Presidente, eu estive com o senhor por várias eleições, tentando pautar a política da favela. Em 1994, eu, Mano Brown, Lamartine, só para citar alguns. Em 1998, fui até o senhor, dessa vez na minha cidade, Fortaleza, e, em 2002, o senhor convidou MV Bill para compor o primeiro conselho da juventude, do qual eu era suplemente e Bill, por motivos de trabalho, não pôde compor e eu fiquei no seu lugar por duas gestões.
Sempre tentamos trazer novas inteligências e mostrar ao poder público o que se produziu de bom fora do aparato de Estado e que poderia inspirar as políticas públicas. Não acreditamos que as ONGs substituem governos, mas o bom gestor é o que persegue bons resultados quando dirige a máquina, ouve a sociedade e incorpora o que ela demanda. Gestores passam, a política pública fica, por isso lutamos por políticas de Estado, não de governos ou de partidos. O senhor foi sindicalista e sabe a importância de políticas sustentáveis independentemente de gestores.
Nos anos seguintes, ganhamos importância a ponto de realizarmos em nossa sede encontro com os presidenciáveis, e levamos o senhor à quadra da escola de samba de Jacarepaguá, na Cidade de Deus. Para o senhor ouvir a favela, desta vez no seu habitat natural.
Levamos outros presidenciáveis a nossa sede central no viaduto de Madureira, para apresentar a pesquisa sobre um País Chamado Favela, o primeiro diagnóstico econômico das favelas após seus governos.
Ao receber o relatório de transição e apresentar uma leva de ministros --alguns que nos animaram, como Margareth Menezes, Anielle Franco e Sílvio Almeida--, o senhor disse que não precisava de tapinha nas costas, e sabe bem que nós pensamos assim. Por vezes alertamos o governo do aumento da criminalidade entre crianças e adolescentes e, quando o crack estava tomando o Brasil, apresentamos um plano de prevenção.
O senhor volta ao Palácio do Planalto num país polarizado que precisa de respostas sociais e econômicas bem diferentes de 20 anos atrás.
Ontem, o chef Edson do Gastronomia Periferia, um jovem do jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo, falou para milhões sobre a fome que assola os lares. Mesmo com o Bolsa Família voltando e a grana para as crianças, pensamos ser importante manter uma campanha emergencial para garantir as refeições de milhões de brasileiros.
Já levamos ao ministro Fernando Haddad a sugestão de recriação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. E sugerimos a criação da Secretaria das Favelas, para colaborar com as políticas públicas a partir desses territórios.
Um feliz ano novo para o senhor e o vice-presidente Geraldo Alckmin, desejando êxito e torcendo sempre pelo nosso país. Lembranças das favelas.
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