As pessoas que menstruam são constantemente lembradas dos tabus associados à menstruação. Meninas desde sua menarca, que é a primeira menstruação, são levadas a sentir insegurança, medo e vergonha de menstruar. São condicionadas a esconder a todo custo seu período menstrual, ligado a sujeira e impureza, e meninos são ensinados que esse é um assunto proibido.
A estigmatização da menstruação na sociedade ignora que esse é um processo cíclico, natural e esperado. Não há nada de anormal ou sujo em menstruar, mas a perpetuação dos mitos corrobora o aumento de discriminação que afeta a vida de tantas meninas, mulheres, pessoas trans e não binárias que menstruam.
O silêncio sobre o assunto leva ao apagamento no âmbito público, acarretando desinformação, escassez de dados e de políticas públicas. Não há dados direcionados para mapear a pobreza menstrual, fenômeno caracterizado pela falta de acesso a produtos adequados para o cuidado da higiene menstrual, infraestrutura, serviços e informações sobre o funcionamento do próprio corpo.
Há pessoas que precisam recorrer a materiais impróprios para absorver a menstruação, como jornais ou miolo de pão, o que as coloca em risco fisiológico e infecções. No caso de meninas e adolescentes em idade escolar, a pobreza e o estigma da menstruação podem levar a absenteísmo e efeitos negativos à saúde mental, afetando sua escolarização.
Mais de 4 milhões de meninas frequentam escolas com privação de ao menos um item mínimo de higiene, como banheiros, papel higiênico e sabonete para as mãos. Apesar da escassez de dados oficiais, pesquisas apontam a menstruação como uma das principais causas das faltas das meninas à escola, com prejuízos à aprendizagem.
Entre os esforços para mitigar os efeitos desse problema foi criado o Programa Dignidade Menstrual, que neste Dia Internacional da Mulher completa um ano. O programa, multiministerial, começou neste ano a distribuir gratuitamente absorventes para a população elegível. O foco são pessoas de baixa renda registradas no Cadastro Único e matriculadas na rede pública de ensino, que estejam no sistema penal ou em situação de rua. O programa também prevê estratégias de qualificação de agentes públicos e educação da população sobre a menarca, prevenção de infecções e combate aos estigmas.
Começar a tratar a menstruação como um processo natural é um passo necessário para garantir que todas as pessoas tenham acesso a recursos básicos como absorventes. Direitos fundamentais como acesso à educação, saúde e equidade de gênero não serão completos sem a garantia à dignidade menstrual.
Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.