também é minha. Meu pai exaltava o fato de trabalhar desde os 9 anos. Minha mãe criou cinco filhos. Nos protegeu e nos ensinou a sobreviver nas ruas, onde muitos dos nossos morreram ou foram presos. A vida na favela é disputa de prioridades.

Acabei reproduzindo o ciclo do meu pai e cedo fui trabalhar nas ruas, onde me formei e fiz meu doutorado nas quadras para enfrentar o mundão. A vida era vivida a curto prazo. Chegar em casa com notas de dinheiro adiantava mais do que as notas azuis da escola.

Vivi os bailes funks, disputas das galeras de rua, pichação e toda uma selva de caminhos. Nos labirintos de um quarto escuro, buscava me identificar e pertencer a algo. O hip-hop me deu identidade e apontou caminhos. Mas eu queria mais.

Participei de movimento antirracista, estudantil, partidário, cultural. Sentia a necessidade de ampliar os horizontes e de ser radical nas soluções, algo que a desigualdade impõe à gente que vem de onde eu vim.
Quando lavava carro nas ruas, já envolvido com o rap nas favelas de Fortaleza, conheci Celso Athayde. Posso contar minha vida antes e depois dele.

Convidou-me para a Cufa e me disse que eu seria uma das maiores referências do país oriundas das favelas. Em 2012, assumi a direção nacional e, em 2015, a articulação mundial da Cufa Global. Nosso pragmatismo chamava para uma agenda de soluções para as favelas. A formação em massa de lideranças me dava esperança de poder construir uma rede em que a favela fosse protagonista do seu destino. E assim seguimos, na luta incansável de produzir um olhar próprio de mundo.

O pretinho que lavava carro nas ruas de Fortaleza hoje é produtor, escritor, compositor, empresário e engajado na luta por um mundo melhor e mais justo.

Com a pandemia, voltei à Cufa Brasil. Moro há um ano em São Paulo, onde piloto uma rede presente em mais de 5.000 mil favelas, com mais de 40 mil pessoas engajadas, que produz soluções, fortalece ainda mais a potência desses territórios e já atendeu 30 milhões de pessoas.

Chego como colunista da Folha para sentar à mesa dos grandes debates, para trazer uma visão mais orgânica das massas invisíveis e dos territórios de onde viemos, lembrados só quando há problemas e tragédias.

Minha presença aqui é a presença dessa gente escura, de uma safra da favela que rompe o cativeiro da ideia de carência e traz a sua energia e potência. Estamos na pista!

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