Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Descrição de chapéu Todas Enem Fies

O fracasso do Enem

Com os números divulgados pelo Inep, é possível verificar disparidades entre as unidades federativas

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No último mês de novembro, 2,7 milhões de pessoas realizaram as provas do Enem. Essas pessoas dedicaram dois fins de semana para participar, mais todo o tempo de preparação. Dois meses depois, os resultados estão disponíveis, e elas podem começar a usar suas notas em processos seletivos em instituições de ensino superior públicas e privadas pelo Brasil, e até algumas no exterior.

À época das provas, escrevi aqui nesta coluna sobre quão poderoso é este exame. Há anos, o Enem exerce um poder de suscitar discussões e críticas da sociedade. Com a divulgação dos resultados essa semana, a onda de críticas ganha força novamente. Nas redes sociais, se encontram diversos questionamentos sobre o método de cálculo das notas, que segue a TRI (Teoria de Resposta ao Item). O método é, de fato, complexo, mas não significa que ele está errado.

O presidente Lula, acompanhado do ministro da Educação Camilo Santana e do Presidente do Inep, Manuel Palácios durante visita à sede do Inep no dia do Enem - Pedro Ladeira/Folhapress

Para além de dominar várias rodas de conversa, o verdadeiro poder do Enem reside no potencial de ser uma ferramenta transformadora para milhões de estudantes. Ele é uma ponte que vem sendo reforçada ao longo dos anos para conectar jovens (e nem tão jovens) ao ensino superior.

Nessa ponte, porém, não cabe todo mundo. Quase um terço dos concluintes do ensino médio sequer se inscreveram para realizar a prova. Muitos dos que se inscrevem acabam faltando nos dias da prova. Considerando as faltas, apenas metade dos concluintes participaram efetivamente do Enem 2023.

Com os números divulgados pelo Inep, órgão responsável pela elaboração e execução das provas, é possível verificar que há grandes disparidades entre as unidades federativas. Os estados com maior participação dos concluintes do ensino médio foram Ceará e Goiás, em que, respectivamente, 8 e 7 entre cada 10 concluintes participaram do Enem. Estes estados têm realizado ações de mobilização para incentivar a inscrição. Já em São Paulo, foram apenas 4 entre cada 10, com uma proporção ainda menor se considerada apenas a rede pública.

É certo que uma parte daqueles que não buscam o Enem já têm outros planos bem estabelecidos para suas vidas. Mas não dá para supor que esse é o caso da maioria, tampouco que não haja um recorte sócio-racial sobre quem fica de fora do exame.

Além de necessidades financeiras que levam jovens a não continuar os estudos, existe o descontentamento com a escola. Passar anos recebendo uma educação desalinhada com a vida prática mina a motivação de seguir estudando. Soma-se isso às falhas de informação: muitos não vislumbram o retorno salarial que uma faculdade ainda tem na nossa sociedade.

O Enem ainda tem grande potencial de exercer seu poder de transformação social. Mas se não for capaz de incluir quem mais precisa, estará fadado ao fracasso.

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