Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

Livramento: uma aula!

Anseios da população são por comida, renda, paz e até ajuda na lida com banco

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Dona Livramento eu conheci durante a pandemia. É uma senhora guerreira e lutadora, com senso de humor ímpar e uma percepção e forma de ler a realidade que me encantam.

Nesta segunda (3), falava com ela sobre a saudade dos parentes do Nordeste, e ela me lembrando de como era tudo em Juazeiro do Norte, onde temos raízes maternas e paternas, daí nosso ponto comum. Nordestino vivendo em SP quando se encontra adora essa nostalgia.

Conversamos sobre tudo e de maneira bem aleatória, ela me contando que a carestia está grande, que "não se enche mais carrim de compra, tá mais fácil comprar as coisas na feira".

Ela me revelou seu medo das confusões da política, que está igual na igreja dela, "o povo brigando, e eu sem saber a diferença entre as religião, Preto! Para que isso, se Deus é um só, e a casa dele é para todos?".

Seu medo maior era a violência e as drogas, que estão aumentando, que ela tem medo de que a sobrinha "se perca no mau caminho ou se envolva com gente errada e pegue um bucho (engravidar) novinha e fique com filho sem pai por aí".

Perguntei como iam as vendas dos pratinhos, ela disse que como não está com condições de ir ao baile funk vender. "As coisas pioraram, eu tô me salvando com o auxílio, mas só dá pro básico. Esses bailes era minha fonte de renda, mas tem gente que não gosta muito, porque fala muita imoralidade, droga e faz a zuada da peste, eu entendo, mas tenho que sobreviver".

Dona Livramento é daquelas que do nada cantam louvores. Toda feliz, contou que aprendeu muita coisa depois que entrou para igreja. "Larguei o cigarro e a bebida, aprendi matemática lá, porque eu tinha que saber como tirar o dinheiro do dízimo, e a ler também, porque eu tinha que ler a palavra".

Sobre política, disse que não foi votar no primeiro turno. "Quem manda em mim, sou eu, não é pastor nem macho." Mas quer saber o que os candidatos têm para a sua vida: "Preto, os candidato fala muito difícil, e eu num quero nada demais, tô precisando pegar um dinheiro para ajeitar meu carrim de lanches. Os bancos têm muita burocracia. Quero colocar a sobrinha numa escola melhor e ter saúde, o resto eu me viro. Os políticos deviam pensar como resolver a vida da gente".

Despedi-me, pensando que a política precisa dar respostas para problemas reais da vida de gente comum, que precisa se produzir horizonte de sonho, perspectiva de futuro, aprendendo com o passado fincado com as respostas do presente.

Mulheres como Dona Livramento existem aos milhões, com demandas, preocupações e soluções improvisadas para sobreviver num Brasil precário. Querem comida na mesa, dinheiro no bolso e paz onde prevalecem desordem e lei do mais forte. Veremos quem ganha o voto dela.

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