Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

José, o professor!

A cada momento existe uma criança dentro de cada um de nós que precisa ser ativada

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Meu filho José tem seis anos. Sabido, gosta de videogames, ciência e música. Já toca muitas no teclado, mas "Asa Branca" é a preferida. Ele quer ter três canais na internet para colocar suas canções, comentar jogos online e expor suas experiências científicas. Na escola, tem bom desempenho, não tem dificuldade de se empenhar em nada e dá muitas lições para mim.

No último final de semana, saí de São Paulo e, aproveitando o clima de Dia das Crianças, fui para Fortaleza para conviver com ele e rever amigos e parentes na minha terra natal. Animado e com saudades, José me falou sobre muitas coisas, como as figurinhas da Copa que íamos comprar e trocar para preencher álbuns.

Eu e sua mãe fomos para sua exposição sobre poluição marítima, que foi maravilhosa. A felicidade de nos ver ali me trouxe a ideia da presença, tão fundamental na vida de uma criança, e de como ele me provoca a aprender a dar o que não tive. Falo isso porque nunca soube qual é a felicidade de ter meu pai ou minha mãe na escola para verem meus trabalhos. A luta diária os privou desse convívio.

No domingo, era dia de ir à praia, curtir um pouco a rua e, sabiamente, ele me convidou para jogos como quebra-cabeças. A ideia era que ambos largássemos a tela do celular. "Papai, vamos nos conectar na brincadeira, né?" Isso mesmo, filho!

Depois, colocamos a bermuda, chinelo e fomos para a praia. José já sabe nadar, mas pediu para ir até mais fundo porque a praia estava calma. Lá, ele perguntou onde estavam os outros pais da crianças.

Senti que ali ele falava da falta de um pai na vida e no cotidiano infantil, e eu cresci vendo uns simplesmente sumirem e outros que não participavam de nada da vida do filho. E isso tem muito de uma sociedade que nos priva da paternidade, baseada em divisão social do trabalho privado para mulheres e a cena pública para homens.

Eu o convidei para nadar e ele, que é competitivo ao extremo, disse que dessa vez ia montar nas minhas costas e íamos juntar os poderes para ir mais rápido que o mar. Eu ri e entrei literalmente na onda.
Depois, fomos comer e, enquanto eu cortava a comida, ele disse "papai, obrigado, eu amo você" e me deu um beijo seguido de um abraço.

Nesse dia tão afetivo, José me lembrou muito das coisas que eu nunca tive quando era criança, que me faltam no exercício da paternidade, que sofro por não estar mais presente devido à vida corrida e por morar em outra cidade. A cada momento, por menor que seja, existe uma criança dentro de cada um de nós que precisa ser ativada. Essa lição meu filho me dá sempre. Te amo, filho! Obrigado por me fazer ser um pai e ser humano melhor.

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